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Dossiê do Vinho do Porto: conheça os diferentes tipos e aprenda combinações

Débora Costa e Silva

Do UOL, no Porto, em Portugal *

28/02/2015 08h00

Quem tem família de origem portuguesa já deve ter visto o pai ou o avô se servir de uma tacinha de vinho do Porto antes ou depois da refeição. A tradição é antiga e começou em Portugal - mais especificamente na região do Porto, onde a bebida foi criada. De lá para cá muita coisa mudou na culinária, mas esse vinho continua presente nas mesas de restaurantes como aperitivo ou digestivo. Já chegou até a migrar para o "outro lado" do cardápio, pois faz as vezes de ingrediente em alguns pratos, doces e salgados.

A bebida típica do Porto surpreende pela complexidade, pois não se resume a apenas uma característica. Há vários tipos, feitos de formas bastante diferentes, cores e sabores distintos e, claro, as combinações para cada um deles também variam. Para esclarecer todas as peculiaridades sobre do vinho do Porto, o UOL Comidas e Bebidas reuniu suas principais curiosidades.

Como surgiu? 

Embarcação turística em frente a Vila Nova de Gaia, cidade vizinha de onde pode-se ver o Porto - Débora Costa e Silva/UOL - Débora Costa e Silva/UOL
Embarcação turística em frente a Vila Nova de Gaia, cidade vizinha de onde se vê o Porto
Imagem: Débora Costa e Silva/UOL

Há controvérsias sobre a origem desta bebida. Uma das versões mais famosas é a de que em meados do século 17, os ingleses adicionaram conhaque no vinho produzido na região do rio Douro, próximo ao Porto, para que ele não azedasse na viagem até a Inglaterra.

No entanto, este procedimento já era realizado na época das grandes navegações, mas com uma aguardente vínica. Mas foi no período que os ingleses importavam a bebida que ela ficou famosa. Até hoje é armazenada nas caves de Vila Nova de Gaia, cidade vizinha do Porto.

Qual a diferença entre o vinho comum e o do Porto? 

Interior da cave da produtora de vinhos Sandeman, onde guardam as barricas com vinho do Porto, em Portugal - Débora Costa e Silva/UOL - Débora Costa e Silva/UOL
Interior da cave da produtora de vinhos Sandeman, onde guardam as barricas com vinho do Porto, em Portugal
Imagem: Débora Costa e Silva/UOL

O comum é gerado a partir do processo de fermentação: o açúcar da uva é transformado em álcool. Já no caso do vinho do Porto, a fermentação é incompleta. Ela é interrompida para que se adicione uma aguardente vínica, que é a substância que dará o teor alcoolico à bebida. Por isso ele fica mais doce que os outros vinhos, mas também é mais forte.

Para se ter uma ideia, o teor de suas bebidas em geral vai de 19 a 22% de álcool, contra os 14%, em média, dos vinhos comuns, de acordo com o Instituto dos Vinhos do Douro e Porto (IVDP).

Tipo de taça 

Taça de vinho - Getty Images - Getty Images
Imagem: Getty Images

O tradicional copinho de licor já é coisa do passado. Os especialistas da produtora de vinhos Sandeman, de Portugal, e o chef Renato Higa, proprietário da Moscatel Doceria, endossam que a nova tendência é a taça no formato de tulipa. A base larga é para os aromas se misturarem, e a boca estreita é para encaixar o nariz e não deixar escapar o cheiro.

Além disso, o formato privilegia o paladar. “A ponta da língua é onde há mais sensibilidade para o doce. A taça mais fechada já direciona a bebida para lá, potencializando o sabor”, explica Higa.

Ruby 

Vinhos do Porto,da esquerda para a direita: Branco, Tawny e Ruby - Dan Nelson/Creative Commons - Dan Nelson/Creative Commons
Vinhos do Porto,da esquerda para a direita: Branco, Tawny e Ruby
Imagem: Dan Nelson/Creative Commons

Entre os tintos, o Ruby é o mais clássico. É mais intenso, encorpado e doce que os outros, de cor vermelha escura e mantém o sabor forte da uva. Ele envelhece de três a seis anos em barris de carvalho e, devida a baixa oxidação, mantém por mais tempo suas características. Pode ser consumido em média até dois meses após a abertura da garrafa.

Combina com: Segundo Higa, o Ruby vai bem com frutas vermelhas. "Esse vinho já possui uma característica mais frutada e é mais ácido. Algumas sugestões são morango, uva passa, ameixa e framboesa", recomenda.

Tawny 

Vinho do Porto Tawny - Grapebowl/Creative Commons - Grapebowl/Creative Commons
Imagem: Grapebowl/Creative Commons

É feito com o mesmo tipo de uva que o Ruby, só que envelhece por mais tempo, chega a ficar até mais de 40 anos. Outra diferença é que as barricas são menores, portanto, a oxidação é maior e a bebida adquire mais a cor e os aromas da madeira – por isso, quanto mais velha, mais dourada e acastanhada ela fica.

Combina com: “Todos os vinhos do Porto funcionam muito bem com doces, via de regra, por conta da grande quantidade de açúcar que o vinho já tem”, explica Higa. Mas pode-se beber também junto com tortas de massa amanteigada e queijos fortes.

Branco 

Vinho branco - Getty Images - Getty Images
Imagem: Getty Images

Produzido com uvas brancas, envelhece cerca de dois anos e não chega a evoluir na garrafa. Quem acha o Ruby muito doce, pode dar mais uma chance ao vinho do Porto se experimentar o branco, que é levemente mais seco. Luiza Martini, proprietária da Casa de Vinhos - Famiglia Martini, sugere que tome ele um pouco mais gelado, na temperatura de 6 a 7ºC. “Por ser mais fresco e aromático, é muito utilizado para preparar drinques, assim como o Rosé, que é um pouco mais doce que o branco e é novidade no mercado”.

Combina com: Para Higa, chef do Moscatel, frutas secas, baunilha, bolos e caramelo são doces que combinam bem com o vinho do Porto branco.

Vintage 

Vale do Douro, em Portugal, onde plantam as uvas que produzem o vinho do Porto - Getty Images - Getty Images
Vale do Douro, em Portugal, onde plantam as uvas que produzem o vinho do Porto
Imagem: Getty Images

São os vinhos especiais, que saem de uma só colheita, tida como excepcional. Ele envelhece cerca de dois anos, da mesma forma que os Rubys. O que muda é que, se a qualidade da bebida se mantém, ela já é engarrafada. E aí pode contar 10, 20, até 50 anos de envelhecimento na garrafa.

“Os Vintages permanecem pouco tempo nas barricas para guardar as características do vinho mais frutado, mais potente, mais complexo”, explica Luiza. Ela alerta que é importante que se consuma a bebida logo que se abre a garrafa (em até 48 horas), senão oxida e perde as características. “Por isso, recomenda-se que aproveite um jantar em família, com bastante gente, para abrir um Vintage”.

E se, após o envelhecimento nas barricas, o vinho não mantiver a qualidade? “Se não é excepcional o suficiente, ele fica mais um tempo nas pipas e é engarrafado como LBV (Late Bottled Vintage) e vira outra categoria”, esclarece.

Combina com: Como tem semelhanças com o Ruby, pode acompanhar frutas vermelhas e chocolate, de maneira geral. Queijos de sabor forte também vão bem.


* A jornalista viajou para Portugal a convite da rede Hotéis Vila Galé