O que autor de 'O Pequeno Príncipe' tem a ver com Brasil e América Latina?
13º41'N, 89º15'O
Parque El Principito
Santa Tecla, La Libertad, El Salvador
Antes de escrever "O Pequeno Príncipe" e de se tornar um dos autores franceses mais famosos do século 20, Antoine de Saint-Exupéry foi um grande aviador. Como diretor da Aeroposta Argentina, subsidiária da francesa Aéropostale, ele desbravou rotas aéreas entre a Argentina e o Brasil, tornando-se uma figura conhecida e respeitada em ambos os países.
Saint-Exupéry batizou uma montanha no Parque Nacional Los Glaciares, no sul da Patagônia, e um aeroporto na província de Río Negro, no norte da Patagônia. Nos dois anos em que sobrevoou o país de norte a sul, explorou Buenos Aires e os Andes e chegou até a levar um grupo de torcedores à final da primeira Copa do Mundo, em 1930, em Montevidéu (em que a Argentina perdeu para os donos da casa).
No Brasil, talvez a cidade onde essa relação foi mais próxima e carinhosa tenha sido Florianópolis. A capital catarinense servia de parada necessária em um tempo em que os aviões tinham autonomia de voo menor. Na ilha, Zé Perri, como ficou conhecido, fez amizade com pescadores.
Sua obra mais famosa batiza a principal avenida do Campeche, bairro onde ficava o antigo aeródromo. De citações de "O Pequeno Príncipe" em prédios públicos a marchinha de Carnaval, o aviador é um "convidado ilustre" na história de Floripa.
Mas não foi só no Cone Sul que Saint-Exupéry deixou sua marca. Isso porque ele se casou com uma latino-americana, só que de outro país.
Condessa salvadorenha
Saint-Exupéry era um desbravador dos ares da América do Sul muito admirado em seu país natal. Ao desaparecer durante um voo de reconhecimento em uma França ainda sob domínio nazista, em 1944, apenas um ano após o lançamento de seu livro mais famoso, ele ganhou status de mito.
Mas, devido ao estrondoso sucesso de "O Pequeno Príncipe", que vendeu dezenas e dezenas de milhões de livros, fora da França ele é, basicamente, um escritor muito famoso. A vida de aventuras do aristocrata alto que virou aviador é bem menos conhecida do que a história do menino do asteroide B-612.
Em 1930, Saint-Exupéry conheceu, em Buenos Aires, Consuelo Suncin Sandoval. Natural de El Salvador, ela tinha 29 anos e já era viúva de dois homens. O francês, menos de um ano mais velho, era, àquela época, um piloto bem-sucedido que escrevia (e não um escritor que pilotava, como ficaria conhecido postumamente).
Horas após o primeiro encontro, eles já estavam sobrevoando a capital argentina. Entre uma manobra e outra para se pavonear, Saint-Exupéry se declarou apaixonado.
Casaram-se, mas o relacionamento não foi dos mais felizes. Consuelo, que preferia ser chamada de condessa de Saint-Exupéry, morreu em 1979. Ela contou em suas memórias lembranças pouco carinhosas da vida em casal.
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Quero receberNão se considerava muito bem-vinda nos círculos sociais e intelectuais refinados do marido. Enquanto Saint-Exupéry frequentava jantares e festas em sua homenagem, ela se acostumou a ser deixada em casa. Quando ia a um desses eventos, era cercada por olhares hostis de belas mulheres.
A condessa foi homenageada em "O Pequeno Príncipe". Ela é a rosa que faz companhia ao protagonista. Uma homenagem um tanto dúbia, já que o principezinho acaba descobrindo que existem outras belas rosas no Universo.
A relação do casal inspirou livros e filmes. Já na terra natal de Consuelo, um singelo parque homenageia a obra mais famosa do escritor.
Que lugar é esse?
O asteroide do príncipe tem três pequenos vulcões na paisagem. É uma outra homenagem ao mundo de Consuelo: os três vulcões da Cordilheira de Apaneca, em El Salvador. Santa Ana, Izalco e Cerro Verde figuram entre os principais atrativos naturais do país.
A cerca de 40 quilômetros da cordilheira, na região metropolitana de San Salvador, existe um planeta para um rei, um para um bêbado, um para um homem de negócios, um para um sujeito vaidoso, um para um acendedor de lampiões, um para um geógrafo — e um asteroide para o príncipe.
Cada um deles é um ponto de interesse do parque El Principito. O local tem aquele charme peculiar dos parques de diversão simples, sem megalomanias. Há brinquedos inspirados no livro, como um grande playground desenhado pelo próprio Saint-Exupéry.
El Salvador é um país que nos últimos anos só chama atenção internacional com notícias inusitadas, como fazer do bitcoin a moeda nacional ou reduzir um dos índices de violência mais altos do mundo com uma controversa política que, segundo os críticos, está sufocando a própria democracia.
Muito além disso, é o país que foi e continua sendo inspiração de um dos livros mais queridos do século passado. O que será que a rosa e o menino do asteroide diriam disso?
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