Do Japão a Taiwan, Ásia inspira os drinques mais surpreendentes do momento
Quando você quer "beber a Ásia", o que vem na sua cabeça? Para a enorme maioria o saquê japonês, para alguns uma cerveja (também japonesa), e até uísque. Adivinha? Sim, made in Japan.
É claro que a predominância nipônica se explica pelo sucesso que sua gastronomia faz por aqui. Para beber, surgem saquês nunca antes desbravados pelo brasileiro.
Mas há muito mais a ser experimentado, no Japão e fora dele. Com vocês, a Ásia maravilhosa traduzida em muitos e bons drinques.
Cadê o saquê?
Vamos começar pelo que muita gente conhece. Ou ACHA que conhece. O Japão da coquetelaria brasileira tem feito coisas que nenhum japonês poderia imaginar - não, não é a sakerinha.
Kevin Cavalcanti, e sua mais recente carta para o Imakay revela nada menos que 14 drinques e todos eles com bases de shochu, awamori - não sabe o que são estes destilados? Cola nessa super matéria do Sergio Crusco - e o surpreendente saquê nigori (branco e turvo).
Apostando nos drinques que pegam mais leve no álcool, algumas criações do bartender de apenas 25 anos se destacam:
O floral Hana, com saquê nigori, vodca, redução de lichia, limão siciliano e licor de flor de sabugueiro.
Meu favorito, chamado Matsuri, é uma espécie de Margarita à moda nipônica, com shochu de cevada, tequila infusionada com pimenta de cheiro, limão tahiti, Contreau e borda de sal katsuobushi com Campari.
Já o queridinho de Kevin é tudo menos óbvio: o Okinawa tem awamori como base e leva cold brew de chá de jasmim com água de coco, jerez Oloroso, Frangélico, bitter de laranja e bitter de ume, a ameixa japonesa.
Trago destaque para a variedade e versatilidade etílica do país. É uma carta que o que mais brilha é o spirit, conta.
No comando das coqueteleiras do Shiro, o pequeno notável bar em cima do restaurante Kuro comandado por Ana Gumieri, por exemplo, também trouxe o awamori.
Para preservar o frescor do destilado a escolha foi trazer salinidade vínica e um cítrico natural.
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Quero receberAchei que o Jerez e a kinkan, uma laranja japonesa, fariam uma boa combinação. Para finalizar, adicionei o bitter de laranja que trouxe adstringência e aroma cítrico, explica. E nasceu assim o Laranja De Ouro.
No trio Tan Tan, mais inspiração asiática, mas também de olho no Brasil. Como explica Caio Carvalhaes, de lá, surgem umeboshi e yuzu. Daqui, priprioca e açaí. E do mundo, a banana.
No Chinese Dessert, inspirado na sobremesa chinesa com a fruta caramelada, a fruta é o toque final em uma base de cachaça, vermute, Angostura e gergelim tostado.
E o awamori surge também em uma das casas de Thiago Bañares, com Chaganju, em que o destilado tem a companhia de espumante de carambola, manga e priprioca.
Taiwan no copo
Uma referência bem menos popular em terras brasileiras é Taiwan e um dos lugares mais interessantes para conhecer a riqueza da pequena ilha é o Aiô.
Na batuta esperta de Mauricio Barbosa, outro jovem nome que tem abalado copos, taças e mentes etílicas, dois drinques bem específicos trazem muitas referências de Taiwan.
Fiz uma pesquisa muito grande e bem intensa de ingredientes taiwaneses usados dos restaurantes renomados aos bares, conta Maurício.
A base, como em Taiwan e em boa parte do planeta, é de bebidas já consagradas, como vodca, uísque, cachaça e jerez, "mas todos eles eu sempre coloco algum ingrediente taiwanês", explica. "E também texturas né, muita textura".
Os mais característicos dessa toada, segundo o bartender são o Improved Kavalan Cocktail, feito à base de açúcar mascavo, uísque taiwanês, bitter aromático e absinto.
Uma boa pedida também é o Kimmen, com um destilado de sorgo de cereais chamado Kimmen Kaouliang, suco de limão, jerez fino, xarope de mel com vinho branco e bitter de pêssego. Tudo isso finalizado com shissô.
Pop Coreia
Entre tradição, modernidade e modismos, a Coreia do Sul tem um fandom apaixonado no Brasil e nada fica de fora. Na música, séries, gastronomia e mais especificamente nos drinques, o país asiático caiu nas graças dos brasileiros.
Quem quer mergulhar em uma das experiências coreanas mais interessantes e saborosas, que é seu churrasco, o Bicol é um prato cheio. E as criações etílicas do jovem chef Gregorio Kang não decepcionam.
Quer mais um destilado típico para a sua lista do "preciso provar?". Anota aí: na Coreia, quem reina é o soju, um destilado a base de arroz e, em versões mais populares, também outros cereais.
É ele também quem dita o drinque mais interessante da carta, chamado Dalgona Martini.
No lugar dos clássicos vodca e licor de café, Gregório utiliza o soju, vermute seco e Amaro Averna e ao invés do café espresso, um creme de café coreano dalgona (receita que viralizou pouco antes da pandemia).
O drinque fica bem balanceado e representa bem a Coreia pelo soju, e o Dalgona, que em sua essência é um biscoito feito em barracas de rua, o mesmo que apareceu na série 'Round 6', conta.
Temperada Tailândia
Não que esta coluna queira influenciar seus desejos de viagem, mas ao que tudo indica a Tailândia logo, logo estará entre eles.
Um motivo mais distante e sem data é a terceira temporada de "The White Lotus" que está sendo gravada por lá. O outro, bem mais próximo, é o Ping Yang, um dos restaurantes mais badalados da capital paulista e praticamente a embaixada culinária da Tailândia por aqui.
Para não falar da comida comandada por Maurício Santi (ainda), vamos com os drinques elaborados por André Ferreira.
No DNA tailandês da casa, se destaca o PY Sour, um sour clássico com gim, limão, clara de ovo, açúcar e que varia a erva do dia, sempre escolhida fresquíssima.
Entre os mais clássicos, chama atenção o Chaplu Sour.
Chaplu é uma folha clássica tailandesa, que a mãe do Mau (o chef Mauricio Santi) planta pra nós e que aparece em vários pratos do nosso cardápio, explica.
Outros ingredientes típicos surgem pela carta e cardápio, como a folha de Rao Ram, muito herbal e floral no nariz. Já na boca, fica picante. E nos drinques, dá vida ao Rao Ram Garita, versão do tradicional coquetel mexicano feito à base de tequila, cointreau, suco de limão e açúcar.
*Trilha sugerida para harmonização com essa coluna: "Little Wonder", de David Bowie.
Quem quiser bater um papinho, sou a @sigaocopo no Instagram.
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