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Almoçar no Netflix, jantar na Gucci: por que marcas abrem restaurantes?
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O cardápio foi criado por alguns dos melhores chefs do mundo — aqueles que levaram milhares de pessoas a passar horas e horas na frente da tela.
Os pratos já filmados em todos os ângulos e reprisados à exaustão na Netflix poderão ser finalmente provados — ainda que por um público restrito.
A plataforma de streaming internacional inaugura nesta sexta-feira (30) seu restaurante "da tela para a mesa", como foi anunciado.
Batizado de Netflix Bites, ele abre as portas em Los Angeles em versão pop-up e com receitas de cozinheiros aclamados de seus mais famosos programas, como "Chef's Table", "Iron Chef" e o popular "Mandou Bem".
Conquista pelo estômago
Não é a primeira vez que o canal investe na ideia de utilizar a popularidade de seus programas de comida para conquistar seus assinantes pelo estômago.
Tampouco é a única: cada vez mais, marcas internacionais veem na gastronomia uma forma de estreitar um relacionamento com seu público — já consagrado ou potencial.
Na moda, a Gucci foi uma das mais representativas: em parceria com o famoso chef Massimo Bottura (convertido em celebridade com a ajuda da Netflix!), a grife italiana criou a Gucci Osteria, um modelo de restaurante com filiais de Florença a Tóquio, de LA a Seul.
A decoração dos espaços com madeira pintada em verde gritante e móveis vintage ajudam a dar o tom extravagante-chic da marca. Mas são os pratos que falam mais alto aqui.
No menu, tortellini artesanais recheados com Parmigiana-Reggiano e croque madames saem da cozinha desfilando sobre as bandejas dos garçons em pratos com estampas florais.
Bottura é notavelmente um dos primeiros chefs famosos a encabeçar uma colaboração estratégica com uma marca de moda.
O cardápio reflete uma amostra acessível dos famosos pratos que só poderiam ser degustados a partir de uma lista de espera de seis meses para uma mesa em sua Osteria Francescana.
As receitas revelam uma estética quase artística, emulando valores importantes da Gucci e transmitindo o estilo da marca além do guarda-roupa.
Não à toa, outras marcas seguiram o caminho, com a também italiana Prada abrindo seu primeiro restaurante em Milão depois de ter um café dentro de sua mesma Fundação desenhada pelo cineasta cool Wes Anderson.
A Ralph Lauren criou um conceito de café para algumas de suas lojas; a Louis Vuitton contratou um chef premiado para comandar as receitas na sua nova maison em Osaka e até a Disney passou a abrir cada vez mais espaços onde se pode degustar pratos saídos dos filmes da Marvel ou das sagas de Star Wars.
Essa aproximação das marcas com a gastronomia não é fortuita, claro. Os gênios de marketing que comandam essas empresas conhecem o poder engajador da comida.
Nas redes sociais ou nas rodas de conversa, falar de pratos e restaurantes se tornou assunto da moda na sociedade atual. Todo mundo quer comer e postar o que come. Reflexo dos tempos modernos e digitais em que vivemos.
A gastronomia também permite ampliar a experiência sensorial que se tem com as marcas: não só ver, mas degustar; não apenas vestir, mas também desfrutar.
Ela materializa em muitos sentidos (olfato, visão, paladar) a relação que se constrói em torno da mesa.
O chef catalão Ferran Adrià dizia que a gastronomia é um luxo acessível: poucos são os que podem comprar um terno da Gucci, mas eventualmente há mais gente disposta a gastar cerca de 50 euros para comer no restaurante da marca — e postar sobre isso.
Através da comida, chegam a novos nichos de clientes com os quais não conseguiam se relacionar antes — ou tornam mais palpáveis a experimentação que conseguem oferecer com aqueles que já usavam peças da marca.
Mais abrangentes
Em vez de apenas estampar um nome em um restaurante, as estratégias parecem ser mais abrangentes, criando experiências mais significativas que envolvem comer, mas também socializar e gerar algum tipo de status social.
Os restaurantes ganharam uma representatividade importante na nossa sociedade como palcos da vida moderna: são dos poucos lugares em que o propósito prosaico de compra e venda parece ter um sentido maior: não somos clientes, mas sim nos sentimos como "convidados".
Tratam-se, afinal, de espaços onde buscamos ser tratados com honra e algum carinho, com atenção prestativa nesses refúgios modernos com boas doses de bem estar e afeto.
Coisas não tão fáceis de se conseguir no mundo de hoje, muito menos na frente da televisão ou no provador de uma loja.
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