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'Frango sem abate': revolução poupa animais e já chega aos restaurantes
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O prato poderia chegar à mesa com um aviso: "Nenhum animal foi ferido para a produção desta receita". Ainda que ali, diante dos olhos, esteja um espetinho de frango grelhado — dourado por fora, carne tenra e branquinha por dentro.
Sim, o frango em questão foi "cultivado", como diz o termo técnico. Ou seja, ele foi fabricado a partir de células animais, sem necessidade de abater uma galinha sequer.
O que antes era propagado como um possível futuro da alimentação já começa a ser servido em alguns restaurantes como teste pelo mundo: uma tecnologia que tem se desenvolvido com a mesma rapidez das inteligências artificiais.
Nos EUA, a GOOD Meat, uma startup com base na Califórnia, serviu há algumas semanas aqueles que devem ter sido os primeiros pedaços de carne cultivada em um restaurante no país.
Ali — assim como acontece aos poucos em outras nações — a empresa e uma concorrente receberam aprovação regulatória para comercializar seu "frango sem abate", como passou a ser propagandeado.
Carnívoro ou não: eis a questão
O mote é importante: pesquisas indicam que cada vez mais pessoas se sentem eticamente abaladas pela morte dos animais que vão parar em seus pratos — mas nem sempre estão dispostas a parar de comer carne.
Não à toa, sociólogos e especialistas chamam esse dilema de "paradoxo da carne"; é o impasse moral que existe em reconhecer o direito dos animais e/ou os efeitos nocivos da produção pecuária no mundo, mas que não provoca necessariamente mudanças de comportamento.
Estimativas indicam que cerca de 1 trilhão de animais são criados e abatidos para nos alimentar a cada ano: mais de 535 milhões de toneladas de proteínas animais que acabam nas nossas mesas.
O que as carnes cultivadas oferecem é justamente uma alternativa, segundo dizem suas empresas. O sabor é idêntico ao da carne, mas sem que nenhum animal tenha que morrer para produzi-las ou que seja necessário recorrer a vegetais como alternativas.
Como é feito o "frango"
Ainda que seja preciso esclarecer: no caso da GOOD Meat (e de outras empresas) o frango é composto de 60 a 70 por cento de células animais e o restante é feito à base de plantas, como trigo e soja.
A produção da carne cultivada, entretanto, se assemelhe mais à forma de produzir bebidas (como o vinho, por exemplo) do que de comida.
As células animais são colocadas em grandes tanques (bioreatores) de inox e alimentadas (com açúcares, aminoácidos, etc) por semanas e semanas até que se transformem em gordura e tecido muscular — algo muito parecido com carne "de verdade".
Já para a mesa
Nos EUA, quem quiser provar, já pode fazer sua reserva: desde ontem (25), o restaurante China Chilcano, em Washington e de propriedade do chef e ativista da alimentação José Andrés, abriu vagas para os clientes interessados.
A partir da próxima segunda (31), os clientes vão poder sentar e degustar o tal frango sem abate: a receita principal é a um espetinho grelhado e besuntado de um molho feito com pimentas peruanas e servido com batatas e uma espécie de chimichurri.
O restaurante já tem recebido uma enxurrada de mensagens e pedidos, mas já avisa que, em caráter experimental, não consegue servir mais de 8 clientes por semana para comer o tal frango — que faz parte de um menu-degustação, a um custo de 70 dólares por pessoa.
Em outros restaurantes, a corrida pela carne cultivada também já começou: em San Francisco, a chef Dominique Crenn, já eleita como melhor chef do mundo segundo os 50 Best, já anunciou que também vai servir o frango de uma empresa concorrente (Upside Foods) no seu restaurante mais casual, o Bar Crenn.
Outros restaurantes no país — e no mundo — já se programam para aderir à tendência da carne de laboratório. Em Singapura, ela já é uma realidade. No Brasil, país que está posicionado na vanguarda mundial da pesquisa e produção, só deve chegar aos restaurantes — e ao churrasco — em 2024.
O futuro é agora
Há quem diga que se trata de mais um hype, claro: todo mundo vai querer provar a carne cultivada por ser novidade, apostando no fator "curiosidade" do público consumidor.
Mas algumas pesquisas são mais positivas: elas preveem um crescimento grande para o setor nos próximos anos. No Brasil, gigantes como a JBS e a BRF fizeram investimentos e adquiriram startups de olho nesses números.
Em termos de comparação de sabores e texturas, as carnes cultivadas são mais parecidas com a carne real, o que é uma vantagem competitiva em relação aos produtos à base de plantas que já tem dominado o mercado.
Com a tecnologia mais acessível e as regulações sendo aprovadas por governos de todo mundo, não deve demorar para que o frango do seu almoço seja feito em laboratório — e à prova de abates.
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