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Em Fortaleza, farol centenário que seria símbolo da Copa está abandonado
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3º42'S, 28º07'O
Farol do Mucuripe
Cais do Porto, Fortaleza, Ceará
O Brasil era outro em 2014. Naquele ano, a prefeitura de Fortaleza, cidade-sede da Copa, anunciou um projeto para restaurar o antigo Farol do Mucuripe, com direito a uma nova praça e um calçadão. Não foi em frente. A construção segue abandonada nesse nosso eterno sete a um.
Erguido com alvenaria, madeira e ferro por trabalhadores escravizados na década de 1840, o Farol Velho, como também é conhecido, funcionou por quase 100 anos. Já em 1846, foi atingido por um incêndio. Começou a funcionar somente em 1871, longos 45 anos após dom Pedro aprovar sua construção.
Piscava a todo minuto, e sua luz era visível a 24 quilômetros de distância. Consolidou-se como um importante marco da cidade — até no brasão do Ceará ele entrou, no fim do século 19. A antiga vila do Mucuripe inspirou os cearenses José de Alencar e Belchior e o wisconsiano Orson Welles, que veio para esses lados filmar a saga dos jangadeiros que foram até o Rio de Janeiro pedir melhores condições de vida e trabalho a Getúlio Vargas
Então, em 1958, obsoleto, o farol foi desativado. Mais de 20 anos depois, ganhou uma revitalização a fim de receber um museu, o que fazia todo sentido, por se tratar de construção histórica com bela vista litorânea. Só que o museu também acabou largado.
Desde então, o farol é um marco decadente na paisagem da comunidade Titanzinho, bairro pobre e esquecido pelo governo apesar da proximidade da avenida Beira-Mar e da praia do Futuro, os pedaços mais turísticos da capital cearense.
"Ele é o castelo tomado pelos meninos da praia, que, na falta de opções de lazer, fingem ser piratas e escorregam pelas muretas pedregosas", escreveu Beatriz Jucá no "El País". Em julho, a cúpula do farol veio abaixo. Moradores do bairro Serviluz cobraram a reforma. As secretarias estaduais de cultura e turismo afirmaram em nota que o entorno será revitalizado. A ver.
O "Diário do Nordeste" lembra a importância do farol para a comunidade. Na rua da frente, jogavam bola. Na calçada, olhavam o mar. As escadarias eram palco para dança e música antes da pandemia. Mutirões de limpeza e intervenções urbanas, como o plantio de mudas no entorno, tentam resgatar esse símbolo abandonado da cidade, tido como a segunda construção mais antiga ainda de pé em Fortaleza.
Em 2017, a capital ganhou um novo farol, dois quilômetros para dentro, no bairro Vicente Pinzón. Com 72 metros de altura, é três vezes mais alto que o antigo e o maior das Américas. Segundo o site da Marinha, ele "conserva o aparelho lenticular do farol anterior, de alto valor histórico e simbólico, por ter pertencido a Dom Pedro II".
Enquanto isso, o antigo farol aguarda.
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