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O estranho caso da 'montanha nazista' escondida nos Estados Unidos
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43º41'N, 122º35'O
Antigo Monte Suástica
Floresta Nacional Umpqua, Oregon, Estados Unidos
No primeiro dia de 2022, dois jovens trilheiros foram dados como desaparecidos na Floresta Nacional Umpqua, no estado americano do Oregon. Eles foram acampar no Natal e não voltaram a tempo das festas de Ano Novo.
Um helicóptero da Guarda Costeira precisou ser acionado para o resgate, por causa das pesadas nevascas dos dias anteriores. Os dois foram avistados em pouco tempo, porque, ainda bem, se mostraram aventureiros conscientes: escreveram um enorme "SOS" na neve, ficaram próximos de seu carro e de trilhas visíveis do alto — atitudes recomendadas pelas autoridades em momentos tensos como esse.
Os jovens estavam a salvo. Até então, essa seria só uma notícia com final feliz. Que bom, passar bem, até semana que vem.
Um tanto sem graça, né? Acabou aqui.
Só que uma cidadã do Oregon que soube do caso pela imprensa provocou uma reviravolta. Ela se incomodou com um nada sutil detalhe na história. A montanha onde os rapazes foram encontrados se chamava Suástica.
Pico da polêmica
Com 1.200 metros de altitude, afastado das rotas mais comuns de Umpqua, o Monte Suástica passou décadas sem chamar atenção. Não é um pico majestoso, não é visível a quilômetros de distância, não é um cartão-postal do Oregon. Sem graça, coitado.
Até que Joyce McClain viu a notícia dos rapazes perdidos e entrou com um pedido no órgão federal para nomes geográficos (USBGN, na sigla em inglês) para mudar o nome da infeliz montanha. Não se trata de algo incomum: em maio, a USBGN tinha 45 propostas pendentes para mudanças de nome.
McClain organizou uma petição online e angariou mais de 500 assinaturas. Mas por que esse nome, gente?
Mapas americanos de 1930 já chamavam o monte de Suástica. Ou seja, ele é anterior à ascensão de Adolf Hitler ao poder, então não era uma homenagem perdida feita por algum lunático fascista da Costa Oeste. Ufa.
Aparentemente, o nome foi escolhido em referência a uma fazenda da região, que por sua vez se inspirou na suástica original, um símbolo milenar usado por religiões como budismo e hinduísmo. A palavra "suástica" vem do sânscrito e quer dizer algo como "boa sorte" ou "bem-estar".
É preciso lembrar que a suástica não é invenção nazista. Ela foi usurpada. Após a derrota alemã na Primeira Guerra Mundial, diversos grupos de extrema-direita adotaram a suástica - um símbolo que estava na moda desde o século anterior na Europa, quando a arqueologia fez crescer o interesse por civilizações antigas do Oriente — e lhe deram essa repaginada estapafúrdia de "raça pura".
Os nazistas, que tinham uma tara especial em remixar símbolos e ícones antigos, eram só mais um desses grupelhos. Mas eles calharam de se tornar o maior partido da Alemanha, seu líder foi apontado chanceler em 1933, transformou a Alemanha em uma ditadura ultranacionalista e racista e mergulhou a Europa, e depois o mundo, na mais horrenda de todas as guerras da história.
Então, infelizmente, o simbolismo milenar da suástica estava contaminado. A petição de McClain reconhecia o significado original, mas alegava que a relação com o nazismo o tornava uma palavra indesejável.
Houve oposição à mudança. A Fundação Hindu Americana escreveu ao Conselho de Nomes Geográficos do Oregon contestando a possível medida.
A solução encontrada foi buscar inspiração na história local. Agora, o ex-Monte Suástica se chama Monte Halo, em homenagem a uma liderança indígena do século 19. Chefe Halito (Halo, na verdade, é seu apelido) "apesar dos perigos da guerra do Rio Rogue ao sul do Vale Umpqua, da morte de tantos nativos e dos atos de racismo e esforços de milícias voluntárias para exterminar os povos indígenas", informa a Oregon Encyclopedia, "optou por permanecer em suas terras tradicionais". Ele morreu em 1892.
Oficialmente, a montanha se chama Halo. Mas, em mapas digitais, como o Google Maps, ela ainda é Suástica. Pelo menos até a publicação da coluna de hoje, como você pode ver abaixo.
Comparações com o nazismo costumam ser um tiro no pé em discussões sérias. Mas não faltam homenagens a ditadores menores e a assassinos menos contundentes em tudo que é país. A começar por aqui.
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