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'Machu Picchu do Cáucaso': forte atrai invasores e viajantes há mil anos

As ruínas do forte de Alinja - Instagram/Reprodução
As ruínas do forte de Alinja Imagem: Instagram/Reprodução

Colunista do UOL

28/05/2023 04h00

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39º10'N, 45º41'L
Castelo Alinja
Xanegah, Culfa, Azerbaijão

Quando um pequeno país é situado geograficamente na transição entre os dois continentes que foram berço da maior parte dos grandes impérios e palco de mais de 70%* das maiores guerras e das principais atrocidades humanas produzidas na história, podemos ter certeza que esse país já passou sufoco.

O Azerbaijão fica nas montanhas do Cáucaso, às margens do Mar Cáspio, onde o extremo leste da Europa encontra o extremo oeste da Ásia. É um país que nasceu das invasões de árabes e turcos, foi conquistado por russos e inserido na União Soviética.

Antes dos russos e depois dos turcos, houve os mongóis. Nos séculos 13 e 14, foram três invasões.

Em 1385, três anos após sitiar e destruir Moscou com o apoio de Tamerlão, Toktamish, o khan da Horda Dourada (uma das dinastias dos herdeiros de Gêngis), dominou o Azerbaijão. Seu aliado Tamerlão estava ocupado saqueando a Pérsia, mas então a parceria se desfez quando Toktamish tomou a cidade de Tabriz, um tesouro que Tamerlão preferiria ter para si, triunfante e titânico.

As ruínas do forte de Alinja - Instagram/Reprodução - Instagram/Reprodução
Imagem: Instagram/Reprodução

A guerra entre os clãs mobilizou centenas de milhares de homens e mulheres (elas engrossavam as fileiras de Tamerlão). A Horda Dourada acabou derrotada, Toktamish fugiu e perdeu poder. Tamerlão seguiu com as invasões em todas as direções, literalmente, e conquistando quase tudo. Ele morreu em 1405, quando se preparava para tentar a sorte na China da dinastia Ming.

No pequenino Azerbaijão, sempre espremido entre impérios, um forte resistiu bravamente por 14 longos anos às investidas tártaras. Somente em 1401 os homens de Tamerlão conseguiram dominar o Castelo Alinja, onde, segundo as lendas, alguns dos tesouros do imperador ainda estariam escondidos.

Como Tamerlão morreu pouco depois e, em seguida, seu império se desmantelou, o domínio sobre a forte durou pouco. Mas o fascínio de Samarcanda, a capital que ele ergueu (hoje no Uzbequistão), seguiu por muito tempo, como já falei aqui no Terra à Vista.

Que lugar é esse

Uma vista de dentro da área do forte - Instagram/Reprodução - Instagram/Reprodução
Uma vista de dentro da área do forte
Imagem: Instagram/Reprodução

Alinja era um dos fortes mais importantes do antigo Reino da Armênia nos primeiros séculos da Era Comum. Ele fica em Nakhichevan, atualmente uma república autônoma que faz parte do Azerbaijão mas que, por ser um exclave, só faz fronteira com países vizinhos (Armênia, Irã e Turquia) e não com outras regiões azerbaijanas.

Várias das dinastias que governaram Nakhichevan, como os seljúcidas, da Turquia, no século 11, e os safávidas, do Irã, no século 16, controlaram o forte. Eventualmente o local foi abandonado, então o que vemos hoje é uma versão reconstruída, transformada em uma das atrações mais bacanas do Azerbaijão.

Encravado no alto de uma montanha, Alija é muitas vezes chamado de "Machu Picchu do Cáucaso" por órgãos de turismo locais. Apesar das muitas diferenças históricas, arquitetônicas, geográficas e culturais, certa semelhança no visual é inegável.

O castelo, com suas poucas e sóbrias linhas, se dividia em áreas defensivas, residenciais e palacianas. Cisternas à sombra preservavam a água da neve derretida. Essas e outras curiosidades sobre a história do local são contadas no museu no pé da colina dedicado ao Alinja.

Por ficar no alto, acessível por uma escada de 1.500 degraus, o Alinja oferece uma vista de longo alcance de Nakhichevan, uma região com outras atrações bem diferentes das que o Azerbaijão tem promovido para incrementar seu turismo.

Nakhichevan tem uma natureza exuberante, com direito a caverna sagrada do Islã, pistas de esqui e cidades históricas da Rota da Seda, além de ser um polo regional para observação de aves. A república oferece um roteiro alternativo ao já alternativo turismo azeri.

Turismo no Azerbaijão

A montanha Alinja dá nome ao forte - Instagram/Reprodução - Instagram/Reprodução
A montanha Alinja dá nome ao forte
Imagem: Instagram/Reprodução

Nos últimos anos, o Azerbaijão tem se promovido por meio do esporte. A moderna capital, Baku, e seu centro histórico murado viraram cenário de circuito da Fórmula 1. A cidade sediou jogos decisivos da Eurocopa 2020 e o nome do país ganhou uma projeção enorme em 2014, quando patrocinava o Atlético de Madri e o time chegou à final da Liga dos Campeões.

Sobraram críticas ao clube por estampar na camisa o slogan turístico "Azerbaijan - Land of Fire", divulgando um país reconhecido por suprimir direitos humanos. Curiosamente, quase dez anos depois, parte da torcida do time espanhol simulou enforcar Vinícius Júnior e protagonizou cenas horrendas de racismo e xenofobia contra o jogador brasileiro, craque do arquirrival Real Madrid.

Controvérsias à parte, tamanha exposição tem dado certo, e o turismo no país galopou na década passada. No começo do século, visitantes estrangeiros gastavam cerca de US$ 100 milhões por ano no país. Em 2017, o número ultrapassou os US$ 3 bilhões. Caiu em seguida e despencou com a pandemia, mas já há sinais claros de melhora. É um país que deverá ficar cada vez mais no radar.

* Mais de 70% das maiores guerras e afins? Pelo menos segundo os levantamentos do atrocitólogo Matthew White, que apontou que das 100 piores atrocidades de todos os tempos, só 26 não aconteceram na Europa ou na Ásia (e mesmo as que ocorreram nas Américas e na África tiveram, quase todas, participação, ou protagonismo, de potências europeias)



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