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Piazza della Transalpina, a fronteira marcada entre a Itália e Eslovênia

Placa na Piazza Della Transalpina - Getty Images/iStockphoto
Placa na Piazza Della Transalpina Imagem: Getty Images/iStockphoto

Da AFP

04/06/2020 13h46

O novo coronavírus trouxe de volta fronteiras que haviam desaparecido. Entre a Itália e a Eslovênia, os habitantes de duas cidades que funcionavam como uma agora trocam notícias e cumprimentos separados por uma cerca.

Com um muro improvisado como medida de segurança contra a pandemia da COVID-19, a eslovena Nova Gorica se separou de Gorizia, sua irmã italiana, um símbolo do amargo retorno das fronteiras entre os dois países.

Na região de Friuli-Veneza, Gorizia conta com 37.000 habitantes. Ainda menor, Nova Gorica tem 13.000 moradores. No papel, são duas comunidades que formam uma única aglomeração.

Aqui, seus habitantes geralmente atravessam a fronteira sem perceber, um ato que faz parte de seu cotidiano. A demarcação é invisível desde a adesão da Eslovênia à União Europeia em 2004 e, depois, ao espaço Schengen, em 2007.

Com a instalação do muro como medida preventiva à disseminação do novo coronavírus, de repente, familiares e amigos se viram isolados fisicamente.

Desde março, os residentes italianos e eslovenos não tiveram escolha a não ser se encontrar no centro da cidade, na Praça da Europa - Piazza della Transalpina, em italiano -, para trocar notícias através dessa barreira.

"Isso me lembra a era do Pós-Guerra, quando havia cercas de arame farpado aqui", disse um aposentado italiano à AFP na quarta-feira, chegando ao local apenas para ver tudo já tinha voltado ao normal.

Não, a cerca continua lá.

"É tão triste", desabafa este homem, em esloveno.

Ontem, a Itália reabriu suas fronteiras. Eslovenos e todos os residentes de países vizinhos poderão ingressar no território sem apresentar atestado médico, ou passar por uma quarentena.

O mesmo não vale para os moradores da Gorizia italiana, ainda considerados "persona non grata" na Eslovênia. As autoridades locais ainda não anunciaram um calendário para permitir as travessias.

Enquanto isso, cada um encontra sua maneira de permanecer por perto.

"As pessoas jogam badminton por cima do muro, comemoram aniversários, os amantes tomam café pela manhã", descreve o prefeito de Nova Gorica, o esloveno Klemen Miklavic.

- Valor da liberdade -Os italianos estão ansiosos para entrar na Eslovênia, onde a gasolina ou o corte de cabelo são mais baratos.

"Isso é um exagero!" - reclamam muitos.

"De repente, nós nos encontramos com um muro intransponível, que nos traumatizou", reclama o prefeito de Gorizia, o italiano Rodolfo Ziberna, que não quer novas barreiras mentais entre as duas comunidades.

Nesse período, "ritos" excepcionais foram impostos, como uma janela na cerca da Plaza de Europa, para trocar objetos e beijos. Bandeiras da UE também foram penduradas. Uma mensagem diz: "Em breve o muro cairá. Não nos esqueçamos, então, do valor da liberdade".

"Mostramos à Europa que a realidade é que há áreas urbanas transfronteiriças", diz Miklavic.

"Foi a base para os fundadores da UE na década de 1950", completa.

Ele mesmo organiza reuniões com seu colega italiano na praça.

Ziberna comenta: "Quando eu era jovem, quando atravessava a fronteira, dizia 'vou para a Iugoslávia'. Após sua dissolução, com a autodeterminação eslovena, minha filha diz apenas 'vou fazer compras'".