Enquanto caminhamos para dias gelados, com a proximidade do inverno do Hemisfério Norte levando as pessoas cada vez mais para ambientes fechados, as fronteiras dos Estados Unidos são abertas para turistas estrangeiros. Ao mesmo tempo, os americanos voltam a viajar, o número de não vacinados segue alto e a OMS (Organização Mundial da Saúde) anuncia a chegada da variante ômicron.
É essa combinação de fatores bastante complicada que acompanho, com bastante temor, aqui em Nova York, onde vivo há alguns anos.
Na última semana de novembro, mais de 50 milhões de americanos viajaram para celebrar o Thanskgiving, o mais importante feriado nacional, deixando autoridades de saúde preocupadas com uma possível disparada de novos casos. Um dia antes do feriado, 92 mil pessoas testaram positivo para covid-19 e novas mil mortes foram contabilizadas — com previsões bastante sombrias até o final deste inverno.
Após a governadora de Nova York, Kathy Hochul, decretar estado de emergência e anunciar a nova variante no estado ("Nova York confirmou cinco casos da variante ômicron", disse na quinta, dia 2), hospitais já começaram a cancelar cirurgias eletivas e reservar leitos para receber pacientes com covid-19.
Na TV, vejo o presidente Joe Biden tentar acalmar a população, afirmando que ainda não é momento de entrar em pânico e que não fechará fronteiras internacionais. Biden ainda reforçou mais uma vez a importância da vacina e da continuidade do uso das máscaras.
Consegui me vacinar logo no início da campanha americana. Vibrei como se fosse uma final de Copa do Mundo. Na época, imaginei que todos fariam o mesmo e, rapidamente, estaríamos livre da pandemia. Para minha surpresa, o que vejo nos EUA é um país inundado por fake news e um embate político dividindo estados e cidadãos com opiniões divergentes sobre pandemia e vacinação.
Até agora, menos de 60% da população americana está completamente vacinada e os EUA detêm os piores recordes da covid-19: 48,8 milhões de casos e mais de 785 mil mortes, segundo a Johns Hopkins University. Mesmo com números assombrosos como esses, nada parece convencer os 40% de não vacinados a levantar as mangas das camisas finalmente.
Nova York, de cidade fantasma ao renascimento
Em Nova York, pude acompanhar de perto todas as etapas da pandemia. A chegada do vírus, as informações desencontradas, os produtos sumindo dos supermercados, a corrida por máscaras e produtos de limpeza, os hospitais lotados e a fuga de muita para cidades menores.
Nunca poderia imaginar a Manhattan fantasma que vi, sem ninguém nas ruas, Times Square vazia, as lojas chiques da Quinta Avenida cobertas com tapumes por receio de serem saqueadas. Hotéis, edifícios comerciais, shoppings, teatros, atrações turísticas, restaurantes... tudo foi fechado e a cidade só começou pouco a pouco a "renascer" graças às vacinas, no começo deste ano"
No verão americano, o governador de Nova York anunciou que os vacinados estariam dispensados do uso de máscaras. O estado parecia estar em festa, pessoas eufóricas comemorando como se fosse o fim da própria pandemia. Mas o vírus continuava circulando e não estabeleceram critérios para controle. Em estados como a Flórida os novos casos não paravam de aumentar.
Agora, finalmente, a cidade de Nova York volta a recomendar o uso de máscaras, ideia que deveria ser copiada em todo o país. Após uma longa espera, os EUA abriram novamente suas fronteiras para receber turistas internacionais vacinados, tentando escrever um novo capítulo para a indústria do turismo, que amargou um prejuízo de 300 bilhões de dólares desde o começo da pandemia.
De volta à estrada
Após minha terceira dose de vacina e quase 2 anos sem entrar num avião, foi num voo completamente lotado de Nova York para a Florida que fiz minha primeira viagem da pandemia — com direito a alguns passageiros sem máscaras ignorando completamente as regras nacionais, as ordens dos comissários e os olhares atravessados de outros viajantes como eu, que não tirei a máscara nem para beber água.
Ao chegar na Flórida, estado cujo governador emite constantemente comentários céticos em relação à vacinação e uso de máscaras, não vi uma única pessoa usando máscara nas ruas, bares, hotéis ou restaurantes. Eu, que obviamente continuava usando a minha, recebi o tempo todo olhares debochados"
Minha viagem continuou em um minicruzeiro inaugural desde e para Fort Lauderdale. Testes negativos de covid-19, comprovante de vacinação e máscara eram obrigatórios para embarcar. Mas as máscaras deram as caras em turistas e convidados somente no embarque e no desembarque do cruzeiro: durante os dois dias da viagem, os funcionários do navio foram os únicos a utilizá-las.
Com o aumento de novos casos até mesmo nos estados que mais vacinaram nos EUA, agora é mais que hora de (enfim!) imunizar crianças de 5 a 11 anos, apressar o reforço para os adultos vacinados e dar um jeito de convencer os não-vacinados que o vírus não vai demorar para alcançá-los — e, assim, continuar se espalhando por aí em ondas intermináveis.
Aguardamos ainda a aprovação de uso emergencial das novas drogas da Merck e da Pfizer (Molnupiravir e Paxlovid), que prometem reduzir a hospitalização e mortalidade em até 89%. Se aprovadas, prometem ser o maior presente de Natal para muitos americanos.
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