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Restaurante tibetano faz sucesso com chá de manteiga e temperos típicos

Eduardo Vessoni

Do UOL, em Três Coroas (RS)

21/11/2016 19h54Atualizada em 22/11/2016 13h37

Ao abrir o cardápio do Espaço Tibet, é possível não se dar conta de que aquela culinária vem de longe, com itens como carnes de cordeiro, frango e castanha de caju entre os ingredientes. Mas as semelhanças com a gastronomia brasileira param por aí. Todo o resto, do preparo à forma de servir, é feito como se faz no Tibete, o distante país asiático aos pés do Himalaia.

Considerado o primeiro restaurante tibetano do Brasil, está localizado na cidade gaúcha de Três Coroas (a 100 km de Porto Alegre). A casa inaugurada há cinco anos é o desfecho da história de Ogyen Shak, um artista que, aos 16 anos, fugiu do Tibete invadido pelos chineses e atravessou o Himalaia caminhando durante quase dois meses, com outros 30 refugiados, até o vizinho Nepal.

Momos, restaurante Espaço Tibet - Reprodução/espacotibet.com.br - Reprodução/espacotibet.com.br
O “momo”, trouxinha salteada na manteiga e recheada, é um dos pratos típicos do Espaço Tibet
Imagem: Reprodução/espacotibet.com.br

O saldo foram a perda de alguns amigos que o acompanhavam na travessia, um ano de internação, problemas de saúde e um exílio em um campo de refugiados na Índia.

Chef mirim
Em 2006, Shak veio parar no Brasil. Especializado em arte sacra, realizou trabalhos em um templo budista de Cotia, próximo à capital de São Paulo. Quatro anos depois, desembarcava no Templo Khadro Ling, em Três Coroas, de onde nunca mais sairia. Como tinha certa intimidade com as panelas - Ogyen aprendeu a cozinhar ainda criança, habilidade ensinada aos pequenos desde cedo- decidiu o caminho que seguiria por aqui, Hoje, ele se dedica a mostrar um pouco de sua terra com os pratos de seu restaurante.

"Nem sempre é fácil preparar estes pratos no Brasil. Aqui, muitos temperos tem sabor diferente", diz. Entre os principais ingredientes da culinária tibetana estão o "tsampa", farinha de cevada moída, além de carne de iaque (herbívoro de pelagem longa encontrado na região do Himalaia), de ovelha e de cabra.

Orgulhoso de sua cultura, o chef recorre a algumas adaptações para compensar a falta de produtos orientais. Ele ainda conta com a colaboração do pai, exilado na Índia, que costuma lhe enviar temperos como a pimenta-de-sichuan, aromática pimenta chinesa.

Shatok, prato do restaurante Espaço Tibet - Reprodução/espacotibet.com.br - Reprodução/espacotibet.com.br
Shatok, prato à base de carne do restaurante Espaço Tibet
Imagem: Reprodução/espacotibet.com.br

Para todos os gostos
Para começar, não tem como fugir de um dos mais tradicionais pratos típicos do Tibete: o “momo”, uma entrada que ganhou o mundo com a imigração dos tibetanos para outros países. Trata-se de um tipo de pão no vapor, salteado na manteiga e recheado com carne bovina, frango, batata, legumes ou shimeji (a partir de R$ 22,90, porção com seis unidades para duas pessoas).

Quem não pode com glúten ou lactose, as opções são os Alu Katsa (R$ 25,90), repolho recheado com castanhas de caju, frutas secas e açafrão e o Chamô Paley (R$ 26,90), pão típico acompanhado de cogumelos, ervas e requeijão.

Como prato principal, Ogyen sugere, entre uma história e outra sobre sua chegada ao Brasil, o “racha”, versão de um prato de seu país de origem (R$ 76,90): pernil de cordeiro, preparado com molho de cravo ou anis-estrelado, vinho tinto e açúcar mascavo em quantidades discretas que não se sobrepõem ao sabor da carne. Acompanham batatas seladas na manteiga, arroz branco com gergelim preto e castanhas de caju e cenoura caramelada.

Uma experiência mais arrojada é o curioso e saboroso “po cha”, um chá de manteiga que leva ainda leite, chá preto e sal do Himalaia, servido apenas em dias mais frios. Para os fãs de bebidas alcoólicas, há o “Chang”, um parente da cerveja tibetana, feita de arroz e de aspecto leitoso.

Em seu restaurante, são usados talheres de alumínio e não hashis -Ogyen conta que os famosos pauzinhos orientais não são comuns no Tibete. Na hora de comer, a tradição é mantida: as porções chegam à mesa em tigelas de porcelana para serem compartilhadas entre todos, outra característica da cozinha oriental.

* O jornalista Eduardo Vessoni viajou ao Rio Grande do Sul a convite da Pousada do Engenho (www.pousadadoengenho.com.br) e com o apoio da Serrano Passeios