Sem álcool é sem graça? Drinques ganham até movimento para sair do 0x0

Porém, passada uma pandemia, nossa relação com a bebida foi pensada e repensada e uma nova geração não está morrendo de amores por bebidas pancada - sem julgamentos desta vez, GenZs. As cervejas sem álcool estão bombando, há exemplares de vinhos zero e a coquetelaria de países tradicionais já colocou os mocktails como realidade.

Por que não passamos da tendência?

Diante de situações, como ser o motorista da vez, ou não ser tão fã de álcool, ou não estar num dia para beber ou querer loucamente agradar seu objeto de afeto abstêmio, ficamos anos órfãos de reais iniciativas para o beber zero ou "low".

Uma pesquisa feita pela IWSR nos Estados Unidos, em abril de 2023, mostrou que 37% dos adultos entrevistados não haviam consumido álcool nos 6 meses anteriores, e 54% entre os jovens, evidenciando uma mudança nos hábitos de consumo.

Em entrevista à coluna, com 21 anos de estrada nos coqueteis, Rafael Pizanti, gerente de inovação em bebidas e mixologista da empresa Monin não esconde:

Todo bartender já foi contra drinque sem álcool, já teve ranço. Já pensou 'lá vem o chato que não bebe'. Ficava em pânico quando me pediam coisas sem álcool. Fazia um x-tudo.

E em muitos lugares é assim.

O que falta, em sua opinião, é falta de imersão no assunto. E não somente dos profissionais.

"Essa pessoa que não bebe não tem sido compreendida. Muita gente ainda tem vergonha de pedir o mocktail por se sentirem julgadas. A palavra aqui também é inclusão: todo mundo precisa se sentir confortável e bem servido em um bar"

Rafael, por exemplo, teve seu primeiro contato com mocktails em 2019, durante uma grande feira de bebidas em Berlim em que destilados sem álcool já pipocavam e cartas de mocktails estavam engordando ao lado das de autorais e clássicos alcoólicos.

O cenário era - e ainda é - bem diferente do brasileiro.

Aqui, tudo ainda engatinha. Nos bares mais consagrados de Londres, por exemplo, há versões zero álcool para quase cada um dos alcoólicos. Entre os destilados sem álcool, algumas inciativas pipocam aqui e ali, sem tanto alarde - como é o caso das produções do gigante Gabriel Santana em seu Cordial.

Mas dá pra ser gostoso?

Acredite, há um mundo imenso além do suco com água com gás e soda com xarope - combinação, aliás, que se aproxima mais de um refrigerante que de um drinque, como ressalta Rafael.

Drinque sem álcool pode ser tão sofisticados, vendáveis e complexos quanto um com álcool.

O mixologista cita, por exemplo, bases surpreendentes, como água de azeitona e de pimenta jalapeño.

E o brasileiro tem uma herança vasta de infusões em forma de tinturas para brincar - quem ainda não leu "Da Botica ao Boteco" de Néli Pereira, fica a dica para começar a se apaixonar por esse universo.

"A gente precisa ter complexidade de sabor e de criação para que você nem perceba que é um coquetel sem álcool", crê Rafael.

Sobre as técnicas, no Brasil não contamos com as ferramentas já populares em outros países em que a coquetelaria está alguns passos à frente. "Então temos que nos virar nos 30, usar chás, como infusões de zimbro, anis, trabalhar com cascas, raízes, café".

O resultado dessa alquimia toda são bebidas com amargor, textura e até mesmo percepção de potência que imaginávamos serem possíveis somente possíveis com álcool."Há outras técnicas como desalcoolização por aquecimento para obter bitters sem álcool, além da utilização de vinhos e cervejas zero ABV que ajudam a desenvolver receitas", enumera Rafael.

Movimento "pra ontem"

Como se vê, não são poucos os obstáculos. Mas há iniciativas e profissionais de olho nos mocktails não só como tendência, mas como algo imprescindível à satisfação de mais clientes - ou seja, mais gente na mesa, mais clientes fiéis, mais grana no caixa.

Essa a intenção, por exemplo, do Mocktail Movement, iniciativa da marca de xaropes Monin que espalha receitas sem álcool para mais de 40 bares e restaurantes de todo Brasil a partir desta quinta (23).

São Paulo é o topo da pirâmide para desconstruir alguns hábitos que nos grandes pólos já pelo menos estão em pauta. Mas isso ainda não chegou a lugares que ainda têm a cultura do coquetel de frutas com leite condensado, por exemplo, detalha.

Como profissionais de peso que abraçaram a conversa estão a própria Néli e seu Espaço Zebra, além de Marcelo Serrano e Márcio Silva, entre outros gigantes da indústria.

A ideia do movimento, segundo a organização, é levar informação ao bartender, ao dono de bar e ao consumidor. E importante: sem prazo para acabar.

"O projeto eterno até as coisas andarem sozinhas e conseguirmos levantar essa bandeira definitivamente", promete Rafael.

A ação conta com a participação de mais de 40 bares e restaurantes das cidades de Belo Horizonte, Brasília, Curitiba, Fortaleza, Goiânia, Recife, Rio de Janeiro, Salvador e São Paulo, que irão destacar dois drinques não alcóolicos em suas cartas.

Mais informações no site www.monin.com.br/mocktailmovement e no Instagram da marca @moninbrasil.

Coincidência ou não, o projeto nasceu quase ao mesmo tempo que a divulgação da Monin Cup, com desafio de elaboração de mocktails e de drinques com baixo teor alcoólico. Desta vez, uma ideia lá da matriz francesa.

"A quantidade de receitas sem álcool inscritas foi muito alta. Muito surpreendente o quanto eles se arriscaram", conta Rafael.

Sem dúvida, um admirável mundo zero.

RECEITA para sair do 0x0 com "zero"

Viu as fotos da matéria? Todos zerinho zerinho. Veja como fazer as três receitas em casa.

Tangerine White Lady

* Chá de zimbro, cardamomo e casca de toranja

Em um recipiente grande, amasse as bagas de zimbro e cardamomo, adicione a água quente e deixe esfriar. Armazene em geladeira por 12h e em seguida adicione as cascas de toranja e deixe descansar por mais 6h. Coe tudo e armazene em geladeira.

Modo de fazer: Em uma coqueteleira, adicione todos os ingredientes e bata sem gelo por alguns segundos. Em seguida, adicione bastante gelo e bata com bastante força. Faça uma dupla coagem para taça coupé previamente resfriada e perfume e decore com casca de limão.

Green Mock

*Suco de salsão

Pique grosseiramente o salsão. Em um liquidificador, adicione a água e vá adicionando o salsão picado aos poucos. Quando finalizar, coe e armazene em geladeira por no máximo 3 dias.

Modo de fazer: Em um copo alto, adicione o MONIN Gengibre, o suco de limão, o suco de salsão, a pimenta jalapeño e a salmoura de azeitona. Adicione bastante gelo e mexa bem. Finalize com a água com gás e mexa delicadamente. Decore com azeitona no palito e casca de limão siciliano. Saúde!

Amalfitano

*Água de tomate

Pique os tomates, envolva-os em bastante sal e reserve por alguns minutos. Deixe os tomates em filtro de café na geladeira por 12h para a água escorrer límpida. Armazene em geladeira por, no máximo, 3 dias.

Modo de fazer: Em um copo collins, adicione bastante gelo, o MONIN Romã e a água de tomate. Finalize com o refrigerante de gengibre e mexa delicadamente. Decore com azeitonas no palito.

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