Dos tempos de Napoleão: conheça a história por trás do "vinho dos mortos"
De origem portuguesa e com o inusitado nome de "vinho dos mortos", esse tipo de vinho foi criado de forma praticamente acidental em meio a uma guerra. A história da bebida, assim como seu sabor, é bastante peculiar.
Conta a tradição que, quando Portugal foi invadida pelas tropas de Napoleão Bonaparte em 1807, os donos das vinícolas das regiões de Trás os Montes e Beira Alta tiveram que esconder seus pertences mais valiosos para não serem saqueados pelos franceses. Entre as coisas que não poderiam cair nas mãos dos soldados napoleônicos, também estava o vinho produzido no local – e por isso as garrafas foram parar em covas rasas posicionadas debaixo das videiras e das adegas.
Meses depois, após as tropas terem sido expulsas do território português, os produtores voltaram às quintas e removeram os vinhos de seus “túmulos”, sem grande esperança de encontrar algo que pudesse ser consumido. Para a grande surpresa de todos, no entanto, a bebida tinha ficado ainda melhor depois da temporada debaixo da terra.
Por conta da temperatura constante e da fermentação completamente no escuro, o vinho dos mortos é uma bebida levemente gaseificada e de sabor muito específico. Há quem diga que o solo de saibro também tenha contribuído para manter a qualidade da bebida. Verdade ou não, o fato é que a partir disso a produção acabou sendo padronizada para garantir, de propósito, o resultado obtido por acidente.
A tradição portuguesa revivida em São Roque
O método de produção do vinho enterrado, atualmente, está reduzido a poucas vinícolas portuguesas na região do Alentejo – o rótulo tem designação de origem regional controlada e a safra, em geral, é vendida com bastante antecedência tão logo as garrafas vão para suas "covas".
No entanto, um produtor brasileiro “ressuscitou” a tradição por aqui, transformando o ‘funeral’ das garrafas em um grande evento com direito a fado e festa. Há dez anos, o produtor Olivardo Saqui promove noitadas de enterro de vinhos em sua vinícola em São Roque (SP).
O evento, que acontece no terceiro sábado de todo mês, envolve uma procissão à luz de tochas e música portuguesa. “A história do vinho dos mortos está morrendo em Portugal e por isso passei a revivê-la por aqui”, explica. “Muita gente faz do evento um passeio com a família, reunindo todos especialmente para a ocasião. Tem até quem traga os amigos para a vinícola só para mostrar onde enterrou a sua garrafa”.
Olivardo enterra garrafas de vinhos Bordeaux e Cabernet Sauvignon ainda jovens por seis meses na propriedade que mantém com a esposa e faz questão de seguir a tradição com bastante festa. Afinal, apesar do nome, "o vinho dos mortos anima os vivos!"
ID: {{comments.info.id}}
URL: {{comments.info.url}}
Ocorreu um erro ao carregar os comentários.
Por favor, tente novamente mais tarde.
{{comments.total}} Comentário
{{comments.total}} Comentários
Seja o primeiro a comentar
Essa discussão está encerrada
Não é possivel enviar novos comentários.
Essa área é exclusiva para você, assinante, ler e comentar.
Só assinantes do UOL podem comentar
Ainda não é assinante? Assine já.
Se você já é assinante do UOL, faça seu login.
O autor da mensagem, e não o UOL, é o responsável pelo comentário. Reserve um tempo para ler as Regras de Uso para comentários.