Texto em que o autor apresenta e defende suas ideias e opiniões, a partir da interpretação de fatos e dados.
O melhor, o pior e o inesperado das cervejarias de Chicago
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Não tinha como negar: numa viagem a Chicago eu tava mesmo seca para conhecer a Goose Island. Criada em 1988, é a cervejaria mais conhecida da cidade e uma das mais famosas dos EUA. Mestra em estilos populares, como IPA e suas variações, não à toa, se espalhou pelo mundo (e fincou os pés e tanques aqui no Brasil).
Eu AMO as cervejas produzidas por lá, tenho a Bourbon County como uma das bebidas "da vida" e, claro, queria fazer algo para o blog sobre o brewpub deles na terra-natal e provar algo que só encontraria lá e tudo mais. Más notícias: dei com a cara na porta, ou quase isso.
Cheguei a Chicago em plena Black Friday e, como todos os lugares da cidade, a Goose fez algo especial para a data. Resultado: bar lotado, atendimento nervoso e eu, cervejeira cheia de expectativas, acabei frustrada. A má vontade em me arrumar um canto que fosse no lugar (eu encararia calçada a 1°C negativos numa boa, amigos. Inclusive daria graças a Deus por não estar num mar desmascarado) e o muxoxo quando contei que vinha de longe e só tinha aquelas horinhas foi brutal: larguei mão, fui embora. P da vida.
Traída pelo hype, o rebote foi um almoço tardio regado a root beer (um negócio com gosto de cânfora),a salvação uma Vienna Lager roubada de um coleguinha caridoso: a lager certa na hora certa (de qual cervejaria? Não sei). Ok, cerveja de Chicago, você ainda não me perdeu.
O tour das cervejas
Para quem não manja conceito de viagem de imprensa é o seguinte: você se diverte, se apaixona, mas está trabalhando. A programação é apertada, e as antenas estão ligadas o tempo todo para sair alguma matéria bacana — no meu caso, a vontade é não reproduzir o que vejo em todo guia de viagem. Aliás: depois dessa leitura, pode ir para as 12 horas na cidade ;) Roteirinho carinhoso.
Quando soube que a Choose Chicago tinha colocado um tour de cerveja no roteiro, vibrei. Quando vi que não teria Goose Island, fiquei intrigada, mas depois saquei: é claro que a história de "Ambev, milho, demônio" também é forte lá e, desde 2011, o ganso vendeu alma e blábláblá.
O tour The Barrel Run passa por 3 cervejarias locais e foi ali que conheci o melhor e o pior dos cervejeiros de Chicago (e relembrei o que os brasileiros insistem em copiar — ops... se inspirar).
É bonito ser feio: Lake Effect Brewing
Começamos por uma cervejaria pequena e meio caótica. Ao lado de tanques apertados em uma salinha improvisada, provamos uma IPA desequilibrada (amargor nada agradável, uma bomba bizarra de lúpulo como muita gente ainda acha que é "cerveja de verdade"). Ao lado de barris de madeira, provamos três envelhecidas: uma sour, duas RIS. Uma delas, boa.
O cervejeiro me puxa de lado vendo que meu interesse não era bem virar os copos de plástico, comento qualquer coisa da cena cervejeira no Brasil e ganho um simpático "ah, bacana". Nice.
Querida desconhecida: Old Irving Brewery
Ainda meio decepcionados com o começo do tour e um tanto cansados dos berros do resto do grupo que nos acompanhou pelas cervejarias, veio o que o copo esperava: uma cervejaria linda, atendimento gentil e esperto (sem ser mala-cervejeiro) e harmonizações com doces (uma torta de limão e uma outra de chocolate).
Kolsch, Hazy IPA e RIS enfileiradas: perfeitas. Tem uma aposta leve para o mundo (alow, Brasil. Vamos tentar Kolsch, vai), um modismo que virou clássico dos EUA e o estilo perfeito para o friozão local (ainda acho que nada a ver com o frio brasileiro, mas isso é outra história).
Enquanto escrevia este texto, quase 3 semanas depois de voltar, soube que funcionários testaram positivo para covid e a cervejaria fechou. "Be well", diz o aviso nas redes. Faço coro aos bebedores de lá e de cá: be...well. Se testem, fechem o que puder representar perigo, se mascarem. A pandemia não acabou. A ômicron é só um sinal disso e a postura de um bar no mundo é exemplo pra muita gente por aqui.
A revolucionária photoshopada
Já conhecia a Revolution Brewing, já até entrevistei o dono por aqui. Mas chegando lá vi que o ambiente é efeito de um ótimo fotógrafo e a cerveja (pelo menos a que eu tomei. Uma Sour) não tem nada de tão espetacular. Quem sabe um dia eu volto. Mas nada de emoções fortes.
Fora do bar, para sempre na memória
Além da Old Irving, tive outras duas experiências cervejerias que marcaram a viagem — e que entraram na lista do que preciso rever na minha volta a Chicago (que o destino sabe: vai acontecer). Ambas longe dos bares, brewpubs, quiosques cervejeiros.
No celebrado restaurante Girl & The Goat, provei a deliciosa Saison Campesino, da Casa Humilde. A história da cervejaria é um banho de cultura: dois irmãos mexicanos-americanos com um pé nas raízes latinas e outro na cultura de beber com prazer.
Num outro restaurante, mais escondidinho, provei a Chicago Pilsner Pulaski Pils, da Mapplewood. Uma Pilsen clássica, mas com selo americano de orgulho amargo: lúpulos Warrior (que também está na clássica 60 Minute IPA, da Dogfish Head) e Santiam (cultivado no Oregon).
As duas me colocaram aos pés da Chicago cervejeira, me fizeram aplaudir de pé a escola que carrega no lúpulo (nem sempre com sabedoria) e tem tanto a ensinar sobre identidade, inspiração e cultura cervejeira.
Eu, que me voltava tanto para o outro lado do Atlântico, brindo feliz às descobertas do Tio Sam. Cheers ;)
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*A jornalista-cervejeira viajou a convite do Choose Chicago
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