Rafael Tonon

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Preços em chamas: queimadas vão encarecer do cafezinho ao jantar

Aquele meme do cãozinho sentado à mesa, tomando uma xícara de café enquanto o fogo se alastra a seu redor, nunca foi tão real.

A sensação de que o país — e o mundo — está em chamas é cada vez mais palpável, enquanto tentamos engolir o café da manhã para enfrentar mais um dia caótico.

Este ano, os incêndios que consomem nossas florestas parecem ter afetado diretamente a vida cotidiana como nunca antes. Desde o ar poluído pela fumaça até a alta acentuada nos preços de alimentos como açúcar, leite, laranja e, especialmente, café.

No caso deste último, o valor disparou com o avanço dos incêndios: a saca de café arábica chegou a quase R$ 1.500 nas últimas semanas. No mesmo período do ano passado, custava R$ 800.

Dados do setor indicam que a safra de 2024 já foi pior que a de 2023, e a do próximo ano também está comprometida. A recuperação das plantações só deverá ocorrer em 2026, quando os produtores conseguirem mitigar os danos causados pelas temperaturas extremas.

Esse cenário aponta para uma crise global no preço do café, já que o Brasil é o maior produtor e exportador do mundo. Um impacto real nas xícaras da Europa, da Ásia e outros continentes.

O açúcar também foi fortemente impactado. Nos últimos 30 dias, mais de 3.000 focos de incêndio no estado de São Paulo destruíram cerca de 180 mil hectares de cana-de-açúcar, gerando prejuízos de R$ 800 milhões para o setor.

Com a oferta reduzida, o impacto é sentido diretamente no bolso do consumidor, que já vê os preços subindo. O mesmo ocorre com feijão e carne, já que pastagens e rebanhos também foram afetados.

As queimadas não só destroem safras e terras agrícolas, como também ameaçam a segurança alimentar global. Segundo uma pesquisa divulgada pelo Bradesco na última semana, o impacto das queimadas e da seca nos preços dos alimentos pode fazer com que a inflação feche o ano em 6,3%.

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Com o possível aumento da inflação, o Banco Central poderá ser obrigado a elevar os juros, desacelerando a economia e causando repercussões em diversas esferas.

Não tem boa notícia

Queimada em plantação de cana de açúcar em Dumont, SP, em 24 de agosto de 2024
Queimada em plantação de cana de açúcar em Dumont, SP, em 24 de agosto de 2024 Imagem: JOEL SILVA/REUTERS

Os incêndios recentes são, em parte, resultado da degradação climática exacerbada pelas mudanças globais e pelo aquecimento, além da ação criminosa. Um cenário que, ao que tudo indica, deve se agravar com o aumento das temperaturas.

Estudos indicam que as queimadas tendem a se tornar mais frequentes à medida que a temperatura global aumenta, como previsto. Os últimos anos foram os mais incendiários das últimas duas décadas, com a temporada de fogo se estendendo cada vez mais.

Do Chile ao Canadá, da Califórnia a Portugal, as queimadas se intensificarão conforme o planeta aquece além dos 1,5ºC ou 2ºC estabelecidos no Acordo de Paris. Se a temperatura subir ainda mais (entre 3ºC e 4ºC), a incidência de incêndios pode quadruplicar, com focos constantes de um hemisfério a outro.

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O aquecimento global torna as florestas e plantações mais secas, facilitando a propagação dos incêndios, que antes poderiam ser contidos.

Em resumo, o impacto dos incêndios vai além da fumaça no ar. Ele já está afetando o que comemos, e o efeito se intensificará nos próximos meses — e até anos.

As perdas na agricultura e pecuária já são visíveis no café da manhã, mas logo estarão presentes também no almoço e jantar.

Para quem pensa que basta fechar as janelas para escapar da fumaça, a má notícia é que os incêndios afetam diretamente os preços que pagamos nos supermercados e restaurantes, esvaziando nossos bolsos como papel queimado.

Opinião

Texto em que o autor apresenta e defende suas ideias e opiniões, a partir da interpretação de fatos e dados.

** Este texto não reflete, necessariamente, a opinião do UOL.

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