4 dicas para redescobrir as plantas dentro de casa como um paisagista
A pandemia fez o medo se espalhar por todos os ramos de nossa vida. Já lidávamos com o pavor de perder o emprego, bombar na escola, não entrar na calça preferida, ter câncer, ser traído.
Agora, temos medo de ir para rua, de abraçar familiares, de receber entregas mesmo sem sair de casa. Muitos desses medos são legítimos, alguns, necessários. Esse sentimento nos ensina há milhões de anos como agir e o que evitar para preservar nossa espécie e integridade física. Mas nenhuma dessas coisas explica por que tanta gente anda com medo de mexer nas plantas.
Veja, não falo aqui de ter fobia de insetos ou de sair correndo ao ver uma verdinha. O medo que mais vejo é só o de... errar. De fazer algo que estrague a planta, que a faça durar menos ou, na pior das hipóteses, que a mate de vez.
Curiosamente, quem se sente inseguro nesse nível comete mais "planticídios" do que quem faz alguma coisa. A pessoa segue mantendo o vaso em local escuro "por medo de não saber onde por", continua deixando o fungo se espalhar "por medo de transplantar a orquídea" e não colhe as verduras no ponto certo "por medo de não saber quando fazer isso".
Por trás desse sentimento há um outro também complexo de se lidar: a vaidade. Não é só que não querermos errar, queremos acertar sempre. Buscamos a estrelinha no caderno. Só que o erro é um professor e tanto: foi graças a ele que você aprendeu a não por a mão no fogo, certo?
Quando deixamos a vaidade de lado e focamos de fato em entender onde erramos, quando reunimos esforços para aprender a sinalização da planta e reagimos com calma e atenção, aprendemos muito. Pode até ser que você ainda mate alguma flor ou folhagem, mas, "tijuro", vai ser cada vez menos.
Aqui vão quatro bons caminhos para largar o medo e deixar florescer seu lado naturalista-investigador, alimentando aquela coragem básica que todo verdadeiro amante das plantas precisa ter para seguir em frente. Você talvez ainda tenha outros medos na vida - usar máscara e lavar bem as mãos vai ajudar em alguns deles, mas te prometo que o pavor de mexer nas plantas vai, aos poucos, dar espaço ao prazer - e ainda reforçar sua auto-estima.
1. Ofereça mais sol
A maioria das plantas tem problemas pelo simples fato de ser cultivada na luz errada. Embora sejam expressões comuns no meio botânico, "sol pleno", "meia-sombra" e "sombra" causam enorme confusão em quem está começando na jardinagem - de um tanto, mas de um tanto, que eu as tenho trocado por "sol forte o dia inteiro", "sol por umas 4 horas" e "sol fraquinho da manhã". Experimente por uma planta "triste" no sol, das 6h às 8h, e você verá milagres acontecerem.
Quando falamos em aumentar a insolação, precisa bater sol na planta todinha, não só na pontinha dos ramos da sua samambaia rente ao teto nem só de um lado da sua jabuticabeira na varanda. Sol não é claridade, É SOL MESMO. Algumas plantas vão precisar de muito mais que duas horinhas, mas aumente a insolação um pouquinho por dia, começando pelo sol da manhã, assim, você consegue dar um passo atrás se notar que alguma folha queimou.
2. Saiba quem são suas verdinhas
As plantas estão na intimidade do nosso lar, mas a maioria das pessoas mal conhece seus nomes - e nem falo na terminologia científica, que é assustadora e complexa.
Saber ao menos o nome popular de uma planta ajuda demais a buscar mais informações sobre ela. Mesmo que você não consiga descobrir o detalhe da espécie ou do híbrido, pesquisar sobre sua verdinha e descobrir que ela é uma folhagem da família Araceae vai ser uma pista importante para saber que ela é tóxica se ingerida ou que você pode esperar por flores bem discretas (pois é, mesmo jiboias, aglaonemas e filodendros dão "flor").
Conhecer suas inquilinas também evita muito desespero quando elas morrem, afinal, não há adubo que faça um rabanete durar mais que alguns meses ou que garanta um mesmo pé de girassol florido por anos - essas são plantas anuais, o que significa que seu ciclo completo dura menos de doze meses, geralmente metade disso.
3. Teste uma coisa de cada vez
Quando uma planta vai mal, muita gente tenta recuperá-la sem nem mesmo saber o que causou o problema. Já vi usarem fungicida em inseto, inseticida em queimadura de sol e até mesmo cortarem raízes e transplantarem verdinhas que estavam apenas com... sede! Lutar contra algo que não se conhece não tem lógica e provavelmente dará mais errado que certo.
Primeiro, observe, depois, confirme seu diagnóstico e só então aja, mas sempre testando uma única solução por vez (e isso depois de testar colocar o vaso por algumas semanas no sol, como sugeri na primeira dica deste texto).
Algumas reações demoram, então, ainda que você tenha identificado cochonilhas corretamente e acrescentado cálcio na adubação, esse nutriente leva meses para ser absorvido pelo solo, o que significa que podem aparecer cochonilhas novamente por algum tempo.
4. Corte partes da planta em último caso
Brinco nas minhas aulas que a pior doença da jardinagem é a "cortite": a criatura não pode ver uma pontinha de folha seca, um cabinho de Phalaenopsis sem flor, uma raizinha para fora do vaso que já quer meter a tesoura. Plantas precisam de folhas para fazer fotossíntese então, a menos que o dano tenha esturricado a folha toda, cortar vai piorar a situação, diminuindo a área útil para captar energia solar e a capacidade de a planta sintetizar nutrientes.
Vejo exageros quase surreais, como uma leitora que arrancou todas as folhas com pintinhas de uma orquídea, porque queria que ela ficasse verde como no dia em que foi comprada.
Para você entender o nível de agressividade de uma medida dessas, o que ela fez foi como cortar um braço de uma pessoa com unha encravada. Plantas são plenamente capazes de descartar folhas, flores, pseudobulbos e outras partes vegetais sozinhas.
Antes de arrancar qualquer coisa da sua verdinha, avalie bem se a decisão não está sendo mais pela estética do que porque algo de fato parece se espalhar pelas folhas.
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