Você nem precisa mais sair de casa para comer no seu restaurante favorito

Depois de molhos picantes, vinagres, garum e um praliné de sementes de abóbora, chegou a vez dos frequentadores e até mesmo de quem nunca pisou no restaurante (onde um jantar pode custar mais de R$ 2.000) poder tomar o café servido ali, sem sair de casa.

Resultado de mais de 10 anos de pesquisa, as embalagens próprias seguem os preceitos das xícaras servidas no restaurante: grãos de excelente qualidade, provenientes de pequenos produtores, cuidadosamente selecionados por Carolyne Lane, a brasileira responsável pelo programa de café do Noma.

Por ora, o café está disponível apenas por assinatura mensal, com duas embalagens de 250 g entregues diretamente na casa dos clientes por quase R$ 400. Mesmo com o valor elevado, a marca do Noma é o grande atrativo para os 700 assinantes que terão acesso ao café estrelado.

O novo produto segue um movimento natural do Noma para criar experiências gastronômicas que não exijam a presença física no restaurante. "O modelo tradicional de restaurante está ficando insustentável. É preciso ser criativo", afirmou Redzepi à coluna.

Segundo o chef, cada vez mais restaurantes buscam outras fontes de receita além do serviço tradicional. Essa tendência se intensificou na pandemia, quando estabelecimentos que investiram na venda de produtos online tiveram maior estabilidade financeira.

"Restaurantes estão explorando novas áreas, como produção de molhos, bebidas, merchandising e até conteúdos digitais, como YouTube e podcasts", afirma Redzepi, que planeja expandir sua linha de produtos nos próximos anos, possivelmente incluindo bebidas fermentadas saudáveis.

O caso do Noma não é isolado. De panetones a vodcas, de coquetéis prontos a torrones, restaurantes estão aproveitando sua expertise — e sua reputação — para chegar à casa dos clientes.

No Brasil, a tendência já chegou também aos restaurantes locais, com os embutidos Porco Real, d'A Casa do Porco (com linguiça, mortadela, entre outros) e os molhos picantes e outros produtos do Mocotó, do chef Rodrigo Oliveira, para citar dois exemplos.

O Central, em Lima, criou uma linha de chocolates feitos com cacau Chuncho do Peru, disponível tanto online quanto em mercearias pelo mundo, incluindo Nova York e Londres. Com isso, consumidores desses países podem provar um pouco do que é servido no restaurante sem precisar viajar e conseguir uma disputada mesa.

O cacau utilizado vem de Quillabamba, uma região de floresta de alta altitude no Peru, e suas características incluem doçura delicada, notas de frutas vermelhas e passas, além de nuances de nozes e especiarias.

Já o Disfrutar, atual melhor restaurante do mundo segundo a mesma lista que já elegeu Central e Noma, lançou no ano passado a Cocktology, uma linha de coquetéis premium para supermercados.

A ideia surgiu durante a pandemia, quando a equipe do restaurante em Barcelona passou a incluir coquetéis em seus pedidos de delivery.

Após anos de desenvolvimento, a iniciativa evoluiu para uma coleção de 12 coquetéis prontos para servir, criada pelos chefs Oriol Castro, Eduard Xatruch e Mateu Casañas.

A Cocktology quer aproximar a alta coquetelaria tanto do universo gastronômico quanto do consumidor final. Os coquetéis são vendidos na rede El Corte Inglés Gourmet por 9,90 euros cada (cerca de R$ 60).

Feitos com polpa de frutas frescas e destilados de alta qualidade, estão prontos para o consumo: basta agitar, adicionar gelo e servir.

O lançamento reflete uma tendência crescente na gastronomia, na qual restaurantes de alta gastronomia estão diversificando suas ofertas e ampliando o alcance de suas criações.

Esse movimento mostra como os restaurantes estão deixando de ser apenas lugares para comer e se tornando marcas que fazem parte do cotidiano dos clientes.

Ao transformar sua expertise em produtos que podem ser consumidos em casa, eles ampliam sua presença, diversificam receitas e criam novas formas de conexão com o público.

Seja através de um café exclusivo, um coquetel premiado ou um chocolate de origem controlada, a alta gastronomia está cada vez mais perto — e, acima de tudo, reinventando a maneira como nos relacionamos com a comida.