Rafael Tonon

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Opinião

Não tá fácil pra ninguém? 2025 da comida tem comodidade, mortadela e saquê

É o ano da contradição: dos alimentos saudáveis e do consumo hedonista; de menus mais baratos e de jantares de valores estratosféricos. Afinal, quem pode esperar por alguma normalidade em um ano que promete ainda mais conflitos e guerras, aumento da inflação e intensificação da crise climática?

Se as mudanças vêm a galope na nossa vida social, elas devem repercutir também no nosso prato, como é óbvio.

"Podemos admitir que os consumidores são seres complexos que frequentemente agem de maneiras inconsistentes", diz o relatório de tendências da Mintel, uma das maiores empresas de consultoria de mercado do mundo. Mas 2025 será o ano de ainda mais dualidades, garante.

As principais têm a ver com um crescimento do fundamentalismo nutritivo — aumento de produtos com mais proteínas, por exemplo, ou qualquer outro apelo nutricional que atenda a um grupo — ao mesmo tempo que veremos uma quebra de regras total em termos de sabores e consumo.

"Hábitos 'perfeitamente imperfeitos' já estão em prática. Apesar das intenções de comer de forma saudável, cozinhar refeições do zero e seguir um orçamento definido para compras, a realidade é que isso nem sempre acontece", diz o relatório da Mintel.

É o famoso "vamos fazer o que dá, já que a vida não deve ser fácil para ninguém". O que explica, por exemplo, tendências que tem a ver com o aumento de alguma comodidade.

O The New York Times, por exemplo, aposta na proliferação — nos EUA e além — das konbini, os modelos de lojas de conveniência japonesas que servem para comprar produtos a qualquer hora, mas também oferecem as mais práticas (e boas) refeições que se pode encontrar em cidades como Tóquio.

Passar no posto para pegar uma comida para almoçar vai ser mais comum em 2025, com a expansão de cadeias de comida e com planos de concessionárias de aumentar o seu fluxo para além da bomba de gasolina.

Ao mesmo tempo, aposta o jornal americano, as comidas para viagem vão ganhar nova cara, com embalagens que possam acomodar as refeições mais ostensivas que carregam: nuggets com caviar e crème fraîche ou três andares de pizza em uma mesma caixa. Tudo em favor de um belo "unboxing".

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Lembra do conceito de fusão na gastronomia, quando um tipo de cozinha era reproduzido com ingredientes de outro lugar? Pois em 2025 daremos um passo em direção ao "cross-cultural", em que influências e referências de distintas culinária estarão juntas no mesmo prato.

Afro-filipino, nipo-mexicano, luso-chinês? num mundo cada vez mais global, chefs cozinham suas múltiplas experiencias, mais do que suas raízes, "oferecendo novas combinações e menus que não podem ser facilmente rotulados ou contidos", como explica o relatório Hospitality Trends Report, feito em parceria pela AF&Co. e a Carbonate.

O mesmo estudo indica uma onipresença do ouriço do mar nas receitas (tchau, caviar!), um maior uso da mortadela e uma tendência da pizza brasileira ganhando mais espaço além do Brasil — chegou o momento da pizza de palmito!

O preço galopante dos alimentos vai obrigar os restaurantes a mudar seus horários e cardápios: é o ano dos horários estranhos (espaços que só abrem 4 vezes por semana, por exemplo, para conter gastos com pessoal) e dos produtos mais baratos: miúdos e estranhas, mais vegetais. Menos importados e mais locais.

Mais saquê e martinis

No mundo das bebidas, as contradições se mantêm. De um lado, o consumo mais consciente de álcool deve crescer: surge o "Zebra Striping", uma estratégia que envolve substituir uma bebida sem álcool entre cada dose alcoólica — um com, um sem, como as listras da zebra, daí o nome.

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Ao mesmo tempo, deve aumentar a incidência de bebidas com cannabis e outros componentes que alteram o humor, como cafeína, guaraná e aminoácidos calmantes para o cérebro. Ou seja, o efeito socializador e recreativo do álcool, mas com menos danos para a saúde.

O saquê deve ganhar mais espaço além das cozinhas japonesas, cada vez mais presente em restaurantes de gastronomia ocidental, o vinho branco deve continuar a reinar nas cartas e nos pedidos.

O martini, esse velho conhecido, segue sua onipresença global em muitas formas: com novas combinações, outros elementos além da azeitona e da cebola em picles. É o ano do Caprese Martini, com pitadas de manjericão e o tomate para finalizar.

Também deve ser servido cada vez mais frio — talvez em sintonia em consonância com os termômetros do planeta, que devem aumentar mais de 1ºC neste ano.

Opinião

Texto em que o autor apresenta e defende suas ideias e opiniões, a partir da interpretação de fatos e dados.

** Este texto não reflete, necessariamente, a opinião do UOL.

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