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De cacto até Ferrari: compra-se tudo nas máquinas automáticas de Singapura

1º21'N, 103º49'L
Shopping Thomson Plaza
Bishan, Singapura

Máquinas automáticas são uma grande piração dos nossos tempos, mas elas estão longe de ser uma novidade tecnológica. A primeira do tipo foi criada pelo grande inventor Heron de Alexandria, que viveu há 2 mil anos. Para quê? Para água benta, a fim de dosar as quantias que o pessoal, exagerado, estava usando, segundo o historiador John Humphrey no livro "Ancient Technology", que fala sobre essas tecnologias surpreendentemente antigas.

As primeiras máquinas automáticas modernas, do fim do século 19, tinham um funcionamento parecido. Uma moeda era inserida em uma caixa. O peso da moeda inclinava uma haste, que levantava, com um barbante, uma portinhola para liberar o produto.

Não é de hoje: foto de 1963 mostra uma "vending machine" que vende ovos caipiras
Não é de hoje: foto de 1963 mostra uma "vending machine" que vende ovos caipiras Imagem: Getty Images

Essas máquinas ofereciam cartões postais no Reino Unido, chocolates na Alemanha, chicletes nos Estados Unidos ou cigarros no Japão, que lá nos anos 1880 iniciava sua longa relação com o artefato. O país é, até hoje, uma referência em "vending machines".

Nos últimos anos, outro lugar vem despontando no assunto, Singapura. Singapura, meu amigo, é o tigre asiático das máquinas automáticas.

A ilha das máquinas

Até 2016, a cidade-Estado dava pouca atenção ao assunto. Mas desde então ela começou a correr atrás. Uma livraria instalou máquinas para vender autores nacionais — a que foi instalada no Museu Nacional de Singapura fez bastante sucesso, segundo o site "Retail News Asia". Alguns livros não têm capa, justamente para surpreender os leitores indecisos e ávidos por um livrinho no caminho de volta para casa.

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Uma esquina movimentada ganhou uma máquina de refeições que vende nasi goreng (prato de arroz com ovo típico do Sudeste Asiático) e noodles.

O prato típico também aderiu às máquinas automáticas
O prato típico também aderiu às máquinas automáticas Imagem: Reprodução Youtube

Uma rede de lojas investiu em máquinas de pagamento em notas e moedas. Em vez de dar o dinheiro ao atendente do caixa, o cliente o depositava no aparelho. O curioso é que isso liberava o funcionário para dar mais atenção e auxílio ao cliente, em vez de ficar contando troco.

Em uma feira do setor, um especialista explicou que a república demorou para entrar no mercado não por uma resistência da população a tecnologia, o que não é o caso, mas porque se trata de um país muito pequeno, com um mercado limitado.

Singapura é uma ilha ao sul da Península da Malásia, com apenas 712 quilômetros quadrados, com uma população de 5,5 milhões. Sim, é uma grande metrópole, com quase tantos habitantes como o Rio de Janeiro, espremidos em uma área que é só duas vezes o tamanho de Ilhabela (SP). O país só perde para Mônaco em densidade populacional.

A moderna Singapura, na Malásia: muita gente, pouco espaço, muita tecnologia
A moderna Singapura, na Malásia: muita gente, pouco espaço, muita tecnologia Imagem: Getty Images/iStockphoto
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Ainda assim, era considerado um mercado pequeno. Mas, de lá para cá, as máquinas automáticas explodiram em popularidade e loucura criativa. Uma vendia salmão norueguês. Outra trocava prêmios de cassino por ouro.

Sem contar a concessionária que viralizou ao vender carros de luxo dessa forma. Uma "vending machine" de 15 andares expondo Lamborghinis, Ferraris, Aston Martins, Alfa Romeos, Bentleys e afins. São uns 60 carros de sonhos, como se fosse uma caixa de Hot Wheels gigante.

Com a pandemia, as máquinas se tornaram aliadas do isolamento. Moradores de conjuntos residenciais tinham à disposição máscaras, kits de testes e até tokens de rastreamento nos aparelhos. Esses tokens faziam parte da política de combate à covid no país: por meio deles era possível rastrear se você esteve em contato com alguém contaminado.

Mas, vamos combinar, máquina automática brilha mesmo para vender futilidades e bobagens do dia a dia. Tem sanduíches, quentes e a qualquer hora da madrugada. Pizza grande, pronta para comer. Refrigerantes e besteirinhas de comer — só que não uma máquina comum, como conhecemos, mas lojas inteiras, com centenas de produtos, de vários cantos da Ásia, à disposição.

Tem de tudo à venda, de comidas a roupas de luxo
Tem de tudo à venda, de comidas a roupas de luxo Imagem: Divulgação
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Tem máquina de algodão doce, sorvete, pipoca e até do cobiçado bife wagyu. Tem pão, curry puffs (um pastelzinho local), feijão cozido e caranguejo com chili, a típica iguaria nacional.Tem também coisas mais triviais, como salada fresca e suco de laranja.

Dá para comprar argamassa, meias, difusores de aroma para carros, jogos de cartas, cactos, produtos de saúde e higiene pessoal ou contratar serviços de lavanderia. Mas, infelizmente, não dá mais para comprar salmão. Em 2022, a empresa que vendia o peixe norueguês anunciou nas redes sociais que retiraria as máquinas do mercado para uma reestruturação. Desde então, não postou mais nada.

Parece uma estante de carrinhos de brinquedo, mas são possantes de verdade
Parece uma estante de carrinhos de brinquedo, mas são possantes de verdade Imagem: picture alliance via Getty Images

Um dos melhores lugares para conhecer as novidades e esquisitices do assunto é o shopping Thomson Plaza. Lá você encontra uma "praça de alimentação" só de máquinas automáticas para se jogar. Ou só para observar o consumismo humano em ação.

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Texto que relata acontecimentos, baseado em fatos e dados observados ou verificados diretamente pelo jornalista ou obtidos pelo acesso a fontes jornalísticas reconhecidas e confiáveis.

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