Floresta que inspirou bosque do Ursinho Pooh existe de verdade - e é linda!

Por pior que seja, o filme não deixa de ser um marco. Ele encerrou (de maneira tosca e sanguinolenta) a exclusividade que a Disney tinha sobre esses personagens. Nos últimos 57 anos, a empresa produziu ou licenciou seis longas-metragens, dez curtas, cinco séries e 11 jogos de videogame - além de livro, disco, revista e musical.

Isso porque a Disney é proprietária somente das adaptações e das mudanças que fez desde que adquiriu os direitos sobre a franquia, em 1966. Ela não tem mais direitos sobre o primeiro livro do personagem: publicada em 1926 pelo escritor A.A. Milne e o ilustrador E.H. Shepard, ambos britânicos, a obra caiu em domínio público no ano passado.

Ou seja, o conteúdo que deu origem ao ursinho e seus amigos quase um século atrás não tem mais dono. Então, novas produções inusitadas do tipo podem aparecer. Um pseudodocumentário ambientalista? Um musical anarcopunk? É só alguém fazer.

O ursinho não é só uma lembrança agradável na memória de infância de muitos adultos. Além de ser um dos maiores ícones da ficção britânica, uma máquina de fazer dinheiro superada apenas pelo Mickey em merchandising, de ter ganhado adaptação na União Soviética e de ter sido censurado na China, Pooh é um atrativo turístico inglês.

Sim, porque, indo além das teias perigosas dos direitos autorais e dos pegajosos pormenores jurídicos da propriedade intelectual, o universo desses personagens é inspirado em uma floresta real. Você pode visitá-la sem precisar pagar nada à Disney.

Que lugar é esse?

O Bosque dos Cem Acres, o mundo fictício da turminha, é a versão criada na cabeça de A.A. Milne para Ashdown, uma floresta no sul da Inglaterra. O autor tinha uma casa de campo em Hartfield, a vila colada nesse bosque.

Em Ashdown, há uma porção de floresta que é privada há mais de 300 anos e se chama Bosque dos Quinhentos Acres. O filho de Milne, Christopher (que inspirou o personagem Cristóvão, o amigo humano de Pooh), costumava passear por esse bosque.

Hoje, a parte privada da floresta não pode ser visitada. Mas o resto de Ashdown não só é público como oferece trilhas e passeios inspirados no ursinho. Há dois roteiros de caminhada: o pequeno tem apenas 1 quilômetro de extensão e o maior, 3,2 quilômetros. Logo, é um bosque amigável para crianças.

Guias turísticos oferecem passeios guiados que passam por lugares importantes do mundo de Pooh, como a ponte onde ele e seus amigos brincam de jogo dos gravetos. Inventado por Milne, o "poohsticks" virou um desses esportes exóticos ingleses, com direito a campeonatos mundiais (já falei de outro torneio do tipo aqui na coluna).

O jogo dos gravetos consiste simplesmente em deixar cair um graveto do lado da ponte oposto à correnteza. Depois, todos correm para o outro lado para ver qual galho surge primeiro diante dos olhos, sob a ponte.

Em Ashdown, décadas e décadas de humanos participando da atividade causaram certos problemas. Primeiro, quando não havia galhos à disposição no chão, muita gente estava arrancando diretamente das árvores. Hoje, placas e folhetos turísticos pedem que as pessoas usem somente os que estão no solo ou que os levem de casa.

Segundo, o peso de tanta gente brincando de "poohsticks" sobre uma pontezinha de madeira de 1907 a desgastou. Em 1979, com fundos levantados entre o público, empresas de construção da região e a Disney, a ponte foi restaurada e reinaugurada.

Mas, 20 anos depois, ela foi aposentada e substituída por uma réplica. A simplória ponte original foi leiloada em 2021 pelo equivalente a R$ 800 mil.

Naquele mesmo ano de comemorações pelo 95º aniversário de Pooh, uma cabana disponível para alugar no Airbnb viralizou nas redes sociais com um chamariz irresistível para muitos: você poderia se hospedar na casa do urso, em sua floresta original. Chamada de "bearbnb", a propriedade foi desenhada por Kim Raymond, ilustrador responsável pelos bichos do Bosque dos Cem Acres por mais de 30 anos na Disney.

A casa não está mais disponível. Quem desembolsasse as 95 libras por noite (equivalente a cerca de R$ 590) podia encontrar diversos mimos e segredinhos escondidos, como potes de mel nas prateleiras, e teria direito a passeios guiados no bosque.

Mas dá para ter um gostinho da vida de Tigrão, Leitão e cia. mesmo sem se hospedar no bosque. Existem áreas de piquenique e, no estilo Disney, uma lojinha dedicada a eles em Hartfield. A Pooh Corner tem souvenires de tudo que é tipo, além de um museu e do salão de chá do Leitão. Quem preferir dar um tempo de tanta fofura pode esticar as pernas e a goela no Anchor, um pub do século 15.

Ashdown fica a menos de uma hora de Brighton, histórico e festeiro balneário britânico. Dá para emendar o roteiro do Bosque dos Cem Acres com outras atrações naturais e rurais do condado de Sussex Oriental, como as falésias do parque Seven Sisters ou os gigantes e curiosos Litlington White Horse e Long Man of Wilmington, figuras desenhadas em morros, cheias de significados e mistérios envolvidos.

Se preferir, dá para fazer um bate-volta a partir de Londres. A região fica a cerca de uma hora de trem da capital.

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