Topo

Siga o Copo

OPINIÃO

Texto em que o autor apresenta e defende suas ideias e opiniões, a partir da interpretação de fatos e dados.

Yes, we love cachaça: Rabo de Galo conquista lugar em Olimpo de clássicos

Rabo de Galo é o segundo drinque clássico brasileiro reconhecido por insituição internacional - Divulgação
Rabo de Galo é o segundo drinque clássico brasileiro reconhecido por insituição internacional Imagem: Divulgação

Editora e colunista de Nossa

16/06/2023 04h00

Receba os novos posts desta coluna no seu e-mail

Email inválido

Em novembro de 2018, às vésperas do segundo Concurso Nacional do Rabo de Galo, este Siga o Copo contou as ambições deste drinque tão brasileiro.

Quase cinco anos depois, o mundo está aos nossos pés e os anjos disseram amém: Mestre Derivan, um dos maiores nomes da coquetelaria brasileira, batalhou e foi o maior defensor do Rabo de Galo como drinque clássico. E isso só acontece oficialmente com o reconhecimento da IBA (International Bartenders Association) — o que só havia acontecido para os brasileiros com a caipirinha.

Este professor dos mixologistas brasileiros, que nos deixou em maio deste ano, conseguiu o feito, como anunciado nas redes sociais da IBA nesta quarta (14).

"No meu ponto de vista, o Rabo de Galo é o clássico brasileiro que foi divisor de águas na coqueteleira entre drinks doces e mais complexos", disse Marcelo Serrano em conversa com a coluna.

Outro aluno-fã e nomão da coquetelaria nacional, Spencer Jr também celebrou o legado e a vitória póstuma de Mestre Derivan:

"O que era apenas uma mistura cheia de sabor e complexidade tornou-se um ícone da coqueteleira brasileira, um símbolo da nossa cultura etílica. É uma vitória e estamos todos felizes por isso", comemorou.

Rabo de Galo - Reperodução/Instagram - Reperodução/Instagram
Rabo de Galo
Imagem: Reperodução/Instagram

Um Rabo de Galo para cada bebedor

A simples receita que, em seu original, leva somente cachaça e vermute, carrega muito mais que a bandeira de uma crescente (e cada vez mais qualificada) classe de apaixonados pelas combinações e alquimias dos drinques.

Com 64 anos de história, o drinque nasceu em São Paulo com ajuda dos imigrantes italianos.

Quem tem 40, 50 anos tem uma história com o Rabo de Galo. O problema é o público mais novo, que precisa ser integrado", disse à coluna Mestre Derivan lá em 2018.

Se na época era um desejo que o Rabo de Galo fosse reproduzido em sua receita clássica e também em variações para atrair o público mais jovem, hoje isso é realidade: ele está do boteco da esquina ao disputado bar de coquetelaria assinada. Hoje, chegamos ao que o professor almejava e temos "cara sofisticada ao drinque popular".

A hora e a vez da cachaça

E a importância do Rabo de Galo no mapa dos clássicos não é importante só por estar elencado na IBA, mas também pelo admirável mundo novo das cachaças, nosso destilado brasileiro por excelência que, aos poucos, se despe dos preconceitos.

Também na entrevista de 2018, Derivan profetizava o que se consolidou no reconhecimento internacional: "Há alguns anos, um bartender jamais queria ser reconhecido como o rei da Caipirinha. Hoje, muitos querem ser conhecidos com drinques de cachaça".

capa-cachaça - Edson Ikê - Edson Ikê
Imagem: Edson Ikê

Quem ainda não se convenceu de que este é produto brasileiro com maior potencial de sucesso pelo mundo e tão nobre quanto vodca, gim, entre outros, recomendo algumas leituras: o especial divino de Pedro Marques aqui em Nossa, e a série de reportagens recentes no Punch norte-americano (em inglês).

Não foi pequena a campanha dos profissionais dos drinques a cada post da IBA, como não tem sido despercebida o bom momento da cachaça também em coqueteleiras gringas — da China a Paris, de Lisboa a Los Angeles, é cada vez mais frequente a presença do destilado de cana nas cartas de drinques. Ainda que, majoritariamente, em forma de caipirinha.

Drinque Macunaíma, criado no bar Boca de Ouro - Pablo Lobo - Pablo Lobo
Drinque Macunaíma, criado no bar Boca de Ouro
Imagem: Pablo Lobo

Sonhando alto, como nosso Brazilcore biriteiro permite, cito novamente a matéria do meu colega, amigo e colunista Rafael Tonon também para o Punch, o Macunaíma (que leva cachaça, suco de limão, xarope de açúcar e Fernet): ele está aí para imaginarmos, no futuro próximo, uma trindade cachaceira e brasileira?

Mestre Derivan sonhou, batalhou e realizou. Que seja exemplo e inspiração. Yes, we love cachaça, and Rabo de Galo, of course.

*Trilha sugerida de harmonização com essa coluna: Brasil Pandeiro, Novos Baianos

Quem quiser bater um papinho, sou a @sigaocopo no Instagram.