Texto em que o autor apresenta e defende suas ideias e opiniões, a partir da interpretação de fatos e dados.
Por que esta ilha no Pacífico causou alvoroço na internet
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10º03'S, 152º18'O
Vostok
Ilhas da Linha, Kiribati
Dia desses uma galerinha imaginativa e conspiratória soltou o verbo no fórum Reddit acerca de uma imagem sinistra que descolou no Google Maps (essa aí acima). "Seria um lugar censurado por questões geopolíticas?", perguntavam os mais pé-no-chão. "Ou a cratera de um vulcão? Quiçá um portal para outra dimensão?", questionavam os poetas da internet.
A imagem, convenhamos, aguça a curiosidade. Um buraco negro que praticamente engole uma ilhota aparentemente paradisíaca, como se o monstro de fumaça de "Lost" tivesse tomado uns remedinhos anabolizantes. Fora que o formato da ilha, essa palheta de guitarra esquecida por algum deus musical em mares distantes, é um tanto instigante.
Há uma lista de lugares "inacessíveis" nos serviços digitais de mapas. Em geral, são bases militares, escritórios de governo, usinas nucleares, alguns aeroportos estratégicos etc. Eles aparecem borrados, em resolução muito menor ou simplesmente apagados.
Mas não é o caso de Vostok. Trata-se de uma ilha desabitada no Arquipélago da Linha, que tem esse nome por ficar onde passa a Linha Internacional da Data, um dos primeiros assuntos tratados aqui no "Terra à Vista".
Beleza. E o que é isso então?
Felizmente o Reddit é frequentado por muita gente astuta e perspicaz, e a possível resposta surgiu na própria discussão. Primeiro, a imagem não está censurada, aquela escuridão toda é real, provavelmente. Não é preto, mas um verde muito escuro, característico das florestas de Pisonia grantis, uma árvore que atinge 30 metros de altura e que cresce tão densamente que dificulta o surgimento de outras plantas entre elas.
A Pisonia é típica das ilhas de coral do Pacífico e do Índico. Suas folhas fazem parte da culinária de países como Maldivas. Seus galhos hospedam ninhos de aves marinhas, como o trinta-réis-escuro, apesar do perigo que isso representa a muitas delas.
As sementes de Pisonia grudam nas penas dos animais, que as dispersam ao levantar voo. Bom para a reprodução da árvore, mas não para os bichos. As sementes são tantas e tão grudentas que milhares de aves morrem todos os anos nessas ilhas, impossibilitadas de voar ou derrubadas pelo peso extra. O terror se alonga aos filhotes, que, sem ninguém para alimentá-los, morrem de fome.
A ilha
Vostok tem esse nome nada tropical por ter sido descoberta pelo explorador russo Fabian von Bellingshausen em 1820, em sua viagem de circunavegação do globo a bordo do navio Vostok. Além da ilha, a expedição também foi a primeira a avistar uma porção de terra um pouquinho maior (59,1 milhões de vezes, para ser mais exato): a Antártica, naquele mesmo ano.
Vostok jamais foi habitada. Os britânicos a mantiveram como colônia, até que em 1979 ela passou a integrar a recém-independente República de Kiribati.
Os visitantes são raros, pois o acesso é dificílimo. Vostok é desses lugares que é melhor conhecer pela internet mesmo. E imaginar um portal, um vulcão, um buraco negro ou até uma surreal floresta engolidora de aves.
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