Siga o Copo

Siga o Copo

Siga nas redes
Reportagem

Sumidade do saquê aplaude brasileiros e pede que você largue a sakerinha

Aos bebedores brasileiros, o saquê não é uma bebida exatamente nova. Porém, por mais que a colônia nipônica seja enorme por aqui e a culinária japonesa e suas corruptelas tenham se tornado bastante populares no Brasil, nós ainda não lemos nem a primeira página deste fermentado de muitas histórias.

Aqui na coluna, a bebida já apareceu recentemente e não foi à toa: estamos cada vez mais interessados em desbravar esse universo para além do líquido desconhecido servido nos copos quadrados daquele rodízio.

(Aliás, descobriu que tem nas mãos um bom saquê? Separe suas melhores taças para degustá-lo como um vinho)

Haruo Matsuzaki
Haruo Matsuzaki Imagem: Arquivo pessoal

Em sua segunda vez no Brasil, Haruo Matsuzaki, autor do livro "The Sake Book" e presidente da Japan Sake Exports Association participou de uma verdadeira maratona ao lado de Fabio Ota, fundador da Mega Sake, para degustações, aulas e um bate papo com a coluna.

Após pouco menos de um ano e meio desde a sua última visita, uma surpresa.

Noventa pessoas participaram da minha aula desta vez. Mesmo no Japão eu não lembro de ver tanta gente em uma masterclass ou workshop sobre saquê, conta.

E para quem acha que paciência é virtude deles, Haruo enfatiza que foram mais de duas horas de uma plateia atenta e "faminta por informação".

Este encantamento repentino e recente, acredita Haruo, se deve à curiosidade pelo método de produção do saquê ("que é muito complexo e misterioso") e, claro, o sabor e aroma da bebida, ainda muito novos aos consumidores fora do Japão.

Continua após a publicidade

A hora do saquê

Após descobrir o "charme" do saquê na universidade, Haruo passou a explorar e a estudar esse universo. Após 40 anos, viu as quase 2500 fábricas da bebida minguarem para quase 1200.

"Naquela época, não se falava tanto da qualidade do saquê e não tínhamos ginjo ou junmai (saquês premium) na quantidade que vemos hoje. Mas fiquei fascinado pelas diferenças sutis de um saquê para outro, mesmo nos produtos mais baratos. A diversidade era maravilhosa e me fez entrar nesse mundo", conta.

Templo decorado com barris de saquê, em Tóquio
Templo decorado com barris de saquê, em Tóquio Imagem: Hakan Nural/Unsplash

Atualmente, Haruo aplaude as novas gerações no Japão, que além de levarem à tradição novas tecnologias, estão preocupadas em levar a bebida para além dos ambientes e harmonizações mais conservadores.

Exemplo disso é saquê dividindo a mesa com massas, hambúrgueres, pães e mais itens bem distantes do sushi e sashimi que povoam nosso imaginário.

Continua após a publicidade

Haruo destaca a crescente presença dos saquês espumantes, mais ácidos e mais aromáticos, que casam com perfeição com o admirável mundo jovem.

Mais gosto, menos moda

Restaurante em Tóquio
Restaurante em Tóquio Imagem: Kris Sevinc/Unsplash

Diante deste interesse maior do público e, felizmente, dos estabelecimentos que promovem tanto a bebida, quanto a diversa gastronomia japonesa, o Brasil pode começar a se inspirar em outros mercados mais maduros, que têm feito diferença na hora de espalhar a "palavra do saquê" por aí.

Para Haruo, os países próximos ao Japão são, obviamente, favorecidos e são mercados tão maduros quanto o local, citando Hong Kong e Taiwan. "Eles tendem a beber o que tem mais fama no Japão. Para eles, é sinônimo de qualidade e, na maior parte dos casos, são também os mais caros".

O mercado para quem Haruo torce mais, porém, é bem diferente - e pode inspirar os brasileiros.

Continua após a publicidade

Os bebedores norte-americanos gostam de beber o que faz mais sentido aos seus gostos pessoais, não necessariamente de marcas famosas. Eu acredito - e espero - que seja o caminho do Brasil. Colocar suas preferências acima da fama e dos modismos, opina.

E a sakerinha?

Sakerinha de uva com capim santo
Sakerinha de uva com capim santo Imagem: Richard Cheles/Divulgação

Se para muita gente os drinques são porta de entrada para bebidas menos conhecidas ou populares, no caso do saquê Haruo prefere que não seja essa a abordagem.

O saquê é uma bebida rica em aromas e sabor, que são frequentemente elegantes e sutis. Pode ser complicado identificá-los num coquetel, acredita.

Ou seja, se seu intuito é provar um bom saquê e se apaixonar pela bebida, não vai ser na sakerinha que isso vai acontecer. "Como a caipirinha, contém açúcar e frutas que podem disfarçar o real sabor do saquê", analisa.

Continua após a publicidade

Ainda assim, apresentado ao drinque brasileiro e à versão pretensamente nipônica, confessa preferir a segunda sem disfarçar que nosso destilado pode ser ainda muito forte para seu gosto - mas que em uma terceira visita, tudo pode mudar.

Trato feito, Haruo: a gente se encanta pelos mistérios do saquê e o Japão, pelos sabores eufóricos da nossa cachaça. Kampai!

*Filme sugerido para harmonização com essa coluna: "Kampai! For the Love of Sake" (disponível no YouTube)

Quem quiser bater um papinho, sou a @sigaocopo no Instagram.

Reportagem

Texto que relata acontecimentos, baseado em fatos e dados observados ou verificados diretamente pelo jornalista ou obtidos pelo acesso a fontes jornalísticas reconhecidas e confiáveis.

Deixe seu comentário

Só para assinantes