Ozempic deu indigestão e comemos mais caro: a gastronomia em 2024
2024 foi o ano em que o preço do cafezinho disparou, o futuro do chope ficou em risco e o consumo de álcool diminuiu na sociedade.
Ao mesmo tempo, a balança foi afetada por medicamentos como o Ozempic, que impuseram uma nova dinâmica ao comportamento alimentar do mundo — e uma nova forma de lidarmos com a comida.
Também foi o ano em que vimos todo tipo de alimento — como os croissants — serem prensados até virarem folhas de papel (por quê??). E ainda, testemunhamos a dominação global de uma barra de chocolate com pistache, nascida em Dubai, conquistando o mundo.
A força do TikTok
A tendência, como dita a linguagem da internet, nasceu no verão do Emirado Árabe. Barras de chocolate parecidas com Kit Kat, mas recheadas com pistache e nougat, invadiram o TikTok.
Não demorou para que viralizassem. Na rede social, consumidores ávidos por experimentá-las chegavam a dirigir horas até lojas de produtos árabes, tudo para dar a primeira mordida — sempre registrada, é claro.
Empresas de todo o mundo logo copiaram a receita e o formato. O "chocolate do Dubai", como passou a ser chamado (e amplamente tagueado!), virou inspiração para cupcakes, milk shakes e até croissants — esses, ao menos, não prensados.
O fenômeno é mais uma prova de que o TikTok se consolidou como uma plataforma capaz de lançar tendências gastronômicas globais. De receitas a restaurantes, o impacto é tão poderoso que, em alguns casos, o sucesso viral trouxe dores de cabeça para os envolvidos, tamanho o alcance e a demanda gerados.
Tudo bem prensado
Ainda que a ideia de prensar o croissant tenha sido mais uma modinha passageira do que um comportamento duradouro, não se pode dizer o mesmo dos hambúrgueres.
Os smash entraram em modo de globalização acelerada, deixando os discos de carne mais altos parecendo uma moda ultrapassada (sem trocadilhos!). Algo que já vinha tomando forma, mas que, em 2024, atingiu seu maior pico, de Paris a Nova York, de Tóquio a qualquer capital brasileira.
Seja porque representam uma fina tela em branco para explorar novos sabores ou por serem mais baratos — um reflexo importante nesses tempos em que as pessoas têm tido menos dinheiro para sair e comer fora.
Uma mordida bem cara
Embora restaurantes e outros espaços ligados à alimentação tenham ficado muito mais caros, como nossas carteiras puderam notar. Mas chamou atenção em 2024 o preço de alguns itens dos menus.
Coquetéis por mais de 60 euros, hambúrgueres (eles, de novo!) na casa dos três dígitos ou bocados que podem custar o preço de um prato inteiro — ou de uma refeição.
E não falamos só de caviar, que também vive uma onipresença nos menus. Em muitos restaurantes, pequenas doses de produtos raros ou luxuosos ganharam pequenas porções para satisfazer os paladares mais ávidos — e ricos.
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Quero receberFrutos do mar, trufas e wagyu vêm servidos em petiscos indivisíveis que são como pequenos luxos comestíveis, como joias: um mimo que (alguns) podem se dar, com a chance de poder comer ingredientes especiais sem ter que pedir um prato.
Só para ocasiões especiais
Ainda sobre os preços, tudo aumentou: o café, o azeite, a manteiga. 2024 foi o ano em que alimentos do nosso cotidiano se tornaram propícios apenas para datas especiais. Os preços dos alimentos no mundo tiveram a maior alta em dois anos.
Com safras mais reduzidas — no caso do azeite, por exemplo, a de 2022/23 foi um terço menos que a anterior — e uma demanda global mais acelerada, a oferta ficou aquém, fazendo os preços galoparem.
No caso da manteiga, o item ficou tão caro principalmente em países da Europa, que acarretou com que pessoas optassem por cometer delitos roubando potes diante dos valores.
Para esquecer em 2024
O ano que passou também teve alguns comportamentos ou modismos que poderiam ficar bem esquecidos: nem mesmo com o fim da pandemia, os cardápios em QR code sumiram dos restaurantes, para nossa tristeza.
As explicações longuíssimas sobre os conceitos e produtos dos menus também seguem firmes e fortes, ainda que pouca gente tenha de fato ainda paciência para ouvi-las.
Os cardápios adaptados à pouca fome dos consumidores dos inibidores de apetite também viram seu ápice. Foi o ano do Ozempic e sua proliferação e de sua popularização, revivendo uma cultura da magreza que esperávamos estar superada.
E, como se não bastasse, o retorno de Donald Trump ao poder trouxe uma polêmica inusitada: o consumo de leite cru, um tema que parecia enterrado desde o século passado.
Apesar disso, a discussão acendeu um alerta importante sobre o consumo de alimentos ultraprocessados — algo que definitivamente merece nossa atenção em 2025.
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