Rafael Tonon

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Falta de ovo e o muffin salva: comida é a polêmica da vez nas Olimpíadas

Para muitos de nós, comida é prazer, hedonismo. Para um atleta olímpico, é essencialmente combustível, aquilo que lhe permitirá correr, nadar, pedalar, atirar ou dar um duplo mortal carpado sobre uma barra para garantir uma medalha.

Nas Olimpíadas deste ano em Paris, entretanto, a comida dos atletas virou tema de comentários graças aos posts de muitos deles nas redes sociais mostrando como tem sido a alimentação na Vila Olímpica.

As avaliações críticas tomaram as redes: a equipe feminina de ginástica americana, que ostenta o ouro na modalidade coletiva, passou alguns minutos da coletiva à imprensa falando mal da comida servida.

"Não tenho achado muito boa [a comida], pelo menos o que estamos comendo no refeitório", disse Hezly Rivera, companheira de Simone Biles. "Eu definitivamente acho que a comida francesa é boa, mas o que temos para comer não é o melhor", alfinetou.

@dailymail Paris Olympics' catering might need Simone Biles' magic touch. The gymnastics star gave a thumbs-down to the Olympic Village's food, suggesting athletes seek "real" French cuisine outside. Following the U.S. women's team gold win on July 30, Biles noted the village food was healthier but not authentic. Teammate Hezly Rivera was more blunt, saying the food wasn't great. Despite using fresh, local produce, organizers faced criticism, leading to a promise of improvements. #olympic #olympicvillage #simonebiles #gymnastics ? original sound - Daily Mail

Muitos atletas fizeram vídeos mostrando os pães servidos na boulangerie do centro olímpico — "mesma coisa, só muda o formato", disse a nadadora americana Phoenix Beacon — e denunciando a escassez de proteínas, principalmente ovos.

"O único problema é a falta de comida. É um pouco surpreendente", desabafou o nadador Julio Horrego. O atleta de Honduras criticou a falta de oferta no bufê da Vila Olímpica, onde não havia nenhum ovo em um dos dias que ele foi tomar café da manhã.

Um esportista profissional, como ele, precisa ingerir mais de 5.000 calorias por dia — sendo a maioria de proteínas — algo que tem sido difícil atingir segundo dirigentes de muitos países.

"Não há alimentos suficientes: ovos, frango, certos carboidratos, e depois há a qualidade da comida, com carne sendo servida crua aos atletas", afirmou o chefe da Associação Olímpica Britânica, Andy Anson.

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Mesmo com promessas da organização que tudo seria resolvido, o comitê olímpico do país decidiu contratar um chef adicional do Reino Unido para alimentar os seus atletas.

40 mil refeições por dia

Administrado pela Sodexo Live!, subsidiária da gigante da alimentação coletiva Sodexo, o restaurante da Vila Olímpica conta com 3.300 lugares disponíveis e serve cerca de 40 mil refeições diárias aos mais de 10 mil atletas que estão em Saint Denis, norte de Paris.

A ambição dos organizadores das Olimpíadas de reduzir a pegada de carbono do serviço de buffet nos jogos deste ano mostrou-se um grande problema, já que a ideia era oferecer mais comida vegetariana, algo que os atletas não aderiram.

A empresa até divulgou que tinha trabalhado com nutricionistas e alguns dos melhores chefs da França — como Amandine Chaignot, Alexandre Mazzia e Akrame Benallal — para criar as receitas servidas aos esportistas.

Mas nem assim a comida servida tem parecido agradar ou ser digna de estrelas entre os esportistas. Aliás, a receita mais bem avaliada é de uma sobremesa cujas raízes não tem nada de francesas.

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A viralização do MuffinTok

Foi o nadador norueguês Henrik Christiansen que o popularizou em seus posts: o muffin de chocolate da Vila Olímpica se tornou uma febre entre os atletas.

O nadador fez uma dezena de vídeos no TikTok sobre os muffins — alguns com mais de 10 milhões de visualizações — o que fez com que Christiansen desse uma entrevista ao The New York Times para dizer o quanto tinha gostado da sobremesa.

Outros atletas seguiram a trend do Muffin Man — como ele foi apelidado nas redes — e saíram em busca dos muffins para fazer reacts e vídeos mostrando a sobremesa viral, que ganhou até uma hashtag própria: #MuffinTok.

O próprio perfil oficial da Paris 2024 colocou seu polêmico mascote a caminhar pelas ruas de Paris segurando dois dos cobiçados muffins na mão.

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@paris2024officiel when are we having a muffin date?? @henrikchristians1 #Paris2024 #Olympics ? sonido original -

Na internet, houve quem tentasse reproduzir os muffins em centenas de receitas divulgadas ou investigar a origem do tal muffin famoso para tentar encontrá-lo e comê-lo fora da Vila Olímpica.

A designer Kelin Carolyn Zhang compartilhou uma série de vídeos na plataforma nos quais tentava rastrear de onde eles poderiam vir, buscando algumas das maiores confeitarias de Paris para encontrar similaridades e diferenças.

Depois de tanto buscar, ela finalmente chegou aos muffins da Coup de Pates. Um representante da empresa confirmou ao portal americano Eater que sim, os muffins "Maxi Muffin Chocolat Intense" são produzidos por eles.

A empresa afirmou que trabalha exclusivamente com profissionais de serviços de alimentação, alguns dos quais parceiros da Vila Olímpica, o que fez com que os famosos muffins parassem nas mãos e nos estômagos dos maiores atletas do mundo.

Na ausência de ovos e carne, muitos deles têm encontrado redenção na massa fofa com pequenos discos de chocolate ao leite e recheio cremoso que de repente se tornaram tão disputados quanto as medalhas em Paris.

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Texto que relata acontecimentos, baseado em fatos e dados observados ou verificados diretamente pelo jornalista ou obtidos pelo acesso a fontes jornalísticas reconhecidas e confiáveis.

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