Único bar brasileiro no 50 Best festejou mostrando ao mundo... outros bares
Se muita gente do lado de fora dos balcões começou a se ligar nas listas 50 Best há pouco tempo, o World's 50 Best Bars não é território desconhecido para o Tan Tan, em São Paulo.
Em sua estreia na lista, em 2021, conquistou o 87° lugar na lista estendida (de 51 a 100º lugar). Em 2022, 62°. Em 2023, 56°. Em 2024, entre os 50 melhores, chega ao 31°.
Motivo de festa? Para Thiago Bañares e Caio Carvalhaes, óbvio. Porém, eles parecem não querer estar sós e talvez seja esse o grande trunfo da dupla chef-headbartender mais celebrada da capital paulista em mais um ano premiado.
Vídeo dos emocionados
Imediatamente após o anúncio da ótima colocação, no Instagram da casa subia uma verdadeira ode à indústria: a festa do Tan Tan seguia para o Picco, o Nosso, o SubAstor, o Santana, o Exímia, o The Punch Bar, o Elena, até voltar à outra casa da dupla, The Liquor Store. (não conhece? Ao longo deste texto, coloquei posts do Instagram de todos eles. Só seguir)
Rolou uma lagriminha aí? Quem não se emocionou, não sabe a dureza que é ver gente na indústria (não só nessa, claro) que lota meu inbox fazendo a caveira de colega por uma explícita dor de cotovelo.
Mas não me deixei de me perguntar: por que comemorar o prêmio com supostos "concorrentes"? Há bom motivos e não se trata, somente, de amizade, como conta Bañares em conversa com a coluna.
Um pódio para vários
Muita gente torce o nariz quando se trata de premiações, rankings e listas em geral, mas a repercussão do 50 Best, principalmente nos últimos anos, é incontestável.
Diante disso, Bañares conta que, desde que despontou na lista, ainda na pandemia (e também único brasileiro naquele ano e no seguinte), o Tan Tan surfou no sucesso, se fez conhecer pelo mundo e que, por isso, muita gente da indústria começou a olhar e vislumbrar a possibilidade de estar na lista.
São esses que um dia estiveram (como SubAstor) e desejam estar nela que foram acolhidos na ideia de Bañares.
Beleza, eu quero estar na elite dos bares, mas eu não quero estar sozinho lá. A curto prazo, para mim é muito bom ser o único bar na lista, mas a longo prazo não é. Quanto mais bares tiver na lista, mais gente vem para cá e mais a indústria vai olhar pra gente como um lugar de desenvolvimento de produto de tendências. É mais interessante do que um lugar único no pódio, declara.
O segredo da lista
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Quero receberClaro que há mais gente de olho nas estrelas - ainda que muitos não assumam ou se mexam tanto para isso.
Se você, bar, não vai chegar no Bañares para perguntar qual o segredo, fica tranquilo. Ele entrega na maior sinceridade:
"É uma lista que tem uma dinâmica política: você precisa ganhar votos para poder se classificar e subir. E como que você ganha esses votos? Fazendo uma campanha", explica.
Para mostrar trabalho, propósito, quem você é, de onde você veio, como atingir as pessoas que estão fora da sua região?
Lá na estreia do Tan Tan no ranking, muitos guests pelo mundo, muita troca com profissionais que já desfilavam pelas listas há anos. E as viagens aconteciam do jeito que o orçamento permitia, com Bañares, chef de cozinha, "atacando" de barback de algum de seus bartenders.
Bañares explica, ainda, que não se trata de melhor ou pior no ranking, mas sim uma contagem de votos para medir tendência e influência.
Homenagem-surpresa
Para Thiago, no Brasil, a gente tem um trabalho tão bom quanto outros bares que estão na lista.
O vídeo foi a melhor maneira que encontrei para falar para a indústria 'pô, vibre e torça pela gente também, vamos juntos. Acho que dá para todo mundo, dentro do seu conceito, avançar e brilhar. E a ideia não era só de mostrar os bares, mas também convidar a gringalhada para o Brasil, diz.
Tudo isso de surpresa - não, rádio-peão biriteira conspiratória, não é um complô.
"Falei que eu ia dar uma aula lá no Madrid Cocktail Week e queria falar de mais bares no Brasil. Então ninguém sabia que eu ia postar depois da premiação. Comentei muito de maneira superficial e cara todo mundo topou de cara."
E não é que deu certo? Em São Paulo e Rio de Janeiro, os bartenders entraram na brincadeira e com direção e edição de Juliana Primon, da agência Barro, o vídeo foi finalizado no segundo seguinte ao anúncio do 31° lugar do Tan Tan.
A homenagem pegou todo mundo de surpresa e gerou barulho: já são mais de 81 mil visualizações desde o dia 22 de outubro. E detalhe: 60% do engajamento foi de pessoas de fora, que não eram seguidoras do bar e, que estão prontinhas para ver o melhor do melhor.
"A gente tá aqui pra receber e atender a expectativa do público. Esse é meu briefing depois de mais um prêmio", conta.
Unidos, mas diferentes
Por mais que se peça união, Bañares conta que, no dia a dia, a conversa não é muito ampla no sentido de debater as dores do mercado e tentar buscar soluções, "porque sempre todo mundo está numa correria absurda, seja correndo atrás de clientes, outros correndo atrás de mão de obra."
Ao mesmo tempo, para Thiago estar unido não significa que todo mundo tem que dançar a mesma música. Há diferenças de budget e abordagens.
Nosso maior desafio hoje é fazer com que os próprios bartenders entendam que temos conceitos diferentes e não seriamente somos um melhor ou pior do que o outro. Temos representatividades de Brasis distintos, mas que são Brasis. Ou seja, o meu Brasil tem o meu Brasil tem Japão como influência, mas não deixa de ser Brasil, afirma.
E um fato: quanto mais gente fizer coisas diferentes, mais oportunidades de atrair público local e estrangeiro para diferentes oportunidades, ocasiões, vontades, companhias... o Brasil é imenso.
O fato de ter, de novo, um único bar brasileiro na lista, claro, frustra muita gente. Mas Bañares espera que a homenagem amenize a sensação.
Não sou o único 31, tinha um monte de 31 comigo. E agora é isso, agora é trabalhar, todos os bares têm que aproveitar, a gente já sente que tem um fluxo de estrangeiro muito grande vindo já ao longo do ano, eu acho que o ano que vem vai melhorar, e agora é aproveitar e trabalhar, conclui.
Em 2023, esta coluna se encantava com uma trindade argentina de união e força: Tres Monos, Cochinchina e Floreria Atlantico pareciam anos-luz de consciência de que mercado se fortalece quando se olha para o lado.
Talvez ao olhar do leitor, o vídeo seja apenas uma homenagem bonitinha, ou um providencial guia para explorar bons tragos de São Paulo e Rio de Janeiro. Porém, para essa coluna, a ação cheira a novos tempos - ou, pelo menos, o desejo por eles. Só vai, só vamos.
*Trilha sugerida para harmonização com essa coluna: "Deixa eu dizer", de Cláudya... deixa, deixa, deixa eu dizer...
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