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Tapetes coloridos e procissões: a Páscoa que quer ser a maior do mundo
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14º37'N, 90º30'O
Paróquia de Nossa Senhora dos Remédios
Cidade da Guatemala, Guatemala, Guatemala
O clima ameno ajuda um tanto. A mensagem de renovação, que remete às festividades anteriores ao cristianismo realizadas na mesma época, também. Isso faz da Páscoa uma celebração bonita, qualquer que seja a fé de quem a vê.
Como manifestação cultural, ela reflete origens, costumes e misturas de um povo, tal qual outras festas. Em alguns lugares, o resultado é particularmente interessante, como as Semanas Santas de Popayán, na Colômbia, e de Mendrisio, na Suíça — dois países tão diferentes que só costumamos usá-los no mesmo parágrafo em época de Copa do Mundo.
Na cidadezinha suíça, na fronteira com a Itália, todas as luzes são desligadas nas procissões. Em vez de postes, o que ilumina as ruas são lanternas com imagens bíblicas que usam uma técnica tradicional de pintura em materiais translúcidos. É como se cobrissem as calçadas com abajures da via-crúcis.
Já na cidade andina, cuja Páscoa é, presumivelmente, mais parecida com a nossa, o destaque é o esmero e o preparo para as procissões da Semana Santa. As celebrações da chamada "cidade branca" vêm desde o período colonial e são ricas em detalhes, dos trajes específicos aos tipos de incenso usados, dos ornamentos aos cânticos.
Popayán e Mendrisio estão na lista de patrimônios imateriais da humanidade da Unesco. No ano passado, mais uma Semana Santa entrou no clube, mas, pela primeira vez, a Unesco agraciou a festividade de todo o país, e não só de cidades específicas, como ocorreu com a Colômbia e a Suíça.
Na Guatemala, a Páscoa é levada muito a sério. É um feriado maior que o Natal.
Semana Santa Colorida
Assim como no Carnaval brasileiro, que oficialmente dura alguns dias mas que nas cidades mais empolgadas começa semanas ou meses antes, as primeiras celebrações pascais guatemaltecas já rolam em fevereiro. O país centro-americano se colore e ganha texturas que evidenciam suas múltiplas influências.
Há procissões, vigílias, tapetes coloridos, e tem também gastronomia e decorações específicas para esta época do ano. "Durante séculos ela representou a identificação com a dor e o culto à morte que os habitantes originários da Guatemala conheciam, característica que se mantém até os nossos dias e que, apesar de uma aparente contradição, simboliza a esperança e a união", descreveu a Unesco ao incluir a Semana Santa do país entre os patrimônios da humanidade.
A característica mais visível da Semana Santa guatemalteca são os tapetes coloridos nas ruas. À primeira vista, parecem os nossos de Corpus Christi, mas enquanto a tradição brasileira tem origem em Portugal, na Guatemala isso é um costume maia que ganhou contornos espanhóis e católicos.
Feitos de serragem, flores e frutas, os tapetes mostram cenas bíblicas e costumes maias, com toda a diversidade que as 24 etnias espalhadas pelo país podem oferecer. Então, cada região tem suas peculiaridades. As peças encantaram até o então papa (e hoje santo) João Paulo II quando ele visitou a Guatemala em 1983.
Antes da chegada dos europeus, os tapetes eram usados para o desfile de grandes autoridades, que eram carregadas em palanquins ou andores com dossel. Esse costume também foi adaptado pelos colonos para o transporte de imagens santas nas procissões.
União
A capital, Cidade da Guatemala, é uma das cidades mais violentas do mundo. Com uma taxa de 43 assassinatos por 100 mil habitantes, ela está no mesmo patamar de Manaus e Recife nos rankings, que há anos são dominados por metrópoles latino-americanas.
Mas, na Semana Santa, a violência urbana diária dá uma trégua. As pessoas tomam as ruas, muitas vezes vazias após o sol se pôr no resto do ano, e as transformam em uma alegre e colorida festa. "É a única oportunidade de reivindicar nossos espaços públicos na Cidade da Guatemala", disse o antropólogo guatemalteco Juan Manuel Castillo à "National Geographic".
A Guatemala é marcada por desigualdades e divisões culturais, mas a Páscoa funciona como uma cola que mantém essas realidades unidas, diz a revista. Ricos, pobres, pós-graduados e gente sem escolaridade, funcionários de escritório e trabalhadores das ruas ficam lado a lado. A criminalidade diminui, as cidades estão em festa.
Baque econômico
Porém não houve nada disso em 2020. Assim como o resto do mundo, a Guatemala se trancou com a pandemia. Idem em 2021. Em 2022, liberada, porém com máscaras. Esta é a primeira Páscoa da década com um clima de normalidade e o vírus da covid-19 aparentemente controlado.
Além do baque social, houve o econômico. Em 2019, o feriado atraiu 3,4 milhões de turistas ao país. Depois, despencou, é claro. A expectativa é que este ano os números voltem a esse patamar, segundo o site local "República".
Atrativos não faltam. A maioria dos turistas busca as belas cidades históricas, onde as influências maias e coloniais são mais nítidas, como Antigua. Mas na capital ficam os superlativos pascais.
Uma das procissões na Cidade da Guatemala tem o maior andor do mundo, segundo o "Guatemala.com". Com 27 metros de comprimento, ele precisa de 140 pessoas para carregá-lo.
Na mesma procissão, os fiéis querem cravar, este ano, o recorde do "Guinness" de maior tapete do mundo. Cerca de 4 mil voluntários trabalharam na obra, que tem 3,5 quilômetros de extensão.
A Guatemala já tem, talvez, a Páscoa mais bonita do mundo. Agora quer ter a maior.
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