Fila de 12h, briga e malas largadas: o caos do 'pior aeroporto do mundo'

53º21'N, 2º16'O
Aeroporto de Manchester
Manchester, Inglaterra, Reino Unido

Chegou aquela época. Verão começando (não no calendário, mas no sentimento), festas se acumulando e aquela torcida para a pandemia (que ainda não acabou, diga-se) não jogar cloroquina no chope de todo mundo com uma nova grande onda que vai nos trancafiar de volta em casa.

Um bom momento, então, para falarmos de uma das delícias do fim do ano: o caos dos transportes. Que beleza.

Segundo um levantamento que analisou milhares de comentários no Google Maps, o Aeroporto de Manchester, no Reino Unido, é o mais estressante do mundo para os usuários. Por extensão, ele poderia ser considerado o pior do planeta, pelo menos nesse recorte. De acordo com a pesquisa, encomendada pelo site "Hawaiian Islands", 82,47% das menções são negativas.

Na mesma lista, Congonhas aparece como o terceiro pior da América do Sul, atrás do de San Andrés, na Colômbia, e do Jorge Chávez, no Peru. O aeroporto paulistano teve 49,07% de postagens negativas. Coisinha à toa, portanto, se comparado ao inglês.

Uma reportagem do tradicional diário local "Manchester Evening News" resume a situação. A manchete é um chute na porta: "'Isso mostra o quão ridículo é'. Ainda mais caos, estresse e atrasos no Aeroporto de Manchester com a chegada de passageiros frustrados que esperam tanto que ABANDONAM suas malas". ((

Além do título gigante (queria que o UOL me liberasse dar títulos desse tamanhão, com direito a meter o dedo no CAPS LOCK), a matéria mostra a precariedade do aeroporto que atende a segunda maior área metropolitana do Reino Unido. Naquele mês de abril, após um feriadão, muitos britânicos aproveitaram as recentes liberações sanitárias, com o enfraquecimento da pandemia, para viajar. Foi um sufoco.

Segundo a reportagem, a espera para pegar a bagagem foi de mais de duas horas. Havia pilhas de malas largadas de voos da véspera, porque as pessoas, exaustas, desistiram de aguardar e foram para casa.

"Se quisesse, eu poderia pegar qualquer uma dessas malas e ir embora", contou uma revoltada passageira. Nenhum funcionário cuidava dessa bagagem, estava tudo amontoado. "Tem uma menina aqui com fibrose cística, e as enzimas de que ela precisa estão na mala. Tem gente com bebê, as pessoas estão esperando porque precisam da cadeirinha."

Mas teve gente que, sim, abandonou carrinho de bebê e cadeirinha e voltou com os filhos no colo. Bolsas de golfe, malas com etiquetas de dias antes: o cenário era de desolação.

Podia ser um aeroporto regional em Santo Ildefonso do Mato Fundo, na região metropolitana de Patoquinha do Norte. Mas é o terceiro principal aeroporto internacional de um dos países mais ricos e importantes do mundo.

O caos do transporte aéreo que vimos no último verão do Hemisfério Norte ficou bem representado na pesquisa. Nove dos dez aeroportos mais estressantes ficam na Europa.

Um outro levantamento, realizado por uma firma de relações públicas da Irlanda, analisou os aeroportos mais arranca-cabelos da Europa. Levou em conta comentários de mais de 10 mil passageiros na internet, horas de voo, taxas de atraso e outros dados.

Heathrow, principal aeroporto do Reino Unido e um dos mais movimentados do mundo, lidera a lista, seguido por Dublin e, de novo, Manchester. Madri, Frankfurt e Paris completam o topo. O fato de Dublin e Manchester aparecerem ao lado de aeroportos maiores chamou a atenção dos autores do levantamento.

Inaugurado em 1938 e usado como base da Força Aérea Real na Segunda Guerra, o Aeroporto de Manchester iniciou um grande projeto de expansão em 2019. A ideia era concluir as obras em 2024, mas a pandemia atrasou os planos, além de criar novos desafios para todo o setor.

O porta-voz do aeroporto jogou a culpa no "enorme aumento de passageiros desde a liberação das restrições para viagem, em fevereiro". Explicou que precisa lidar com reduções de pessoal, desafios de recrutamento e aumento das filas, por questões de segurança sanitária.

Mais um ranking detonou Manchester. Uma empresa de pesquisas de satisfação do consumidor constatou que somente 38% dos usuários do aeroporto estão satisfeitos. O terminal 3 foi considerado o pior do Reino Unido, seguido pelos outros dois.

Sim, Manchester conseguiu a tríplice coroa de lixo. Recebeu apenas uma estrela em avaliações de segurança, conforto e preços e serviços nas lojas.

"Caótico", "pesadelo" e "bagunçado de ponta a ponta" são opiniões constantes. As filas não são grandes só no embarque ou na restituição de bagagem. Até para ir ao banheiro é preciso dar um nó na bexiga e aguardar pacientemente (ou não).

Naqueles mesmos abril e maio catastróficos, um passageiro contou ter passado 11 horas preso no terminal. Foram três somente para despachar as malas. Na hora de decolar, finalmente, tudo pronto? Mas não, porque as bagagens de tantos voos atrasados estavam se misturando no despacho.

Mais algumas horas de espera se acumulando no relógio, até que o piloto decidiu que o melhor a se fazer era cancelar o voo. Nervos em carne viva, as pessoas xingavam, choravam, esperneavam. A polícia precisou intervir para a situação não descambar para a balbúrdia e a troca de socos.

Quem permanecia no aeroporto corria o risco de não encontrar o que comer, pois as prateleiras ficaram vazias. Quem conseguiu voar não é que teve melhor sorte, porque isso não significava que as malas os acompanharam. Perderam-se. Os turistas ingleses de férias no sul da Europa precisaram se virar com a roupa do corpo.

O caos de Manchester arruinou férias e luas de mel. E os eventos da última temporada não foram caso isolado. Em 2019, quando a palavra "pandemia" remetia a acontecimentos de um passado remoto e já superado, dezenas de voos foram cancelados por problemas de abastecimento. Em 2017, a entrada no terminal era um funil de discórdia:

Após o verão traumático de 2021, a administração promete que o Natal será mais tranquilo. Segundo a BBC, o aeroporto contratou 700 pessoas e se diz pronto para receber os esperados 1,7 milhão de passageiros.

Boa sorte aos envolvidos.

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Para encerrar por hoje, fique com este vídeo que mostra, em primeira pessoa, como é pousar naquele que é considerado um dos aeroportos mais perigosos do mundo, o Tenzing-Hillary, em Lukla, no Nepal:

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