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A cidade perdida que inspirou Indiana Jones a lutar contra os nazistas

Sítio arqueológico de Tânis San el-Hagar, Sharqia, Egito - Instagram/Reprodução
Sítio arqueológico de Tânis San el-Hagar, Sharqia, Egito Imagem: Instagram/Reprodução

Colunista do UOL

25/06/2023 04h00

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30º58'N, 31º52'L
Sítio arqueológico de Tânis
San el-Hagar, Sharqia, Egito

Com mais um filme de Indiana Jones prestes a sair no cinema, a desculpa é mais do que boa para assistir de novo à trilogia (pode pular aquele de 2008 que ninguém liga). Vamos logo à origem da saga, ao primeiro longa, lá em 1981, quando Harrison Ford ainda era um jovem de 39 anos.

Indiana Jones fez com que uma relativamente desconhecida cidade egípcia caísse na boca dos novos fãs daquele novo herói do cinema. O nome do lugar é Tânis.

Em "Os Caçadores da Arca Perdida", a cidade havia sido enterrada em uma tempestade de areia e só foi descoberta no século 20, quando os nazistas buscavam a Arca da Aliança. Infelizmente, toda a trama é ficção.

A mítica Arca da Aliança, se é que já existiu, jamais esteve nessa cidade. Segundo a Igreja Ortodoxa Etíope, o artefato estaria preservado em uma igreja na Etiópia.

Os nazistas não fizeram expedições arqueológicas desse naipe. Até existia uma queda por esse campo da ciência nos tempos da Alemanha de Hitler, especialmente para tentar comprovar a tal "superioridade ariana". Mas a pseudoarqueologia nazi estava mais interessada no passado enterrado nos países invadidos, como Polônia e Tchecoslováquia, do que nos egípcios.

Para completar, Tânis não foi encoberta por uma tempestade de areia. E até as cenas do filme foram rodadas na Tunísia, não no Egito.

Ainda assim, Tânis é digna de nota. Mais que isso.

Que lugar é esse?

Ruínas da antiga cidade de Tanis, Egito - PetrBonek/Getty Images/iStockphoto - PetrBonek/Getty Images/iStockphoto
Ruínas da antiga cidade de Tanis, Egito
Imagem: PetrBonek/Getty Images/iStockphoto

Djanet para os antigos egípcios, Zoã no Antigo Testamento, San el-Hagar em árabe. Tânis é o nome que os gregos deram a essa cidade de vários nomes. Localizada no nordeste do Delta do Nilo, ela foi capital egípcia durante a 21ª e a 22ª dinastias (entre 1077 a.C. e 716 a.C).

Era a época designada pelos egiptólogos como Terceiro Período Intermediário. Foram séculos marcados por desunião, descentralização e intromissão estrangeira.

Enquanto o sul permaneceu sob controle dos sacerdotes de Tebas, o norte era governado pelos faraós de Tânis - dentre os monarcas de Tânis, o mais famoso foi Sheshonq, que seria o rei egípcio Sisaque, citado na Bíblia por ter invadido Israel em 945 a.C.

Tânis tinha localização estratégica, e foi um importante centro comercial e religioso. Mas o Egito se desenvolvia ao sabor do Nilo. A capital anterior a Tânis fora abandonada porque o ramo do delta onde ela ficava foi assoreado. Sem rio, sem navegação, sem comércio, sem colheita, sem vida.

Séculos após perder o status de capital, a mesma sina atingiu Tânis, só que com o sinal trocado. Em vez de secas, foram as cheias constantes, já na era romana, que levaram a cidade ao declínio total.

Tânis se perdeu no tempo. No século 19, durante o fervor das expedições arqueológicas francesas, a região foi bastante explorada. Mas nada de encontrá-la. Somente em 1939, após mais de uma década de escavações, o arqueólogo Pierre Montet descobriu a antiga capital egípcia.

Os achados eram incríveis. Um complexo de tumbas continha três câmaras mortuárias intactas, que continham sarcófagos rebuscados e tesouros com máscaras de ouro, caixões de prata, pulseiras, colares, amuletos e outros pequenos itens, além de estátuas e vasos.

Tesouros de Tânis, estes e outros objetos foram encontrado pelo arqueólogo francês Pierre Montet, entre 1939 e 1940 nas tumbas reais  - Instagram/Reprodução - Instagram/Reprodução
Tesouros de Tânis, estes e outros objetos foram encontrado pelo arqueólogo francês Pierre Montet, entre 1939 e 1940 nas tumbas reais
Imagem: Instagram/Reprodução

Um dos sarcófagos continha a múmia de Sheshonq 2º, faraó até então desconhecido pela ciência. As joias que ele ornava pertenciam a Sheshonq 1º. Os arqueólogos também descobriram templos dedicados a Hórus e a Ámon e antigos distritos da cidade.
Infelizmente, "França" não combina com "1939". A descoberta de Montet veio na pior época possível, e os desdobramentos da Segunda Guerra Mundial eclipsaram o feito.

Hoje, algumas descobertas estão espalhadas em museus estrangeiros. É o caso da Grande Esfinge de Tânis, no Louvre.

Grande esfinge de Tanis - Instagram/Reprodução - Instagram/Reprodução
Grande esfinge de Tanis
Imagem: Instagram/Reprodução

Boa parte dos artefatos está no Museu Egípcio do Cairo. Nem todo mundo dá tanta bola, eles estão lá, entre os 120 mil itens em exposição e os 150 mil guardados na instituição. Há cientistas que acreditam que, não fossem os horrores da guerra, os achados de Tânis poderiam ser tão famosos quanto aqueles que, hoje, são o grande destaque do museu, o tesouro de Tutancâmon.

Ou seja, os nazistas que, no filme, estavam de olho nos mistérios de Tânis, no mundo real impediram que essas ruínas, e os tesouros contidos nelas, se tornassem realmente famosas, como a máscara do Tut ou o busto da Nefertiti. Que bom que levaram uma surra do Indiana Jones.

Para visitar Tânis, apesar de a cidade ficar no Delta do Nilo - no norte do Egito, região cuja cidade e atração principal é Alexandria -, é mais fácil partir do Cairo. As ruínas ficam a cerca de 3 horas de carro da capital. De Alexandria, são mais de 4 horas. Empresas de turismo do Cairo oferecem passeios de dia inteiro que incluem Tânis e o Canal de Suez.



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