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Alpes italianos dão adeus a coelho rosa gigante que "caiu do céu"
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44°14' N, 7°46' L
Colleto Fava, Frabosa Sottana
Cuneo, Piemonte, Itália
Era 2005 quando Frabosa Sottana, uma pequena cidade piemontesa que vive basicamente do turismo de inverno, ganhou um hóspede horrendamente fofo, gigantemente rosa: um coelho de 60 metros, morto, no alto de uma colina, com as entranhas à mostra.
Teria caído do céu e se espatifado na colina? Foi empurrado por uma criança maligna de 200 metros de altura? Vai saber. Coisa de artista.
A obra era uma instalação do coletivo austríaco Gelitin, que passou cinco anos tricotando a carcaça e as tripas da criatura, que foi recheada de feno e papel higiênico para ganhar corpo.
A descrição da obra, intitulada "Hase" ("lebre" em alemão) pelas palavras dos artistas, faz jus à linda bizarrice:
"Feliz você se sente ao subir por suas orelhas, quase caindo em sua boca cavernosa, até o cume do ventre e contemplar a paisagem de lã rosa do corpo do coelho. Um país que caiu do céu, orelhas e membros se esgueirando a distância. De seu lado fluem o coração, o fígado e os intestinos.
Felizmente apaixonado, você pisa no cadáver em decomposição, através da ferida, agora pequena como uma larva, sobre o rim de lã e o intestino.
Feliz você parte como a larva que ganha suas asas de uma carcaça inocente na beira da estrada.
Essa é a felicidade que fez este coelho.
Eu amo o coelho, o coelho me ama."
A obra era interativa. O Gelitin fazia um convite aos visitantes, dizendo para voltarem em um, dois, cinco ou até vinte anos, a fim de acompanhar o processo de decomposição dos materiais.
Rapidamente, o coelhão virou um ponto turístico e de referência na estação de esqui de Artesina, ali ao lado. As pessoas chegavam, subiam, brincavam, fotografavam.
Mas o tempo e as condições climáticas da região, a uma altitude de quase 1.600 m, aceleraram o processo. Cerca de dez anos depois, o estado de decomposição era muito avançado. Hoje, resta somente a marca do gigante no morro.
O Gelitin curte ousar. O coletivo já concebeu um grande pingente feito de urina e bolos de aniversário em seres humanos nus (com as velas acesas lá mesmo onde a senhora imaginou). Em 2021, em uma exposição em Innsbruck, na Áustria, saudou a "impureza, a feiura, a dor e a morte" e as combinou com "animação, beleza e otimismo".
Essa arte provocadora teve na lebre rosada sua instalação mais conhecida. Pudera, não é qualquer estação de esqui que de uma hora para outra ganha um bicho gigante, morto e espatifado em sua vizinhança.
Artesina sente falta do bichão, mas não é a ausência de rosa que preocupa, mas a de branco. Ela ainda não está na linha de frente das estações de esqui ameaçadas pelo aquecimento global na Itália. Mas já depende da produção de neve artificial. O total desaparecimento dos "restos mortais" do coelho rosa pelo menos quatro anos antes do previsto não é, nem de longe, no céu, (de onde é possível ver sua marca no chão), um bom sinal.
Essas tripas vão deixar saudades.
Em tempo, querido comentarista: sabemos a diferença entre lebre e coelho, esses leporídeos orelhudos. Mas os próprios artistas não fizeram questão de levar a zoologia tão ao pé da letra, então ora a chamam de lebre ora de coelho.
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