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Vinho europeu ou argentino? Saiba quando a origem da bebida faz diferença

A variedade malbec veio da França, mas encontrou seu habitat na Argentina - Ayrton Vignola/Folhapress
A variedade malbec veio da França, mas encontrou seu habitat na Argentina Imagem: Ayrton Vignola/Folhapress

Anna Fagundes

Do UOL

25/05/2017 04h00

No mundo dos vinhos, dá para classificar os rótulos de diversas formas: tintos, brancos ou rosés, suaves ou encorpados, espumantes ou de mesa... E, principalmente, por origem. Daí uma das divisões mais comuns do mercado - os vinhos do chamado "Velho Mundo" (leia-se Europa) e os do "Novo Mundo" (Américas, África do Sul e Austrália).

Vinhos europeus têm fama histórica

A separação entre os dois mercados é bem mais do que uma mera questão de território - por muito tempo, considerou-se a ideia de que vinhos produzidos fora da Europa teriam qualidade inferior aos "verdadeiros" vinhos de terroirs tradicionais, como França e Itália. Afinal, um dos critérios que costumam dar "peso" ao preço final de um rótulo costuma ser a origem da bebida.

Preconceito caiu com teste cego

Muito do preconceito da crítica com vinhos produzidos fora do continente europeu caiu por terra após um episódio conhecido como o "Julgamento de Paris" - em 1976, uma degustação às cegas na capital francesa analisou vinhos Cabernet Sauvignon e Chardonnays produzidos na França e nos Estados Unidos. Para a surpresa geral, os vinhos norte-americanos foram bem mais pontuados do que os rótulos franceses, o que causou uma surpresa em todo o mercado.

Europeus prezam por tradição de produtores

"A relação entre o Velho e o Novo Mundo é uma questão de tradição versus inovação", explica Pedro Cardoso, produtor português e professor do curso básico em vinhos do Senac Aclimação, em São Paulo.

Para ele, os vinhos europeus se prezam mais pela "vinificação como arte", dando preferência aos métodos tradicionais e com a menor intervenção possível na bebida durante sua produção. "O objetivo do fabricante é a expressão do terroir", explica. Tanto é assim que, em sua maioria, o destaque no rótulo é o do produtor ou o da região produtora, não o tipo da uva que fez a bebida, em geral mais sutis e menos frutuosas que as fabricadas fora do continente.

Isso se nota particularmente nos vinhos com denominação de origem controlada, em que o nome da região produtora acaba se tornando sinônimo do vinho produzido por lá - como o caso, por exemplo, dos Bordeaux, Chabilis, Champagne e Chianti.

Novo Mundo valoriza a tecnologia na produção 

Já os vinhos do chamado Novo Mundo, "o objetivo do fabricante é a expressão da fruta". Os vinhos, em geral, são vendidos com os nomes das variedades de uva e existe um controle maior do processo de vinificação, até como uma maneira de compensar o terreno nem sempre propício para a criação de uvas. "A tecnologia é venerada e o mérito do vinho é de seu fabricante", conta o professor.

Algumas varietais que não tiveram grande sucesso na Europa encontraram seu melhor terreno em outras localidades - é o caso, por exemplo, do Malbec, originalmente francês mas que, atualmente, é sinônimo de vinho argentino para muita gente, ou ainda o Shiraz (ou Syrah), muito cultivada na Austrália. Entre os vinhos de origem norte-americana, os mais produzidos são os Cabernet Sauvignon, Chardonnay e Pinot Noir - todos com "parentes" europeus de renome, mas que acabaram ganhando o respeito do mercado por mérito próprio.

Existe qualidade para os dois tipos

Pedro explica que, atualmente, ter preconceito entre os dois tipos de rótulo é uma atitude ultrapassada. "Existe qualidade e preço para ambos. O mundo novo faz vinhos excelentes e ambos são ótimos para o mercado poder escolher sua preferência. Tem vinho para todos os gostos e todas as horas, isso é o importante."