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Em tempos de covid, Dior também aposta no conforto

Dior na Semana de Moda de Paris com a coleção primavera/verão 2021 - Getty Images
Dior na Semana de Moda de Paris com a coleção primavera/verão 2021 Imagem: Getty Images

30/09/2020 09h54

No primeiro grande desfile da era covid-19 em Paris, a Dior percebeu as mudanças radicais na sociedade e apresentou uma linha feminina nitidamente fluida, transformando até mesmo sua icônica Bar Jacket para que as mulheres se sintam "em casa".

"Cortar é pensar". Essa ideia norteou a mão da diretora artística Maria Grazia Chiuri na concepção da coleção para a próxima primavera-verão, que certamente deve marcar uma ruptura com o mundo de ontem.

Em um ambiente eclesiástico, com modernos vitrais "patchwork" e um coral feminino cantando "Voceri" - música clássica associada a cerimônias fúnebres -, a italiana apresentou a sua "transformação dos códigos Dior para representar a contemporaneidade", como disse à AFP antes do desfile.

Proteção

"Hoje as pessoas têm uma relação diferente com o corpo, querem se proteger, é algo que até agora não tínhamos levado em consideração".

"Além disso, o estilo de vida é diferente, mais privado", refletiu a influente estilista. Por isso, a grande novidade desta coleção é a modificação do design da elegante Bar Jacket, tradicionalmente estruturada e ajustada ao corpo.

"A ideia era fazer uma jaqueta para se sentir em casa. Trabalhamos muito com tecidos macios e rústicos, como linho e malhas", explica a estilista.

A nova proposta é inspirada em um casaco desenhado por Christian Dior em 1957 para uma coleção feita no Japão.

É largo, comprido e um cinto permite ajustar ao gosto de cada mulher.

Cores suaves, tecidos vaporosos

A flexibilidade dá o tom da coleção: a peça não fixa a forma, mas envolve o corpo com fluidez. Vestidos esvoaçantes de musselina de seda, abertos em forma de V nas costas, bordados florais.

A camisa masculina transforma-se em túnica ou vestido e é associada a calças ou shorts de listras largas. Também é usada sob grandes casacos.

As cores são suaves, muitas evocam a terra. Chiuri trabalha com "colagem", uma técnica de tecelagem indonésia que dá um ar boêmio à coleção.

"Adaptação à dificuldade"

Enquanto a maioria das grifes apresentará suas coleções em formato digital durante esta semana de moda, a Dior, assim como Chanel e Louis Vuitton, decidiram retornar ao formato físico apesar de todas as limitações impostas pela situação de saúde na França, onde a covid-19 volta a avançar.

Chiuri defendeu que "o público faz parte do desfile" e que o fato de fazer mostra que "podemos nos adaptar às dificuldades" e procurar "outras soluções" em paralelo, como a sua divulgação nas redes sociais, inclusive pela primeira vez no Tik Tok.

Mas a indústria da moda também não escapou do novo normal, e o desfile em uma pequena tenda no Jardin des Tuileries foi uma prova disso.

A Dior teve que se contentar com um público de cerca de 300 convidados, longe de 1.400 - incluindo atrizes, modelos e outras celebridades de todo o mundo - que costumava receber no Museu Rodin.

Mas os presentes puderam, pela primeira vez, observar o desfile à vontade, devido ao distanciamento social obrigatório, e vivenciaram algo inédito: aguardaram apenas alguns minutos pelo seu início.

A cerimônia também foi encerrada de forma inesperada, com um público que se levantou com uma grande faixa proclamando "somos todos vítimas da moda".

A ação foi reivindicada pelo grupo ambientalista Extinction Rebellion.