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Churrascarias tomam susto, mas retomam movimento após operação Carne Fraca

Como está sendo a rotina nas principais churrascarias após a operação Carne Fraca? - iStock
Como está sendo a rotina nas principais churrascarias após a operação Carne Fraca?
Imagem: iStock

Bárbara Stefanelli

Do UOL

24/03/2017 04h00

O Brasil é o maior exportador e segundo maior produtor de carne bovina do mundo. A reputação da nossa carne e churrasco sempre esteve em alta até a deflagração da operação Carne Fraca. Pouco mudou nas churrascarias. Pelo menos é o que afirmam os donos e gerentes dos lugares mais estrelados de São Paulo.

“No sábado, um dia após a operação estourar, eu trabalhei mal, teve uma queda de 20% na clientela, mas no domingo já voltou ao normal. Hoje, por exemplo, já estou com a reserva cheia”, afirma Luis Carlos Ongaratto, gerente e comprador das carnes da churrascaria Jardineira Grill, em São Paulo.

O coordenador da churrascaria ainda conta que, na própria sexta, quando estourou a operação, ligou para a JBS, uma das fornecedoras da Jardineira. “Também fiquei chocado. Mas, no próprio dia, veio um diretor deles aqui para me tranquilizar. Queira ou não, eles também ficaram preocupados.” Alguns clientes também telefonaram para Ongaratto. "Tiveram três ou quatro ligações, de pessoas querendo saber de onde é a nossa carne. Expliquei tudo e, inclusive, disse que poderiam visitar nossa cozinha, ver onde guardamos as carnes."

Fiquei preocupado se o povo ia parar de comer

Luis Carlos Ongaratto, da Jardineira Grill

Silvia Macedo Levorin, sócia-diretora da churrascaria Rodeio, conta que ficou “superchocada” com as notícias. “No primeiro momento, passou pela minha cabeça se tinha alguma carne do tipo aqui na churrascaria. Mas aí vi que nenhum dos frigoríficos citados são nossos fornecedores.” E acrescenta: “Mesmo assim, ficamos atentos, porque achamos que poderia ter algum tipo repercussão. Fiquei preocupada com isso, pensando em como a gente poderia se posicionar”.

Silvia Levorin, na churrascaria Rodeio - Folhapress - Folhapress
Silvia Levorin, na churrascaria Rodeio, no Jardins
Imagem: Folhapress
Já Giovani Laste, gerente geral da Vento Haragano, afirma que não se abalou. “Não houve qualquer mudança por aqui, conheço muito bem os frigoríficos com que trabalho, eu acompanho o processo deles, então isso me tranquilizou muito. Fora que não dá para generalizar, são só 21 empresas sendo investigadas.” O administrador complementa: "A carne brasileira é boa. A maior parte do nosso rebanho é de pasto e não de confinamento, o que a deixa mais macia. Eu conheço o abate da Argentina, da Austrália. Posso afirmar que nosso abate está entre um dos melhores do mundo."   

A churrascaria Barbacoa, outra de renome, afirma que 80% das carnes que serve é do Brasil. "Entre as mais pedidas, estão a picanha, o contra-filé, a costela e o cordeiro. Não tivemos que jogar nada fora, temos total controle das matérias-primas que compramos e acompanhamos de perto a evolução do mercado nacional ao longo dos anos", explica Lucianne Carmo, diretora de marketing da casa, que afirma também confiar em seus fornecedores.

Apesar do susto e generalização iniciais, vale dizer que empresas gigantes do setor, como JBS (dona da Seara) e BRF (Sadia e Perdigão) não são suspeitas de vender carne estragada, segundo lista divulgada pelo Ministério da Agricultura nesta terça-feira (21). Elas são suspeitas de corrupção e fraude administrativa.

O problema maior é com os processados

Silvia Macedo Levorin, da Rodeio
 

A carne que mais saiu manchada é a da linguiça e da salsicha. A Polícia Federal apontou o uso de papelão, aditivos proibidos e até de cabeça de porco na composição dos embutidos de algumas empresas. “O problema que houve é mais com a carne processada e, por acaso, não compramos de nenhum desses frigoríficos que estão sendo investigados, então estamos tranquilos nesse sentido. A maior parte das nossas peças vêm da Argentina, nosso carro-chefe é a picanha da Argentina”, afirma Silvia.

Ongaratto, da Jardineira, também afirma que não trabalha com linguiças das marcas investigadas. “Na verdade, uso muito pouca carne brasileira, mas eu trabalho com algumas da JBS --tem a costela premium, o cupim e os frangos. Mas a maior parte da minha carne é uruguaia e argentina, porque lá o pasto é plano e a carne é mais macia.”

Goivani Laste completa: “Claro que tem fornecedor pior, mas é só buscar a melhor matéria-prima do mercado. Uma coisa é pagar R$ 5 e outra é pagar R$ 15 pela linguiça”. 

Desdobramentos da operação

O Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento divulgou os motivos pelos quais as 21 empresas citadas na operação Carne Fraca estão sendo investigadas. Há suspeitas de venda de carne estragada e de corrupção de fiscais. Seis delas são suspeitas de vender carne deteriorada, vencida ou alterada. A maioria das 21 citadas não tem relação com carne estragada, mas com problemas administrativos, segundo o ministério. Clique aqui para ler as últimas notícias relacionadas à operação.