Em Cannes, extravagância dos looks foi vingança contra conforto já tedioso
A era dos moletons. Esse é um dos possíveis nomes que podemos dar, quando nos referimos à moda, ao confinamento durante a pandemia do coronavírus. O conforto predominou, dentro e foras das passarelas, enquanto muitos questionavam: como será o retorno dessa indústria? A fantasia, sensualidade e o clima festivo eram algumas das apostas — e, de acordo com o Festival de Cinema de Cannes, os palpites estavam certos.
O evento serviu quase como um aquecimento para o Met Gala que, depois de um ano suspenso, voltará aos holofotes em 2021, no mês de setembro. O tapete vermelho reuniu diversas celebridades que desfilaram looks, em grande parte, extravagantes. O "aconchegante" pode até ter dado as caras, mas quem roubou as cenas foram as roupas que traziam a mensagem de que, finalmente, poderemos voltar a sonhar com o retorno do glamour em breve.
A moda-fantasia
Neste ano, Bella Hadid se consagrou como uma das famosas em que, a partir das próximas edições, todos vão estar ansiosos para ver o que está vestindo.
Entre seus looks, estava um vestido da Jean Paul Gaultier, lançado em 2002, e reproduzido especialmente para a modelo. No entanto, o mais deslumbrante deles foi o Schiaparelli. Com pulmões de ouro que cobriam o busto, a peça da grife italiana foi um suspiro para a moda criativa nos red carpets.
Conto de fadas
Mas o exagero foi visto de diversas outras maneiras. Uma delas os tules volumosos, como mostrou a nossa "Garota Exemplar" Rosamund Pike. Camadas do tecido na cor vermelha deram movimento a baixa inferior do vestido, enquanto um decote transparente nas laterais destacavam o busto da peça Dior.
O look em questão foi apresentado na coleção de Outono/Inverno 2021, posterior ao mergulho místico no tarot, em que a diretora criativa Maria Grazia Chiuri trabalhou com o universo fantasioso para a elaboração do conceito — citando referências como a "A Bela e a Fera", em sua versão cinematográfica de Jean Cocteau (1946), do conto escrito por Madame de Villeneuve, em 1740.
O conto de fadas ganhou vida em Cannes, mas não apenas com Rosamund Pike levando a mensagem da Dior.
O tule foi o ponto de destaque também do vestido usado por Sharon Stone. A atriz apareceu no tapete vermelho do festival coberta pelo tecido azul e flores, feitas à mão, que decoravam deste o seu decote até a barra da peça da Dolce & Gabbana. Em algumas fotos, ela foi registrada tendo dificuldades para subir a escadaria do local.
Mas quem liga pra isso quando está vivendo uma fantasia depois de tanto tempo?
Muito ainda é pouco
Do guarda-chuva às joias
Se alguém ainda tinha dúvidas sobre isso, a francesa Yseult não deixou incertezas. Com um vestido branco da estilista Vivienne Westwood, a cantora usou a peça que deixava as pernas de fora e misturava ao mesmo tempo volumes, como nos ombros, e transparência com rendas nos braços, cintura e pernas.
Já o acessório escolhido por ela foi um guarda-chuva. Nada de bolsas, mas um guarda-chuva que complementava o resto do look — que poderia facilmente ser usado por uma noiva da Geração Z como um véu moderno.
E, por falar em noivas e exagero, a cauda do vestido da Gucci, usado pela atriz Jodie Turner-Smith, foi outro ponto alto do tapete vermelho com o contraste de cor entre o amarelo e branco.
A parte de cima da peça reproduzia uma lingerie com pequenos brilhantes cravados. Os colares e brincos usados por ela também eram da coleção de alta joalheria da grife italiana — que chamaram a atenção de ladrões e resultaram em um furto de joias no seu quarto de hotel em Cannes.
"Não pensei que passaria duas horas e meia na delegacia de polícia no meu último dia em Cannes, mas aqui estamos nós", escreveu ela no seu perfil no Twitter.
A moda masculina em Cannes
Rosa e brilho
Entre inúmeros ternos pretos e brancos, os que se destacaram na moda masculina do festival foram os que levaram cores ao tapete vermelho. Preferencialmente, o rosa. O mais poderoso deles, provavelmente, o escolhido por Spike Lee. O conjunto da Louis Vuitton escolhido por ele para a sua estreia, em um pink vibrante, foi um dos momentos auges para os homens que se inspiram no que veem por lá.
O visual do presidente do júri do festival foi complementado ainda por óculos escuros e um par de tênis Air Jordans, da Nike.
A mesma cor apareceu, em tom pastel, no terno da Loewe do ator Josh O'Connor, conhecido por dar vida ao príncipe Charles na série "The Crown", da Netflix. O ator, que vem conquistando seu espaço fashionista ao lado da casa de moda espanhola em questão, foi fotografado também com outra peça da marca: uma camisa com uma regata bordada na parte frontal. Uma espécie de sobreposição criativa.
Timothée Chalamet também se fez diferente em maio ao preto e branco. O ator, conhecido por atuar em "Me Chame Pelo Seu Nome", desfilou um terno da Tom Ford com estampa jacquard prateada. O look foi combinado com uma camisa de gola com faixas e botas com biqueira chanfrada creme.
Memes
Ao lado dos colegas, o diretor Wes Anderson e os atores Tilda Swinton e Bill Murray, Timothée foi um dos coprotagonistas de um dos melhores memes do Festival de Cannes, em 2021.
No Twitter, o visual dos quatro desencadeou diversas publicações, que os comparavam ao comportamento de usuários nas diferentes redes sociais até as particularidades na forma de vestir de cada geração, da Z aos Boomers.
"Prefiro Toddy ao tédio"
No Brasil, a pandemia ainda parece um pouco distante de chegar ao fim. Enquanto isso, a animação inicial de nos vestirmos de forma confortável já beira ao tédio — mesmo com os fashion filmes, como no São Paulo Fashion Week N51, dando asas à imaginação.
Para o nosso conforto, ironicamente, o Festival de Cannes mostrou que há um futuro fantasioso e, sobretudo, melhor.
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