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Reportagem

Museu, bosques e paisagens de Gales: as belas locações de 'Sex Education'

51º29'N, 3º16'O
Museu Nacional de História St. Fagans
Cardiff, País de Gales, Reino Unido

Chegou a última temporada de 'Sex Education', a melhor série adolescente da Netflix. Se você concorda comigo, ao menos em parte, vai sentir falta não só das personagens mais ou menos desajustadas, de seus guarda-roupas mais ou menos coloridos, dos papéis de parede, dos objetos cenográficos (que, não fossem as conversas no celular e o Nintendo Switch do protagonista, poderiam nos levar a crer que a história se passa em alguma década passada) e, claro, das paisagens.

Os cenários têm papel silencioso, mas importante na série. Não é qualquer produção televisiva que coloca jovens em idade escolar perambulando sozinhos por um bosque potencialmente perturbador e? Nada, eles terminam a cena vivos, inteiros e falando de suas neuras do momento. Sem assassinos seriais nem monstros, sem machetes nem motosserras, sem outras dimensões nem viagens no tempo. Apenas adolescentes pedalando, pássaros cantando.

É um diferencial, ainda mais porque um dos locais onde a série foi filmada, a Floresta de Dean, tem presença marcante e profunda na memória cultural britânica. Quase sempre ela foi retratada - ou serviu para criar um clima - de forma sombria e misteriosa.

O bosque é creditado como uma das inspirações para a Terra Média, de 'O Senhor dos Anéis' e apareceu em séries da BBC, como 'Doctor Who' e 'Merlin'. O Black Sabbath e o Led Zeppelin usaram um castelo na área para escrever, ensaiar e gravar. J.K. Rowling cresceu na região e comprou, em segredo, a casa onde passou parte da infância e da adolescência, e que teria sido uma inspiração para a casa onde Harry Potter viveu com os desprezíveis e racistas tios.

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Imagem: iStock

Mas, em 'Sex Education', a Floresta de Dean não parece uma infância terrível ao lado da tia Petúnia. Não tem os distúrbios de um homem atormentado por demônios e ratos como em 'Sabbath Bloody Sabbath'. Na série, ela é um bosque ensolarado, vivo, pulsante sob o céu azul, caloroso como um dia de dezembro (o nosso dezembro, de fim de ano letivo, festas e verão batendo à porta. Não o deles, é claro).

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Imagem: iStock

A Floresta de Dean fica em Gloucestershire, no sudoeste da Inglaterra. Muitas outras locações importantes ficam além da divisa com o País de Gales. Esses cenários, galeses e ingleses, dão uma cara particular a 'Sex Education'. A cidade onde ela se passa, Moordale, é fictícia. Pode ser qualquer pequena cidade do Reino Unido, o que deu mais liberdade para os criadores inserirem elementos nada britânicos àquela vida escolar - os corredores com armários para os alunos e os banners e faixas pendurados nos corredores, por exemplo, são referências aos clássicos oitentistas, e superamericanos, de John Hughes, em especial 'Clube dos Cinco'.

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A(s) escolas

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Imagem: Reprodução

A grande novidade da quarta e última temporada é o novo colégio aonde parte do elenco acaba indo após os desdobramentos do fim da última leva de episódios. O Cavendish, com aquela cara de sede de startup, é, na verdade, um prédio de um museu em Cardiff, a capital galesa.

Não um museu qualquer, mas um dos mais populares e bem avaliados de todo o Reino Unido, o St. Fagans. Trata-se de um museu a céu aberto que narra a cultura, a arquitetura e a vida do povo galês em mais de 40 construções, de diversas épocas e lugares, que foram remontadas nos jardins do Castelo de St. Fagans, uma propriedade do século 16 classificada com grau 1, o mais alto no sistema de tombamento de edifícios no Reino Unido - é o mesmo nível de "excepcional importância" de locais como o Palácio de Buckingham e a Catedral de St. Paul, em Londres.

O moderno prédio que vemos na série, é claro, não é uma construção dos tempos de Elizabeth 1ª. Faz parte de um multimilionário projeto de revitalização e criação de novas áreas do museu. Ele serve como entrada do St. Fagans - uma instituição gratuita, cheia de atrações e que em 2019 foi eleita "museu britânico do ano" pelo Art Fund, o fundo nacional de arte no Reino Unido.

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Em 2011, uma pesquisa da revista de viagem 'Which?' também o elegeu "museu do ano". A mesma publicação, em 2023, colocou o St. Fagans no topo de uma votação dos melhores museus com dias gratuitos. No Tripadvisor, ele está no top 10 atrações de Cardiff.

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Os jardins do museu têm lago, fontes e um pomar de amoreiras. Nas casas históricas, artesãos e fazendeiros demonstram suas atividades ancestrais, como fabricação de tamancos, trabalhos com ferro e cerâmica ou tratando as espécies locais de gado. Comunicam-se no idioma galês, língua céltica falada por cerca de 650 mil pessoas no mundo e ameaçada pela onipresença do inglês.

Mas e a outra escola, aquela das três primeiras temporadas, com muito mais "cara de escola inglesa"? Tem cara porque de fato é uma, ou era. O prédio integrava o campus da Universidade de Gales em Newport. Fechou as portas em 2016 e, assim, foi aproveitado como cenário da série.

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As pontes

Outra novidade da última temporada. A ponte de metal que apareceu em momentos importantes no passado deu lugar a uma outra, também de ferro, construída na mesma região e no mesmo contexto histórico: a expansão da malha ferroviária britânica na segunda metade do século 19.

Elas ficam respectivamente na vila de Tintern (famosa pelas ruínas de uma abadia construída há 900 anos) e na cidade de Monmouth e atravessam o Rio Wye, que em alguns pontos marca a divisa com a Inglaterra. O rio já teria algum uso estratégico há quase mil anos, nos tempos de Eduardo, o Confessor, um dos primeiros reis ingleses, quando barcos o usavam para transportar ferro da Floresta de Dean.

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Outras fontes falam que o transporte de ferro começou no século 12, quando a Inglaterra invadiu a Irlanda. A partir do século 13, esse tráfego ficou mais recorrente. Em tempos mais recentes, as pontes têm sido ameaçadas por algo cada vez mais comum, as enchentes que castigaram alguns países europeus nos últimos anos.

Os caminhos

Otis, Eric e a maior parte do elenco anda de bicicleta, não em balsas medievais. O Rio Wye, aqui, é só um detalhe na paisagem, porque as vias importantes para eles são as estradinhas por onde pedalam.

Muitas dessas cenas foram gravadas na Floresta Cwmcarn, que tem vias cênicas atravessando vales, bosques e colinas. É um destino popular entre ciclistas e trilheiros no sul do País de Gales.

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Imagem: Reprodução

E a casa?

A fantástica propriedade de Jean Milburn (Gillian Anderson) esteve aí disponível esse tempo todo para locação. Agora, está à venda por 1,5 milhão de libras (cerca de R$ 9,4 milhões). Construída em 1912 no Vale do Wye em estilo escandinavo, ela era um grande chalé para abrigar pescadores de salmão.

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No início deste século, passou por uma renovação que deu um tapa nos banheiros e nos cinco quartos. Veja fotos do interior.

Obrigado, Moordale. Foram bons anos.

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Texto que relata acontecimentos, baseado em fatos e dados observados ou verificados diretamente pelo jornalista ou obtidos pelo acesso a fontes jornalísticas reconhecidas e confiáveis.

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