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As lindas ilhas que todos querem conhecer por causa do Oscar
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53º07'N, 9º45'O
Dún Aonghasa, Inishmore
Ilhas Aran, Galway, Irlanda
Desde o Oscar de 2015, quando "Birdman ou (A Inesperada Virtude da Ignorância)" ganhou, não víamos um indicado a melhor filme com um nome tão peculiar.
"Os Banshees de Inisherin" vem acumulando prêmios e pode ganhar algumas estatuetas, incluindo a de melhor filme, na 95ª edição do Oscar.
Que nome é esse, meio difícil de guardar para falantes de português? Ele se deve à música composta ao longo da história por um dos personagens principais.
Uma banshee é um espírito da mitologia celta que serve, com seus gritos enlouquecedores, como mensageira da morte.
Já Inisherin é o nome da ilha onde o filme se passa. A sonoridade do nome é proposital. A aliteração formada pelo título, com dois "sh", é citada em um diálogo.
Mas vamos ao que interessa, porque esta é uma coluna sobre lugares. Inisherin não existe. A ilha é criação da mente do diretor e roteirista Martin McDonagh, que, diferentemente dos dois atores principais (Colin Farrell e Brendan Gleeson), não é irlandês, mas britânico.
Mas McDonagh tem material de sobra para se inspirar em sua gaveta de nostalgias. Ele é filho de irlandeses e, nas férias de verão, trocava Londres por Galway, condado no oeste do país vizinho. A solidão daquelas paisagens naturais desde então o encantava.
Inisherin é um amálgama de duas ilhas da costa oeste da Irlanda: Inishmore, em Galway, e Achill, em Mayo. Somadas, as duas mal passam dos 3 mil habitantes.
Inishmore
Inishmore é um bastião da cultura irlandesa (Galway é um dos poucos condados onde o irlandês é mais falado do que o inglês). A ilha é bastante conhecida no país por abrigar o Dún Aonghasa, fortificação que começou a ser erguida há cerca de 3 mil anos. Muros de pedras concêntricos à beira do abismo, a uma altura chega a 100 metros, certamente impunham respeito e admiração aos navegantes que aportavam naquelas águas gélidas.
Hoje, o local é um importante sítio arqueológico e, dada a vista estupenda, um belo de um ponto turístico. Sobre algumas dessas pedras, os personagens de Colin Farrell e Barry Keoghan tomam um porre de poitín, destilado típico do país, feito a partir de cereais ou batatas.
"Eles estavam sentados em uma posição muito precária! Como sei disso? Bem, eu sentei nesse exato local muitas vezes", garante Niall O'Neill, do site "Sweet Isle of Mine", dedicado ao turismo na Irlanda. "Certamente não é um lugar para se sentar em um dia de vento?", brinca. Muito menos quando álcool estiver envolvido, eu diria.
Achill
Por falar em bebida, o pub que aparece no filme, talvez um dos bares com as melhores paisagens da história do cinema, não existe. Foi montado para o longa em um cantinho inspirado da rodovia Atlantic, na ilha Achill. Por sorte, existem outros estabelecimentos com a mesma atmosfera na ilha, como o Lynotts.
Maior ilha irlandesa (além, claro, da própria Irlanda) Achill é do tamanho da Ilha de Itaparica, na Bahia, mas tem população 22 vezes menor. Repleta de morros verdes, praias de pedras e ovelhas, ela tem pouca presença humana. A vila que aparece no filme algumas vezes é Keel, um pequeno mas agitado porto pesqueiro do século 19.
No fim da estrada que conecta Keel aos outros vilarejos fica a bonita praia de Keem. O percurso Keel-Keem, inclusive, é popular entre ciclistas e trilheiros por causa das paisagens.
Nessa baía, popular entre surfistas e, no passado, entre pescadores, funcionou por mais de cem anos uma estação salva-vidas, com barcos a serviço de ilhéus que precisassem de alguma assistência no mar. No fim do século 19, a praia era ponto de partida de irlandeses que imigravam para os Estados Unidos.
A única construção em Keem é uma cabana, que, no filme, ganhou uma fachada coerente com os anos 1920 para ser a casa de Colm Doherty (Brendan Gleeson). Ou seja, a casa do personagem existe, só é mais sem graça. Ainda assim, é dessas construções que realçam a sensação de isolamento em certas paisagens naturais, como essa praia, cercada de falésias e de mar claro (e, além disso, tem o selo bandeira azul de qualidade).
Mas Achill não fica assim tão isolada do resto do mundo. Se a fictícia Inisherin mal tem notícias da guerra civil que tomou a Irlanda logo após a independência (o filme se passa no fim desse conflito, em 1923), Achill tem, desde o século 19, uma ponte que a liga diretamente ao país.
Em tempo: Inisherin e Inishmore têm nomes parecidos porque "inis", em irlandês, é "ilha". "Inishmore" - ou Inis Mór, na grafia irlandesa - é "ilha grande". "Inisherin" significa "ilha da Irlanda".
Em tempo 2: o "Sweet Isle of Mine" montou um roteiro detalhado com todos os lugares que serviram de locação para o filme.
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