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Alta costura busca 'nova linguagem' em tempos de covid-19

Naomi Campbell desfila na Paris Fashion Week em fevereiro de 2020 - Kristy Sparow/Getty Images
Naomi Campbell desfila na Paris Fashion Week em fevereiro de 2020 Imagem: Kristy Sparow/Getty Images

Paris

06/07/2020 15h28

A moda entrou hoje em território desconhecido: pela primeira vez, a Semana de Moda de Paris começou em formato 100% digital, com o desafio de atrair todos os olhares em plena crise sanitária.

Na ausência de passarelas, público VIP e aplausos, as empresas se voltaram para a imaginação ou recorreram a figuras da sétima arte, como foi o caso da Dior, que contou com o cineasta italiano Matteo Garrone para filmar sua nova coleção, e de Iris Van Herpen, que fez da atriz Carice van Houten a protagonista de seu vídeo.

A maioria das marcas pertencentes ao seleto clube da alta costura, que se caracteriza pelo trabalho manual e pelo uso dos tecidos mais nobres, apresentará suas coleções até quarta-feira em uma plataforma digital aberta pela primeira vez ao público em geral (https://hautecouture.fhcm.paris/fr).

Porém, no primeiro dia, a maioria das empresas teve que se contentar em mostrar apenas alguns itens da coleção outono-inverno, e algumas até se limitaram a mostrar os esboços, como Schiaparelli. E é que o setor de luxo sofre como todos os outros o colapso brutal resultante do confinamento e enfrenta o futuro com muitas perguntas.

"São tempos difíceis para a nossa indústria. É impossível saber o que acontecerá a seguir. Portanto, temos que pensar de maneira diferente", disse a diretora artística da Dior, italiana Maria Grazia Chiuri, em uma reunião com jornalistas via Zoom. "Temos que encontrar uma nova linguagem", alertou.

- Formato miniatura -As primeiras palavras dessa futura linguagem foram do cineasta Matteo Garrone ("Gomorra", "Dogman"), com um vídeo de 10 minutos ambientado em uma floresta idílica, povoada por belas criaturas com cabelos compridos que desejam usar vestidos de alta costura da marca parisiense, apresentados em miniatura numa espécie de baú.

Chiuri "me deu a ideia para este filme quando vi os mini-vestidos no baú, já era como um conto de fadas", disse o cineasta.

"Foi um desafio gravá-lo em três semanas", em Roma: "Queria que fosse emocional e não cerebral, é hora de alcançar o coração", acrescentou Garrone. Uma aposta que funcionou a julgar pelo contador de visualizações da conta no Instagram da Dior: mais de 1,2 milhão nas duas primeiras horas.

Menor que o habitual, a coleção de 36 "looks" viajará em tamanho miniatura para vários cantos do planeta para os clientes que desta vez não puderam viajar para Paris para assistir ao desfile.

A ideia de enviar esses vestidos de 40 cm foi inspirada no "Teatro da Mora", um espetáculo itinerante com bonecas que servia para apresentar o know-how francês em matéria de confecção durante a Segunda Guerra Mundial.

Schiaparelli: coleção que ainda virá

A Schiaparelli abriu a semana com um breve vídeo, cujo protagonista é seu diretor artístico, o americano Daniel Roseberry. Sentado no banco de um parque em Nova York, o estilista desenha os esboços de uma coleção que, por enquanto, não foi capaz de confeccionar.

"A pandemia abalou todas as certezas. Não tendo uma equipe para esta coleção, tive que me apoiar ainda mais na minha imaginação", escreveu Roseberry em nota após apresentar o filme, no qual presta homenagem ao universo da fundadora da marca, Elsa Schiaparelli, tão próximo do surrealismo quanto "a época em que vivemos agora".

A holandesa Iris Van Herpen vestiu sua compatriota Carice Von Houten com um único vestido branco, no mais puro estilo arquitetônico da estilista.

Van Herpen, que se define como uma criadora "conceitual", admitiu a dificuldade de trabalhar durante o confinamento.

"Normalmente, não me sento para desenhar vestidos. Meu trabalho é mais experimental, com outras pessoas, testando os materiais", disse ela em entrevista publicada na plataforma digital. Mas "durante a pandemia, nem sequer tivemos acesso ao produto", comentou.

Mensagem de Naomi Campbell

A top britânica Naomi Campbell deu o tom político, exortando a indústria a começar a "impor a inclusão", no contexto do movimento "Black Lives Matter".

"Devemos impor a inclusão da multiplicidade de identidades que compõem nossos países", afirmou em mensagem postada na plataforma digital.

"É mais obrigatório do que nunca incluí-los permanentemente e não apenas temporariamente", acrescentou a top de 50 anos, vestindo uma camisa com o slogan "Phenomenally Black".

Na quinta-feira, a moda masculina assume por cinco dias, com novas marcas convidadas, como a do jovem estilista espanhol Archie Alled-Martínez.