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Reportagem

Encostou, morreu: lenda antiga da pedra assassina no Japão dura até hoje

37º06'N, 139º59'L
Sessho-Seki, Nasu
Tochigi, Kanto, Japão

A notícia de que uma rocha se partiu em dois causou certo alvoroço no Japão. Não que ela fosse grande e pudesse destruir um bairro inteiro como um Godzilla inanimado.

Ainda assim, mesmo pequena, era uma ameaça. Pelo menos para os que acreditam em sua lenda.

Uma cerimônia precisou ser realizada às pressas. Sacerdotes, oferendas e rituais de purificação compunham o cenário naquele março de 2022, aos pés da montanha. Tudo para pacificar uma kitsune, poderosa e travessa raposa de nove caudas, o espírito furioso que habitaria aquela pedra.

Que lugar é esse?

Parque Nacional de Nasu
Parque Nacional de Nasu Imagem: iStock / Getty Images Plus

As montanhas de Nasu são conhecidas pelos "onsen", como são chamadas as casas e piscinas de águas termais no Japão. No país, grandes pedras nessas áreas sulfurosas, que expelem gases vulcânicos, têm fama de letais. Por isso, elas são chamadas "sessho-seki", ou "pedra assassina".

Essa sessho-seki, especificamente, tem uma lenda e tanto. Envolve complôs, golpes e caos político pela Ásia.

Tamamo-no-mae era uma kitsune que assumia a forma de "femmes fatales" para ludibriar monarcas. Primeiro, a raposa se transformou em uma concubina que seduziu o imperador chinês Zhou.

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Enfeitiçado, o homem instaurou um reino do terror, que alimentou rebeliões. A instabilidade levou ao fim da dinastia Shang, no século 11 a.C. Acuada, a raposa mágica fugiu para a Índia.

Lá, assumiu de novo a forma de uma concubina e encantou um príncipe. O homem decapitou mil pessoas, e o caos que se seguiu fez a kitsune fugir de novo.

Ela voltou para a China e o padrão se repetiu. Possuiu uma concubina, conquistou um monarca, que na sequência cometeu uma sequência de crimes. Mais uma lenda que se encaixa no padrão "homens poderosos que não assumem a responsabilidade por suas atrocidades e precisam culpar uma mulher sensual".

Tamamo-no-Mae
Tamamo-no-Mae Imagem: Tsukioka Yoshitoshi

Tamamo-no-mae passou séculos despercebida, até que chegou ao Japão do século 12. Dessa vez, sua missão era assassinar e destronar o imperador Konoe.

Só que o plano não deu certo. Tamamo-no-mae foi desmascarada por um guerreiro chamado Miura-no-suke. Derrotada, a raposa de nove caudas foi transformada em pedra.

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Mas ela continuava perigosa. Quem se aproximasse podia ser envenenado ou até morto. No século 14, um monge conseguiu acalmar o espírito. Ainda assim, poucos se arriscavam a chegar perto - um belo jeito de alertar que a área é cheia dos gases venenosos.

Cachoeira de Otome
Cachoeira de Otome Imagem: Getty Images

Um pequeno santuário foi erguido no local. Uma corda mantinha as pessoas afastadas - e o espírito da raposa, tranquilizado. Então, em 2022, quando a rocha se partiu em dois (em plena pandemia!), teve quem se alarmou.

A cerimônia contou com oferendas de saquê e frutas frescas e música com taiko, o tambor japonês, segundo o site "Sora News 24". Após as formalidades, um casal trajado como a kitsune posou para fotos, num lembrete que o evento como um todo teve a função também de divulgar o folclore e o turismo locais.

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Pouco após a cerimônia de purificação, a neblina cobriu a montanha. Para quem gosta de uma interpretação, a névoa representou uma camada adicional e literal de mistério.

A raposa ficou mais tranquila? Ou ela está à solta novamente, pronta para o próximo ciclo de turbulência política? Coincidência ou não, pouco mais de três meses depois, o ex-primeiro-ministro japonês Shinzo Abe foi assassinado.

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Texto que relata acontecimentos, baseado em fatos e dados observados ou verificados diretamente pelo jornalista ou obtidos pelo acesso a fontes jornalísticas reconhecidas e confiáveis.

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