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Além das vistas incríveis, Ilhas Faroé têm outro atrativo turístico: túneis
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62º05'N, 6º45'O
Túnel Eysturoy
Eysturoy, Ilhas Faroé (território da Dinamarca)
As Ilhas Faroé são conhecidas pelos penhascos, cachoeiras e o adorável papagaio-do-mar, ave que habita os mares do norte e parece uma mistura de papagaio com um pinguim de cara tristonha. Além da natureza arrebatadora, o arquipélago tem também suas atrações moldadas por mãos humanas, como as casas de telhados de grama e o charmoso centro de sua capital minúscula (Tórshavn, 13 mil habitantes).
Além disso, os faroenses vêm ganhando fama mundial por seu talento e produtividade na construção de grandes obras da engenharia que, em outras paisagens, consomem montanhas de dinheiro e tempo. Túneis.
Arquipélago formado por 18 ilhas ao norte do Reino Unido, as Faroé são um território que pertence à Dinamarca há 642 anos. A economia se baseia principalmente na pesca e cresceu um bocado nas últimas décadas - o PIB per capita é de US$ 64 mil, um pouco maior que o da própria Dinamarca.
A fim de conectar vilas e cidades isoladas e fomentar outros setores econômicos que podem se beneficiar diretamente de um transporte mais dinâmico (entre eles o turismo), as ilhas passaram a investir em túneis. Os primeiros, dos anos 1960, são construções quase pitorescas, com apenas uma pista, que exigem atenção dos motoristas.
O site especializado "Dangerous Roads" (cujo nome já diz tudo) escreveu a respeito: "Os motoristas precisam estar constantemente alerta e torcer para que qualquer pessoa que venha pelo outro lado do túnel tenha visto a placa de preferência".
Nos últimos 25 anos, os túneis se tornaram maiores, mais modernos - e submarinos. O primeiro do tipo, de 5 km de extensão, liga a ilha onde fica o aeroporto à ilha da capital. Outro integrou Klaksvík, a segunda principal cidade, à rede rodoviária do arquipélago.
Em 2020, o país inaugurou o mais ousado de todos, um grande feito como obra pública que é, ao mesmo tempo, um novo ponto turístico. São 11 km, ligando Tórshavn ao norte do arquipélago e reduzindo uma tortuosa viagem de 55 km pela estrada costeira para meros 17 km. O percurso de uma hora cruzando montanhas caiu para 15 minutos graças a um túnel submarino.
O projeto saiu por cerca de 2,6 bilhões de coroas dinamarquesas (o equivalente a R$ 1,8 bilhão) e foi financiado por fundos de pensão britânicos e americanos - o que, como lembra o site inglês "The New European", dá uma amostra de como os faroenses dominam esse jogo: afinal, são instituições estrangeiras conservadoras investindo em obras públicas que, em outros países, podem trazer riscos e dar muita dor de cabeça, por diversas razões (demarcações de terra, questões ambientais, instabilidade geológica, sem esquecer incompetência, politicagem e corrupção).
Nas Ilhas Faroé, túneis são um investimento sólido. Até 2040, por meio dos pedágios, os custos já deverão estar pagos. A excelência dos faroenses no assunto é tamanha que existe um custo-base, "praticamente escrito em pedra", de 120 milhões de coroas (R$ 83 milhões) para cada quilômetro de túnel construído.
É claro que, para isso, não basta ser bom no que faz. É preciso ter um ambiente favorável. A rocha basáltica das ilhas tem poucas falhas e é tão impermeável que muitos túneis não precisaram de revestimento. Isso não só deixa os custos mais previsíveis como diminui as chances de atraso e problemas.
O túnel, chamado Eysturoyartunnilin ("túnel Eysturoy"), abriu no fim de 2020, após quatro anos de obras. O grande destaque é aquilo que o governo local afirma ser a primeira rotatória (ou rótula, rotunda, giradouro, bolacha? Como preferir) submarina do mundo.
Localizada 72 metros abaixo da superfície, ela consiste em um gigantesco pilar de rocha que foi preservado durante a construção do túnel. A coluna ganhou iluminação especial e uma escultura de aço que representa pessoas de mãos dadas cercando a estrutura, como se fosse um ritual ao redor de uma fogueira vulcânica.
O trabalho foi assinado pelo artista faroense Tróndur Patursson. Além disso, o túnel conta com luzes coloridas e até uma estação de rádio especial, para aumentar a imersão na experiência.
O domínio das Faroé no assunto é tamanho que elas já são referência. Este ano, membros do parlamento escocês visitaram as ilhas a fim de ver de perto as obras e tentar replicar o sucesso. Hoje, ligar as ilhas escocesas por túneis está nos planos do governo.
Se o projeto escocês vai sair do papel, aí é com eles. Mas, nas Faroé, os túneis não param. Ano passado, elas ganharam mais um. Há cinco em construção, um aprovado e outros sete propostos.
Junte a eles os mais de dez túneis de mão única, os mais "raiz", e você terá um belo roteiro de carro. Sem contar as paisagens fora dos túneis.
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