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Pandora é aqui: os picos "flutuantes" que inspiraram a paisagem de "Avatar"
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29º19'N, 110º27'L
Parque Nacional Florestal de Zhangjiajie
Wulingyuan, Hunan, China
Dizem os tujias, povo que habita o centro da China, que, certa vez, um camponês chamado Xiang Dakun estava insatisfeito com o governo imperial. Xiang, então, resolveu agir: autoproclamou-se rei do Monte Tianzi e foi seguido por outras pessoas.
O imperador, ao saber da rebelião, enviou suas tropas para "encerrar" o assunto. Encurralado no alto de um barranco, Xiang se atirou. Foi seguido por mais de 30 aliados.
Os corpos deles se transformaram nos picos longilíneos que salpicam o vale em uma paisagem impressionante. Tão impressionante quanto Pandora.
Wulingyuan e, mas especificamente, o Parque Florestal de Zhangjiajie, uma das áreas de preservação do complexo e onde ficam esses picos, é a principal inspiração para os cenários de "Avatar". Em 2010, uma dessas estruturas rochosas típicas, chamada Pilar entre o Céu e a Terra, mudou de nome. Desde então, ela é a Montanha Flutuante Aleluia, em referência às colinas que boiam no ar no filme de James Cameron.
Vamos combinar, Pilar Entre o Céu e a Terra é desses nomes poéticos que a mitologia chinesa é capaz de propiciar como poucas. Poderiam ter mantido, não? Mas a homenagem não é à toa, já que "Avatar" ajudou a promover o turismo de natureza na China desde que foi lançado, em 2009.
Fora que não é um filme qualquer, mas um longa que marcou época, referência enorme em efeitos visuais e a segunda maior bilheteria da história, em valores ajustados pela inflação. "Avatar" fez bem para Wulingyuan. E Wulingyuan fez muito bem para "Avatar".
A Unesco, que a nomeou patrimônio da humanidade em 1992, descreve Wulingyuan como uma ilha de natureza cercada por uma região agrícola muito populosa. É uma área de cerca de 26 mil hectares na província de Hunan, dominada por mais de 3 mil pilares estreitos de arenito de quartzo, alguns deles com mais de 200 metros de altura. No alto dessas colunas, há ravinas e desfiladeiros que formam riachos, lagoas e cachoeiras, além de duas pontes naturais.
A região abriga também diversas espécies de plantas e animais ameaçados de extinção. Caso do fantástico tigre-do-sul-da-china, do leopardo-nebuloso, da salamandra-gigante e da peculiar civeta.
Existem dezenas de cavernas na área. A mais notória é Huanglong, que tem um grande salão, quatro andares e um rio que percorre seu interior. Ela é chamada também de "pérola subterrânea".
A região tem alguns recordes também. O Elevador Bailong, com 326 metros, é o mais alto elevador panorâmico do planeta.
A Ponte de Vidro do Grand Canyon de Zhangjiajie, aberta em 2016, é a mais longa (430 m) e a mais alta (300 m) dessa tendência turística que vimos nos últimos anos, as estruturas de vidro em grandes alturas.
Justamente por ser uma moda, o recorde não durou muito. Em 2022, o Vietnã inaugurou uma ponte de vidro com 631 m.
Mas o grande destaque são mesmo as "montanhas flutuantes". O pico Velho Colhendo Ervas (tô falando, só nome poético) lembra isso mesmo, um idoso tujia com um cesto de ervas nas costas. Segundo a lenda, seria o médico de Xiang Dakun que, ao ouvir a triste notícia da morte de seu mestre, se transformou em pedra.
Wulingyuan fica em uma região de natureza abundante. De acordo com o site "China Today", os locais afirmam que os 3 mil picos têm "dezenas de milhões" de um tipo de pinheiro que só existe lá.
As chuvas abundam. Não raro um arco-íris desponta nos vales, e os raios solares rasgam as nuvens que encobrem os picos - ou suas bases: as nuvens de Zhangjiajie forneceram aos designers de "Avatar" a sacada para criar a atmosfera e a sensação de profundidade das montanhas flutuantes do filme.
Não surpreende que essa paisagem tenha ambientado lendas no passado e o filme mais bem-sucedido da nossa era. Macunaíma nasceu no Monte Roraima. Mauna Kea, no Havaí, é lar de divindades polinésias. Montanhas nos inspiram desde sempre.
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