Texto em que o autor apresenta e defende suas ideias e opiniões, a partir da interpretação de fatos e dados.
Artesanal para todos: mais gente "bebe melhor". Será mesmo?
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A cerveja além da famigerada "Pilsen" (que não é Pilsen, como já expliquei aqui) está cada vez mais presente em copos nunca antes alcançados. Hoje, é possível comprar outros muitos estilos no supermercado, no empório da esquina, e, recentemente, até na Amazon.
O grande público ouve sobre qualidade artesanal no intervalo do Jornal Nacional, descobre uma cervejaria de história centenária até no ponto de ônibus, tem uma infinidade de @s para babar no próximo lançamento daquela cervejaria que ninguém conhece. Ainda.
Apesar de tudo isso, para quem foi criado no "beba menos, beba melhor" — a máxima da cerveja artesanal — a sensação é de que falhamos na comunicação para um público maior, além dos já "convertidos".
Tá certo que alguns mitos (já) caíram: quem bebia menos porque bebida boa é cara demais, agora tem exemplares mais em conta. Quem acreditava que artesanal era sempre sinônimo de qualidade, já não se ilude.
Mas muitas informações básicas, para realmente colocar o consumidor comum na brincadeira, ainda não estão nas ricas propagandas, nem nos pobres posts dos INFINITOS perfis cervejeiros.
Você sabe o que é o tal artesanal? Ainda se encanta com "puro malte"? Sabe qual é a importância do seu estilo favorito?
Artesanal é o que?
O conceito de cerveja artesanal não é cravado em pedra, mas, simplificando: é aquela que vai além do estilo Standard American Lager, com ingredientes selecionados, produção menor, estudada, cuidadosa, rótulos mais saborosos e cheios de histórias para contar. Bonito, né?
Porém, para muita gente, cerveja artesanal é aquela produzida em microcervejarias independentes. Ou seja, aquela que produz até 50.000 (cinquenta mil) hectolitros de cerveja anuais e que não está sob as asas de alguma grande cervejaria — Ambev, Heineken, Petrópolis...
Qual critério é o seu?
Se for o mais "xiita", pode esquecer a "democracia cervejeira" dos primeiros parágrafos: os grandes grupos, que possibilitaram boa parte da popularização de cervejas artesanais nacionais e importadas, já arrancam o selo de artesanal.
Ou seja: sabe aquela bacanuda de Chicago ou da Bélgica? Ou aqui perto mesmo: aquela famosa de Campos do Jordão ou a outra de Blumenau. Goose Island e Hoegaarden são da Ambev, Baden Baden e Eisenbahn, da Heineken. Tirem suas conclusões artesanais.
Pessoalmente, aboliria o artesanal da história. Com o tempo, percebi que minha defesa é pela cerveja que agrada, que harmoniza, que acolhe.
O termo "gourmetizou", criou uma verdadeira legião de sommeliers e pretensos sommeliers e só criou uma divisão entre os que bebem bem e os que querem que você ache que bebe mal. Se a cerveja desuniu, perdeu sua função. Ponto.
Puro malte. De novo.
Eis um tema que vez ou outra pipoca por aqui no Siga o Copo. Já contei o que significa, para que serve e como engana muita gente.
Ainda assim, mais uma vez, é o principal chamariz do principal lançamento recente no mercado mainstream: a alemã Spaten, da Ambev.
Uma das Helles mais clássicas de Munique, criada em 1397 e com muita história cervejeira para contar, mas que virou "uma das primeiras puro malte do mundo".
Nada contra, inclusive bebo. Nada contra, inclusive está em muitos outros rótulos até de cervejarias que batem no peito para falar que usam adjunto sim e tal e coisa. Necessidades do mercado, vai ver?
Porém, ao elevar essas benditas duas palavrinhas puras e maltadas ao sinônimo de qualidade é simplesmente raso. É perder a oportunidade de fazer o mercado se diferenciar não só em estilos, em experiências, como também em referências.
A Spaten é a tradução do que a cultura cervejeira tem de mais tradicional. Como não aproveitar isso para falar da riqueza cervejeira da escola alemã?
Como não introduzir Helles como o próximo estilo a ser idolatrado pelo público brasileiro? Sonho meu.
Através da mesma cervejaria, tivemos um tremendo exemplo de cultura cervejeira: lembra de como falamos de lúpulo em 2018 graças à Hops?
Como saber o que eu bebo?
Poderia indicar que procure seu "sommelier de confiança", mas nem sempre o papo com especialistas é proveitoso para o público final. Nem vou fazer meu "jabá" e indicar a imprensa cervejeira, que não tem lá dias muito bons, garanto.
Por mais que eu aqui e muita gente tente alcançar quem mais bebe cerveja, a verdade é que não conseguimos ainda, não. Marca gigante, propaganda cara e um time espalhado por TV, outdoors e redes sociais têm alcance muito maior, claro.
Então fica o apelo para vocês, gigantes do mainstream que me garantem em cada release que trabalham pela cultura cervejeira: não vale vender cerveja "diferente" sem contar o que ela tem de especial e único.
Um público bem informado, encantado com a infinidade de opções, de histórias, de referências não será menos fiel que o "brahmeiro" de todo dia. Se podemos beber bem, mais barato e temos acesso a um universo globalizado, que também seja melhor para o copo e a cabeça.
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