"Cruella" é um ícone fashionista? Sim, mas não é de hoje
O bem-sucedido "Cruella" chegou aos cinemas na semana passada. As primeiras avaliações, fossem elas da crítica especializadas ou do público, foram de aclamação. Já a bilheteria, tão histórica quanto: US$ 25 milhões em um final de semana, só nos Estados Unidos.
A história sobre a origem da vilã de "101 Dalmátas", animação exibida pela primeira vez em 1961 pela Walt Disney, nos prova uma coisa: a personagem nunca saiu de moda. Mesmo 50 anos depois — desta vez interpretada pela atriz Emma Stone.
Para chegarmos até os tempos atuais, ignorar seus primeiros passos seria um erro. Em sua aparição inaugural, desenhada pelo artista Marc Davis, Cruella já se mostrava uma figura (maldosa ou não) icônica.
Seus traços afiados e pontudos, desde o queixo ate as maçãs do rosto, eram contrastantes com as roupas usadas por ela: casacos de pele volumosos, luvas vermelho-sangue e sapatos de salto alto combinando.
Tudo acompanhado de um cigarro para relembrar do seu caráter duvidoso.
Em meio a princesas, que sempre apareceram com vestidos óbvios, a vilã se apresentava como um refresco visual. Flertando, inclusive, com mullets no cabelo colorido em preto e branco.
Algumas décadas depois, em 1996, se ainda restavam dúvidas sobre Cruella ser a personagem mais fashionista da Disney, elas foram comprovadas no longa-metragem estrelado por Glenn Close.
Entre seus figurinos, além de vestidos dignos de um Met Gala (a festa mais disputada, ousada e observada do calendário de celebridades, em Nova York), estava, em especial, um blazer com as ombreiras pontiagudas.
O look em questão poderia facilmente integrar as mais recentes coleções da Balmain e Balenciaga.
Estilosa, independentemente da época em que foi retratada, trazer Cruella como um ícone de moda atual chega a ser irônico. Lembro aqui as grifes que vêm se desvencilhando do uso de pele animal para suas coleções, enquanto a vilã é reconhecida por vesti-las para suas roupas glamourosas.
Sobre isso, a produção do longa-metragem garante não ter recorrido ao uso desses materiais, ligados à violência animal:
"Em nosso filme, Cruella não faz mal aos animais de forma alguma. A personagem atual não compartilha das mesmas motivações de sua contraparte animada", informou a Disney em comunicado à imprensa ao mencionar os 277 figurinos feitos exclusivamente para o live action.
Quarenta e sete desses, feitos especialmente para Emma Stone, foram inspirados na revolução do punk rock em Londres, na Inglaterra, e as peças refletem essa escolha — com todas as camadas de couro preto, grafismos e referências à moda nacional, como da estilista britânica Vivienne Westwood.
Mas por que a moda à la Cruella é tão atual?
Por mais prazeroso que o conforto das nossas roupas tenham se tornado durante o confinamento, o luxo nos faz falta. E ninguém melhor do que uma vilã high fashion para nos relembrar quão saudosos nós estamos de nos vestirmos para ir às ruas.
E, nesse meio tempo, nos desfiles presenciais, digitais e red carpets na pandemia, Cruella se fez presente. Coincidentemente ou não.
No Grammy, em março deste ano, vimos Beyoncé usar luvas Schiaparelli pretas com unhas douradas, semelhantes aos acessórios com garras usados pela Cruella de Glenn Close.
Já no Oscar, Celeste Waite nos ofereceu Cruella vibes ao desfilar no red carpet da premiação com um look de franjas da Gucci, estampado com quadriculados vermelho e preto.
Nos desfiles, a semelhança com o estilo da vilã é ainda mais evidente.
Para a coleção de inverno 2021, Michael Kors vestiu suas modelos com peças que pareciam ter sido pensadas para a estilista londrina interpretada por Emma Stone — ou até mesmo sua precursora, Glenn Close: sobretudos com estampa de leopardo e zebra e casacos de pele falsa nas cores rubi, creme e preto.
Dentre tantos, citar Alexander McQueen é imprescindível. Isso porque a designer de cabelo e maquiagem de "Cruella", Nadia Stacey, revelou ter se inspirado no estilista para moldar o visual dos personagens do longa-metragem. Ela cita ainda nomes como o de David Bowie e do artista drag David Hoyle.
As coleções do McQueen (1969-2010) ficaram conhecidas por combinar a alfaiataria britânica sob medida, o fino acabamento dos ateliês franceses de alta-costura e o acabamento impecável da fabricação italiana. Tudo isso feito com a justaposição entre elementos contrastantes, como a "fragilidade e a força, tradição e modernidade, fluidez e intensidade".
Se restam dúvidas se as peças de Alexander McQueen caberiam à Cruella, o desfile da grife na Semana de Moda de Paris, em 2020, as esclarecem com obviedade.
Com tudo isso dito, "Cruella", além do entretenimento, nos lembra que há de existir glamour na moda pós-pandemia. E, claro, nos recordar também de que um vestido preto e sapatos de salto alto vermelho, como usados pela vilã na animação, sempre serão irretocáveis.
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