Texto que relata acontecimentos, baseado em fatos e dados observados ou verificados diretamente pelo jornalista ou obtidos pelo acesso a fontes jornalísticas reconhecidas e confiáveis.
Com 90 metros, maior charuto do mundo fica protegido em um forte em Cuba
Receba os novos posts desta coluna no seu e-mail
23º09'N, 82º21'O
Castillo del Morro
Baía de Havana, Havana, Cuba
Jose Castelar Cairo fez um charuto de 90 metros. O tabaqueiro cubano é um acumulador de recordes, e esse monstro de fumaça é considerado pelo "Guinness" o maior charuto do mundo.
Ele foi confeccionado em 2016, na ocasião dos 90 anos de Fidel Castro. A homenagem é tão comicamente comprida que caberiam 47 Castros deitados, enfileirados, em toda sua extensão — isso porque Fidel era bem alto, tinha 1,91 m. (seguindo a mesma conta, a extensão do charuto cobriria 51 Che Guevaras ou 55 rainhas Elizabeth em sua juventude).
Cairo, mais conhecido como Cueto, é figura conhecida no livro dos recordes. Estreou em 2001 com um charuto de 11 metros, o que já era um absurdo, convenhamos. Em 2003, subiu o próprio recorde para 14,8 metros. Em 2005, 20 metros. Em 2008, 45.
Então, om casal americano chegou aos 59 metros, mas em 2011 Cueto recuperou o trono com um charuto de 81 metros. "O recorde tem que ser cubano porque Cuba tem o melhor tabaco do mundo", declarou, à época, o homem que já bateu o mesmo recorde seis vezes.
Cinco anos mais tarde, veio o charutão do Fidel, e desde então parece que ninguém mais quer esticar a brincadeira. Cueto já beira os 80 anos e, mesmo com a ajuda de auxiliares, sabe mais do que ninguém o trabalho que dá.
Isso porque seus longos e longuíssimos produtos são legítimos cubanos, e não peças cenográficas feitas apenas para quebrar recordes bobinhos. Ou seja, é um charuto de verdade, que pode ser consumido.
O trabalho é realizado manualmente, como manda a tradição. As folhas de tabaco são enroladas inteiras, formando a tripa (miolo). O capote, envoltório que mantém a parte interna úmida, vem em seguida, envolvendo as folhas. Depois, o "torcedor" (como o enrolador de charutos é chamado) prepara a capa, que é a camada aveludada externa do charuto.
A longilínea homenagem está preservada em um lugar à altura. Ela tem seu cantinho próprio em um dos pontos mais importantes da história de Havana, o Castillo del Morro.
A fortaleza, localizada em um promontório rochoso na entrada da baía de Havana, começou a ser erguida em 1589 (o farol, sua estrutura mais reconhecível, é de 1845). O Castillo de los Tres Reyes del Morro - eis o nome completo, em homenagem aos Reis Magos - servia para proteger os tesouros acumulados no porto, pois os navios que saíam de diversos pontos da América Espanhola paravam em Havana antes de voltar à Europa.
No século 18, a capital cubana era a cidade mais importante do Império Espanhol no Novo Mundo. Piratas viviam cercando Cuba, e os ingleses chegaram a conquistar a cidade por breves 11 meses. Foi o suficiente para a Espanha, após reconquistar Havana, erguer um novo forte, ao lado do Castillo del Morro.
Hoje, essas fortalezas são populares entre os turistas graças à linda vista que oferecem. Mas há outras atrações. Entre elas, poucos sabem, está o megazord de tabaco, que fica em uma sala ao lado de uma loja de charutos. A obra de Cueto está protegida em um painel de vidro e, de tão grande, não fica disposta em linha reta, mas em curvas, como um monstro subterrâneo ou alguma espécie de intestino gigantesco em exposição.
Quando bateu o último recorde, Cueto disse que se o "Comandante" chegasse aos cem, ele faria um charuto de 100 metros. Fidel morreu poucos meses depois.
Cuba vem mudando aos poucos na última década. Os irmãos Castro já não estão no poder desde que Raúl se aposentou, no ano passado, violentos protestos contra as faltas de liberdades e a crise econômica explodiram, o casamento gay foi legalizado em setembro deste ano.
Regimes vêm e vão, por mais que nessa ilha tais coisas possam demorar um tanto mais. Mas o tabaco persiste, pois não se trata de uma tradição inventada para o país.
Faz parte da história há mais de 12 mil anos. Era usado em cerimônias indígenas para invocar os deuses.
Mas eram diabos que apareciam na cabeça dos europeus que viam, há 500 anos, os primeiros de seus conterrâneos experimentando tal "selvageria". Eles foram presos, mas com o tempo os puros cubanos viraram artigos desejados, ícones da boa vida.
Acho que vou acender unzinho.
ID: {{comments.info.id}}
URL: {{comments.info.url}}
Ocorreu um erro ao carregar os comentários.
Por favor, tente novamente mais tarde.
{{comments.total}} Comentário
{{comments.total}} Comentários
Seja o primeiro a comentar
Essa discussão está encerrada
Não é possivel enviar novos comentários.
Essa área é exclusiva para você, assinante, ler e comentar.
Só assinantes do UOL podem comentar
Ainda não é assinante? Assine já.
Se você já é assinante do UOL, faça seu login.
O autor da mensagem, e não o UOL, é o responsável pelo comentário. Reserve um tempo para ler as Regras de Uso para comentários.