Como dois fãs conseguiram que o McDonald's relançasse o McFish no Brasil
A notícia da volta do McFish veio como uma camada extra de molho tártaro para os ânimos dos amantes do sanduíche feito com filé de peixe criado pelo McDonald's.
Descontinuado pela rede no Brasil em 2019, um grupo de consumidores se diziam órfãos da iguaria, que segue sendo vendida em países da Europa, Ásia e América do Norte.
A partir de hoje, entretanto, o hambúrguer já pode ser reservado em esquema de pré-venda pelo site da rede de fast food, para ser consumido a partir de fevereiro, quando a data para o retorno será oficialmente anunciada pelo McDonald's.
Oi, sumido
A notícia do regresso do sanduíche — ainda que em estoque "muito limitado", como já antecipou a cadeia — gerou muitas reações na internet (mais de 35 mil cadastros tinham sido feitos na tarde de terça-feira) e, principalmente, nas redes sociais.
Era de se esperar. Não apenas porque a própria estratégia do McDonald's foi tentar aproveitar todo o impulso que elas podem dar numa divulgação, mas sobretudo porque a volta do McFish tem tudo a ver com um perfil criado justamente no Instagram.
Em 2022, dois fanáticos pelo sanduíche se conheceram na mesa de um restaurante e passaram boa parte do jantar lamentando a descontinuidade do McFish nas lojas do Brasil — que, segundo o McDonald's, era pouco pedido pelos consumidores.
A paixão do advogado Fred Sabbag e do designer Marcelo Maia pelo lanche era tanta que eles tiveram a ideia: criar o perfil Volta McFish (@voltamcfish) para reunir outros obcecados como eles e, quem sabe, fazer uma pressão para a volta da receita.
Deu certo. Primeiro, eles foram notados pelos administradores e outros funcionários da rede no Brasil. Depois, o próprio ex-presidente de marketing, João Branco, passou a interagir com o perfil, dando legitimidade à legião de McFishers (como são chamados os fãs do sanduíche) que a rede social uniu.
De posts pedindo a volta do lanche fazendo brincadeiras com filmes conhecidos até um reels explicando como congelar (e depois descongelar) perfeitamente um McFish, o perfil criado em julho de 2022 caiu nas graças de uma legião de fãs.
"São pessoas que, como eu, aproveitam viagens gastronômicas ao exterior para comer um McFish e depois marcam o Volta McFish, fazem campanha de verdade. Muitos ajudaram a manter o tema relevante", diz à coluna Sabbag.
Na falta do lanche no Brasil, ele, como muitos outros fantásticos, chegavam a viajar e trazer no avião algumas unidades do lanche para comerem nos dias seguintes ou estocar no freezer.
Já recebi de presente de amigos alguns McFish vindos da França, doa Estádios Unidos, de Portugal;. Acho que cheguei até a provar um que alguém me trouxe direto do Japão
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Quero receberO perfil criado por ele e Maia (que hoje conta com 14 mil seguidores) passou a ser visto pelo próprio McDonald's no Brasil como um movimento para medir a chance de trazê-lo de volta ao menu.
"Ficamos amigos de diretores com os quais trocamos mensagens; outros, nos conhecemos pessoalmente", diz o advogado.
Um deles foi o próprio João Branco, um dos entusiastas em promover a volta do McFish. Branco já publicava posts que fazia em seus perfis nas redes para alvoroçar a curiosidade dos fãs, sempre trazendo a esperança do sanduíche voltar ao menu.
Com o Volta McFish no ar, ele passou a interagir com o perfil e com seus criadores. "Nós ajudamos a juntar um exército de fanáticos que mostraram ao McDonald's a massa de gente que ama o sanduíche", afirma Sabbag.
No final de dezembro os criadores do perfil foram avisados em primeira mão que o McDonald's tinha mesmo decidido trazer de volta a receita, ainda que em caráter temporário e limitado.
"Tenho certeza que vai esgotar em menos de um mês", prevê Sabbag.
Temos que fazer ainda mais barulho agora, para provar que há um público consumidor regular que quer consumir o McFish sempre
Desde o anúncio na segunda-feira, o perfil ganhou mais alguns milhares de seguidores. "Muita gente a comemorar a nossa vitória", ri o advogado, sobre a vitalização do perfil.
Uma prova de que campanhas orgânicas e genuínas encabeçadas nas redes sociais podem mesmo ter efeito. De shows de bandas a pedidos de itens para uma rede de fast food, a pressão social que se pode criar na internet é absurda — e quase imparável.
E nada se assemelha a campanhas pensadas em salas envidraçadas por dezenas de cabeças dos departamentos de marketing e comunicação de grandes empresas.
O próprio McDonald's sabe disso. Em 2012, a filial norte-americana da rede criou a hashtag #McDStories para que as pessoas pudessem vir a público para contar experiências de festas de aniversário infantis e outras boas experiências passadas nas lojas do país.
A expectativa eram palavras calorosas, mas as redes sociais foram "flodadas" com muitos comentários desagradáveis que causaram danos à reputação de impacto em todas as plataformas de mídia social.
Em outros países, como Portugal, houve até uma petição pública para trazer o próprio McFish de volta ao cardápio da rede. Mas nada que tivesse o mesmo sucesso da campanha Volta McFish criado no Brasil.
Eles pediram, fizeram pressão, criaram uma massa crítica de consumidores selecionados que queriam a mesma coisa que eles. Foram ouvidos.
A partir de hoje, podem comprar seus McFish com a certeza que vão poder dar uma mordida no lanche feito com filé de peixe empanado, queijo e molho tártaro.
Por quanto tempo ele vai ficar, pode depender do barulho que serão capazes de fazer. E não há dúvidas de que eles podem ser muito ruidosos.
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