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Comida do Brasil 'invade' Londres e NY e tem tudo para conquistar o mundo
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Está na hora da nossa gente talentosa mostrar seu valor: talvez o Brasil nunca tenha estado em uma posição tão propícia para exibir para o mundo a sua rica gastronomia.
Uma leva de novas aberturas de chefs brasileiros no exterior e o maior reconhecimento de outros cozinheiros do país lá fora podem representar um banquete promissor para que a diversidade da cozinha brasileira seja finalmente vista com mais atenção no mundo.
Não se trata de papo ufanista, nem mesmo de retórica carregada de otimismo. A ideia de uma mesa brasileira reduzida à feijoada, ao pão de queijo e ao churrasco está ficando para trás — ainda bem.
Bossa londrina
O Bossa, restaurante comandado pelo chef Alberto Landgraf, do carioca Oteque (que conquistou duas estrelas Michelin e a posição #47 na lista dos World's 50 Best), abriu as portas na semana passada, em Londres.
Com receitas e ingredientes brasileiros no cardápio, Landgraf quer mostrar uma versão mais moderna da nossa gastronomia em pratos como vieiras ao molho de tucupi, tutano assado com tapioca e castanha-de-caju e até mesmo sua versão da moqueca.
Mas também quer apresentar uma nova cara do Brasil lá fora: tanto que decidiu levar para seu projeto londrino não apenas talentos que estiveram com ele desde o início do restaurante no Rio, mas também alguns fornecedores brasileiros, ampliando a cadeia de distribuição de produtos nacionais.
É o caso da vinícola gaúcha Vivente, que com a parceria com Landgraf dá seu primeiro passo para um plano de exportação para mostrar nossa viticultura lá fora — e que espera chegar também a mercados como Dinamarca, Estados Unidos, França e Ásia.
Um chef já premiado no Brasil ter a chance de abrir as portas em uma capital gastronômica de renome internacional é um forte indício que novos ares sopram sobre os nossos fogões.
Além da cozinha
É uma revolução que começa na cozinha, mas não se restringe a ela. Prestes a abrir em Nova York o Ella, restaurante de cozinha brasileira mais contemporânea, a chef paranaense Manu Buffara também acaba de publicar um livro sobre o trabalho que tem feito no seu famoso restaurante curitibano, o Manu.
Com título homônimo, o volume foi editado pela Phaidon, que detém hoje o selo de livros de gastronomia mais influente do mundo, tendo publicado grandes nomes internacionais como Virgilio Martínez, Enrique Olvera e Ferran Adrià.
É o segundo livro da editora com chefs do Brasil. O primeiro (D.O.M: Redescobrindo Sabores Brasileiros, de 2013) foi de Alex Atala, principal nome a projetar a nova cozinha brasileira no cenário internacional — de eventos globais ao fenômeno Chef's Table, da Netflix.
No mesmo ano, por exemplo, uma capa da revista Time o colocava como um dos "Deuses da Comida" (conforme o título) que estavam mudando a gastronomia global ao lado de chefs igualmente populares e midiáticos: o dinamarquês René Redzepi (Noma) e o americano David Chang (Grupo Momofuku). Uma baita conquista.
Novo panorama
De lá para cá, muita coisa mudou. Mais restaurantes (como A Casa do Porco, de Janaína Torres Rueda e Jefferson Rueda, e o Maní, de Helena Rizzo, para ficar em dois exemplos) também ascenderam ao Olimpo gastronômico.
No ano passado, por exemplo, o Brasil teve sua melhor atuação de sempre na versão latino-americana da lista dos 50 Best: foram quatro restaurantes entre os 20 melhores e outros 5 no ranking geral.
Agora, pela primeira vez, o país deve ser palco da premiação regional, tendo possivelmente o Rio de Janeiro como capital gastronômica do continente para a gala de revelação dos 50 melhores deste ano.
Claro que listas e prêmios não são indícios definitivos, mas ajudam a mostrar alguma temperatura do que ocorre a nível internacional. E é inegável que nosso caldo tem esquentado.
Em Singapura e na Bélgica, em Portugal e nos Estados Unidos, chefs brasileiros têm sido reconhecidos por suas cozinhas com acento nacional, ainda que a maior parte delas mais cosmopolita — sem relação com os restaurantes "da saudade" que ganharam o mundo para alimentar emigrantes espalhados pelo globo.
Do rodízio das churrascarias "coma quanto quiser" na Europa à tropicalidade do açaí em bowls em cafés "saudáveis" da Califórnia, o que estamos conquistando é talvez a oportunidade de mostrar que somos mais.
É uma nova imagem de cozinha que tem sido apurada a fogo lento, mas com a paciência de uma cozinheira que espera seu caldo ganhar consistência sobre as brasas para servir o melhor.
Difícil cravar que o Brasil vai conquistar a projeção peruana ou o reconhecimento mexicano no panorama latino-americano — ou até mundial. Os tempos são outros.
Mas nunca estivemos tão próximos de galgar um patamar tão significativo e inédito da nossa gastronomia que seja capaz de ressonar de Nova York a Londres. Só não ouve quem não quer.
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