Vá antes que lote: descubra um dos últimos rios selvagens da Europa
![Entre desfiladeiros, o Rio Vjosa, que corta a Albânia, agora virou um parque natural Entre desfiladeiros, o Rio Vjosa, que corta a Albânia, agora virou um parque natural](https://conteudo.imguol.com.br/c/entretenimento/b5/2024/02/29/entre-desfiladeiros-o-rio-vjosa-que-corta-a-albania-agora-virou-um-parque-natural-1709251676764_v2_900x506.jpg)
40º04'N, 20º08'L
Castelo de Gjirokastër
Gjirokastër, Albânia
Desde tempos imemoriais, a vida da Albânia corre pelo Rio Vjosa. Na Antiguidade, ele era a rota que ligava as montanhas do Epiro, na Grécia, ao Mar Adriático. Por milênios, assentamentos humanos surgiram em suas margens, dando origem a algumas cidades da antiga região da Ilíria.
![Vista aérea do rio Vjosa com o monte Nemercka, outro marco da Albânia, ao fundo Vista aérea do rio Vjosa com o monte Nemercka, outro marco da Albânia, ao fundo](https://conteudo.imguol.com.br/c/entretenimento/ce/2024/02/29/vista-aerea-do-rio-vjosa-com-o-monte-nemercka-outro-marco-da-albania-ao-fundo-1709252171576_v2_750x1.jpg)
Correndo por desfiladeiros íngremes cercados de florestas, o rio tem águas azul-turquesa, atravessadas por velhas pontes de pedra. Quando não há bosques, há vinhedos, fazendinhas familiares, plantações de oliveiras, pomares, ovelhas pastando em vales, campos de dentes-de-leão.
O Vjosa é considerado um dos últimos rios silvestres, não domesticados, da Europa. Nada de barragens, margens retificadas, poucas alterações nas paisagens no entorno.
Em 2023, o governo albanês o transformou em um parque nacional. É o primeiro do tipo no continente.
Que lugar é esse?
![Antigas pontes de pedra cruzam o rio Vjosa, descoberto pelo lazer e ecoturismo Antigas pontes de pedra cruzam o rio Vjosa, descoberto pelo lazer e ecoturismo](https://conteudo.imguol.com.br/c/entretenimento/2e/2024/02/29/antigas-pontes-de-pedra-cruzam-o-rio-vjosa-descoberto-pelo-lazer-e-ecoturismo-1709251871825_v2_750x1.jpg)
O Vjosa nasce no noroeste da Grécia, onde se chama Aoös. Desce 80 quilômetros até chegar à fronteira, e então são mais 192 quilômetros cruzando todo o sudoeste da Albânia rumo à foz, no Adriático.
Mesmo pequena, a bacia engloba biomas diversos e bem preservados, lar de cerca de 1.100 espécies de animais, incluindo 13 ameaçadas de extinção, segundo a União Internacional para a Conservação da Natureza (IUCN, na sigla em inglês). O rio tem, há séculos, vital importância para vilas e cidades em seu entorno. É essencial para a pesca e a agricultura.
De uns anos para cá, o Vjosa também se mostrou importante para o ecoturismo. Em caiaques ou canoas, cada vez mais pessoas estão desbravando o rio.
![Ponte suspensa à la Indiana Jones sobre o rio Vjosa Ponte suspensa à la Indiana Jones sobre o rio Vjosa](https://conteudo.imguol.com.br/c/entretenimento/f3/2024/02/29/ponte-suspensa-a-la-indiana-jones-sobre-o-rio-vjosa-1709252471891_v2_750x1.jpg)
Também por isso surgiu o parque, que deve entrar em operação total este ano. Parceria que envolveu o governo da Albânia, a IUCN e a grife americana de esportes de aventura Patagonia, a nova unidade de proteção é fruto de anos de campanhas e protestos contra projetos de barragens e de mineração. Até Leonardo DiCaprio abraçou a causa.
Foi uma vitória e tanto. O turismo como um todo no país é uma grande aposta que vem dando resultado. Segundo a Organização Mundial do Turismo, a Albânia foi o país europeu com o maior crescimento (53%) no número de turistas estrangeiros em relação a 2019, último ano antes da pandemia.
O Vale do Vjosa é, também, um desbunde de sabores. Trutas, mel da montanha, queijos, cordeiros e vitelas, ervas e frutas, vinho e rakia, o destilado onipresente dos Bálcãs, deixam qualquer roteiro mais gostoso.
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O que traz riscos. O "New York Times" lembra que essa combinação de potencial ainda não descoberto com a bem-afamada hospitalidade dos albaneses cria condições férteis para o turismo excessivo, que já aterroriza vizinhos como Grécia e Croácia.
Mas não vamos nos apressar. Para ficar entulhado de turistas, o país primeiro precisa de uma indústria e uma infraestrutura parrudas no setor, o que ainda não é uma realidade.
Cidade de pedra
![Pôr do sol sobre torre do relógio e fortaleza no castelo de Gjirokaster, na Albânia Pôr do sol sobre torre do relógio e fortaleza no castelo de Gjirokaster, na Albânia](https://conteudo.imguol.com.br/c/entretenimento/48/2024/02/29/por-do-sol-sobre-torre-do-relogio-e-fortaleza-no-castelo-de-gjirokaster-na-albania-1709252845392_v2_750x1.jpg)
Localizada em um vale próximo ao rio Drino, um afluente do Vjosa que também está na área de proteção do parque, Gjirokastër é um dos principais destinos de qualquer pessoa que visita a Albânia quando o foco da viagem não for apenas a Riviera Albanesa. A cidade é patrimônio cultural da humanidade, reconhecida pela Unesco pela sua arquitetura típica dos tempos otomanos.
O estilo das construções lhe rendeu o apelido "cidade de pedra". É um desses casos raros em que o cinza pode ser realmente bonito. As ruas íngremes, de paralelepípedos, levam e trazem ao antigo bazar e ao castelo, em um cenário em que o verde é raro, pelo menos no centro histórico.
![As belas ruas de paralelepípedo da cidade velha de Gjirokaster As belas ruas de paralelepípedo da cidade velha de Gjirokaster](https://conteudo.imguol.com.br/c/entretenimento/3d/2024/02/29/as-belas-ruas-de-paralelepipedo-da-cidade-velha-de-gjirokaster-1709253018655_v2_750x1.jpg)
O castelo começou a ser construído na Idade Média e, como é comum em grandes obras do tipo, sofreu uma série de intervenções desde então. A primeira fase da obra foi trabalho do Despotado do Epiro, um dos Estados remanescentes do Império Bizantino na Grécia do século 13.
Quando os turcos-otomanos conquistaram a região, no século 15, fizeram uma série de melhoramentos. No século 19, o castelo ganhou um aqueduto. Nos anos 1930, virou prisão.
Hoje é um museu dedicado, entre outros temas, à independência da Albânia (1912). Em alguns salões do castelo, há armas e veículos abandonados da Segunda Guerra Mundial, como tanques e um caça abatido.
É um lembrete de algo frequente na história dos Bálcãs. O choque entre forças beligerantes externas e as tensões muitas vezes sobrepostas regionais sempre fizeram da península um caldeirão de violência.
Um exemplo distante no tempo: em 198 a.C., os romanos derrotaram os macedônios em uma batalha no Vjosa. Outro mais recente:em 1939, Gjirokastër (e todo o resto da Albânia) foi conquistada pelos fascistas italianos.
O parque, agora, quer mostrar que esse rio, e o interior do país, têm também outras histórias para contar.
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