Descubra o jeito certo de regar suas orquídeas (e nunca mais matá-las!)
"Olha, moça, regue essa orquídea com 200 ml de água por semana." Quando comecei na jardinagem, matei minha primeira dezena de orquídeas seguindo rigorosamente todas as orientações dos vendedores.
Hoje, depois de largar o jornalismo pra virar jardineira e trabalhar com isso há quase dez anos, posso garantir: a recomendação mais assassina que vejo em floriculturas é justamente sobre regas. E não, o vendedor não está mentindo só pra você comprar uma Vanda ou uma Phalaenopsis, ele apenas repete o que aprendeu... com os produtores de orquídeas!
Eu sei, dá pau no cérebro isso. Deu no meu também. E, como jornalista, fui investigar de onde é que tinha surgido essa quantidade tão precisa de água, quase como uma receita médica. Numa estufa profissional são cultivadas milhares de orquídeas parecidas.
Um produtor de Phalaenopsis, por exemplo, tem 50, 60 mil vasos dessa orquídea, dispostos lado a lado, em mesas de tampo todo furadinho, embaixo de um teto alto, coberto por sombrite ou um plástico leitoso, recebendo luz controlada.
As plantas não passam fome ou sede porque tudo é administrado automaticamente por modernos sistemas de irrigação, que gotejam, vaso a vaso, água com adubo, dia e noite.
Elas também não sabem o que é frio ou calor. Em algumas regiões do Brasil, as estufas ganham aquecimento no inverno, para temperatura ser mantida estável e as flores não se abrirem antes da hora.
No verão, as estufas são resfriadas por um sistema especial, que usa água e exaustores nas laterais da estrutura, tirando o ar quente e mantendo o ambiente fresco caso uma determinada temperatura seja atingida.
Ah, e cada planta ainda tem inspeções extras de pragas e doenças, feitas por um agrônomo, que eventualmente faz ajustes na adubação ou pulveriza um fungicida ou inseticida bem específico.
E tudo é diferente na estufa de Oncidium, na de Dendrobium, na de Vandas, na de Cymbidium... Pra cada gênero, há um protocolo completamente diferente, muda o vaso, o substrato, a quantidade de luz, os adubos.
A esta altura, você provavelmente já deve ter reparado que nada, NADA disso se parece com nosso cultivo doméstico. Em primeiro lugar, qualquer colecionador iniciante quer exatamente o contrário de um produtor: plantas DIFERENTES!
A gente mistura Phalaenopsis com Vanda, Paphiopedilum e Cattleya porque queremos ter variedade, não plantas parecidas. Só por esse ponto, já fica difícil criar um regime de regas que atenda a todo mundo por igual: os tais 200 ml podem ser bons pra uma planta e péssimos pra outra.
Enquanto nas estufas profissionais há um rigoroso controle de luz, temperatura, pragas e doenças, em casa a gente amontoa os vasos onde dá, às vezes bota a planta pras visitas verem na mesinha de centro da sala, bem longe da janela ou de qualquer fonte de luz natural.
Em vez de manter no vaso com furo, em cima de uma mesa igualmente furadinha, achamos mais legal colocar a orquídea num vaso chique, sem furo, o tal do cachepô. E, pra evitar o acúmulo de água no fundo, a gente... molha menos do que aqueles 200 ml semanais. Porque mesmo essa quantidade de água acaba empoçando no cachepô.
Resumindo: a planta começa a definhar e muita gente (eu incluída, quando comecei na jardinagem) acha que está "molhando muito". Ao diminuir as regas, a orquídea sofre ainda mais e a pessoa acha que é praga ou doença, corre na internet, começa a tentar mil receitas malucas ao mesmo tempo, bota canela no substrato, tira a planta do sol. No que o planticídio se consome, bate aquela culpa: "Acho que molhei muito".
Verdinho, eu, uma ex-garden killer, vou te contar algo que aprendi na marra, depois de matar muita orquídea: bote água nelas com fé. Se estiver no cachepô, tire o vaso dali e molhe a planta embaixo da torneira, inclusive as folhas, em abundância (evite molhar as flores, pra que durem mais).
Tá plantada direto no cachepô? Molhe muito, até fazer piscininha, conte umas duas horas e depois tombe o cachepô, pra escorrer o excesso de água por cima (segure o substrato com uma das mãos).
Não se prenda à regra nenhuma, porque a planta vai te dizer quando estiver com sede novamente: o substrato fica seco ao toque. Simples assim.
E os tais 200 ml? De onde surgiram? É a exata quantidade de água que o sistema de irrigação goteja num vaso por semana numa estufa profissional de Phalaenopsis. Se quiser muito uma formulinha de bolo pra regar suas plantas, ponha água como quem salga a comida: o quanto baste. ;)
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