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Empresa israelense quer comercializar gafanhoto como alimento 'sustentável'

A empresa Hargol transforma gafanhotos em alimento em pó para fazer barras energéticas, jujubas, fallafel (bolinhos de grão de bico) e biscoitos - Feisal Omar/Reuters
A empresa Hargol transforma gafanhotos em alimento em pó para fazer barras energéticas, jujubas, fallafel (bolinhos de grão de bico) e biscoitos Imagem: Feisal Omar/Reuters

Da AFP, em Golan Heights

03/08/2020 11h41

Uma empresa israelense aspira a ser a primeira a comercializar gafanhotos em larga escala e transformá-los em alimentos sustentáveis na Terra Santa e além. Quanto à questão de saber se os insetos ricos em proteínas são ou não kosher, a resposta não é direta.

Em um galpão que no passado servia de galinheiro, milhares de gafanhotos voam em pequenas gaiolas meticulosamente empilhadas.

Para Dror Tamir, CEO da Hargol, "os gafanhotos são a solução", garantiu à AFP durante uma visita às instalações da empresa, na parte das Colinas de Golã ocupada por Israel desde 1967 e posteriormente anexada. Quase 25 mil colonos israelenses vivem neste território.

Preocupado com o impacto do gado no meio ambiente, Tamir criou a empresa há seis anos e meio e gostaria que fosse "a primeira do mundo a produzir gafanhotos em escala comercial para fornecer uma fonte de proteína mais saudável e sustentável".

Por trás de sua ideia de fazer o maior número possível de pessoas comer esse inseto, há memórias de infância, quando ouviu histórias de gafanhotos que destruíram na década de 1950 os campos de kibutz onde foi criado. Mas, acima de tudo, lembranças de que os judeus de origem iemenita os degustavam com prazer.

Ciente de que esses insetos podem ser repulsivos, a Hargol (gafanhoto em hebraico) transforma o animal em pó para fazer barras energéticas, jujubas, fallafel (bolinhos de grão de bico) e biscoitos.

"Que nojo!

Com uma população global que pode chegar a 10 bilhões em 2050, alimentar o planeta se tornará um desafio, diz Ram Reifen, professor de nutrição da Universidade Hebraica de Jerusalém.

"O que tememos é a falta de fontes de proteína", explica à AFP, porque a pecuária, que consome muita água, será um problema crescente.

Antes de serem processados, assados ou fritos, os gafanhotos contêm mais de 70% de proteínas, mas também aminoácidos e outros nutrientes, diz Tamir.

"Eles têm tudo de bom, sem o mal", como gordura saturada e colesterol, acrescenta, e, portanto, poderiam substituir outras fontes de proteína, como a carne bovina.

Segundo ele, cerca de 2,5 bilhões de pessoas consomem insetos regularmente, principalmente gafanhotos.

"Mas quando se trata de atingir os consumidores norte-americanos e europeus, é muito difícil superar o fator 'que nojo'", declara Tamir, que em breve venderá gafanhoto em pó para fazer panquecas.

Alguns produtos concebidos nas Colinas de Golã estão sujeitos a restrições de exportação porque a comunidade internacional não reconhece a soberania de Israel na região.

Os gafanhotos de Tamir são criados nas Colinas de Golã e em outros lugares da Galileia, mas o processamento acontece em outras partes de Israel, explica, permitindo que ele contorne as restrições.

Bíblia

Sua empresa usa um argumento de venda original: os pequenos recipientes de plástico contendo gafanhotos cozidos e barras de cereal com pó de inseto ostentam a inscrição "Proteína Bíblica".

Gafanhotos peregrinos são mencionados no Antigo Testamento: uma das dez pragas do Egito infligidas por Deus ao faraó para obrigá-lo a libertar os judeus mantidos em escravidão.

Segundo o texto, enxames de gafanhotos devoravam toda a vegetação, causando a ruína do Egito.

Em Levítico, um dos cinco livros do Pentateuco, uma passagem afirma que algumas espécies de gafanhotos são kosher.

Tamir quer introduzir gafanhotos na culinária israelense, mas isso exigiria um certificado do rabino chefe atestando que é comida kosher.

O problema, de acordo com o rabino Eliezer Simcha Weisz, membro do conselho do Rabinato, é que a literatura rabínica europeia "indicou explicitamente que não temos tradição de comê-los".

Judeus no Iêmen e no norte da África os consomem há décadas, mas os judeus asquenazes (originários da Europa Central e Oriental) nunca os comeram.

O assunto está sendo debatido "amplamente" no Rabinato e a emissão de um certificado pode levar tempo, relata o rabino, que especifica no entanto que "o fato de a Torá dizer que é comestível parece indicar (...) que pode ser o alimento do futuro".

"Quem poderia acreditar!", exclama, rindo.

Enquanto aguarda autorização das autoridades rabínicas, Dror Tamir decidiu enriquecer a gama de produtos propondo um pote de gafanhotos com mel.

"De acordo com o Novo Testamento, João Batista costumava comer gafanhotos com mel", explica o empresário.