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Transformar sem demolir: dupla vence o maior prêmio da arquitetura mundial

Criada por Jean-Philippe Vassal e Anne Lacaton, "Maison Latapie" é uma residência de família construída em 1993 em Floirac, perto de Bordeaux, que se tornou emblemática de uma casa espaçosa e barata - Reprodução
Criada por Jean-Philippe Vassal e Anne Lacaton, "Maison Latapie" é uma residência de família construída em 1993 em Floirac, perto de Bordeaux, que se tornou emblemática de uma casa espaçosa e barata
Imagem: Reprodução

Da AFP

17/03/2021 11h02

O Pritzker, o prêmio de arquitetura de maior prestígio do mundo, foi concedido nesta terça-feira (16) à dupla francesa Jean-Philippe Vassal e Anne Lacaton, criadores de espaços acessíveis e ecológicos que priorizam o bem-estar familiar.

Vassal, de 67 anos, e Lacaton, 65, - parceiros no trabalho e na vida - foram premiados pela transformação de casas urbanas em espaços sustentáveis e agradáveis com um orçamento modesto.

Jean-Philippe Vassal e Anne Lacaton - Reprodução - Reprodução
Jean-Philippe Vassal e Anne Lacaton
Imagem: Reprodução

"As esperanças e sonhos modernistas de melhorar a vida de tantas pessoas se revitalizam em seu trabalho, que responde às urgências climáticas e ecológicas do nosso tempo, bem como às urgências sociais, particularmente no âmbito da habitação urbana", afirmou o júri.

Vassal e Lacaton "conseguem isso por meio de um poderoso senso de espaço e de materiais que criam uma arquitetura tão forte em suas formas quanto em suas convicções, tão transparente em sua estética quanto em sua ética", acrescentou.

Os arquitetos parisienses, que ganharam o prêmio nacional francês de arquitetura em 2008, ficaram famosos com a "Maison Latapie", uma casa de família construída em 1993 em Floirac, perto de Bordeaux, que se tornou emblemática de uma casa espaçosa e barata.

Muito diferente de uma casa tradicional de subúrbio, os fundos da casa se assemelham a um galpão: painéis de policarbonato transparentes e retráteis permitem que a casa seja banhada por luz natural, ampliam os cômodos e facilitam o controle da temperatura.

Foi neste projeto que a dupla usou pela primeira vez uma tecnologia de gases de efeito estufa, instalando um jardim de inverno.

Os sistemas derivados da horticultura são "extremamente inteligentes para brincar com o sol, ou com o clima, em termos de ventilação, ou de suprimento solar", disse Vassal em uma entrevista à AFP.

O júri também os homenageou por "terem proposto uma definição precisa da própria profissão de arquiteto".

A dupla se conheceu quando ambos estudavam na escola de arquitetura de Bordeaux, onde se formaram em 1980.

Vassal e Lacaton dizem que se inspiram na arquitetura dos países africanos para suas casas espaçosas e acessíveis e são a favor de transformar e melhorar as casas existentes em um ambiente urbano, em vez de substituir edifícios antigos por novos.

"É tão violento, tão horrível ter vivido em um lugar por 10 anos e de repente ver desaparecer uma casa onde morava um amigo, um vizinho", disse Vassal.

"Para que possamos manter as pessoas ali e, do que já existe, produzir casas que o padrão não consegue produzir com o mesmo nível de qualidade, gastando metade do dinheiro", acrescentou.

Pandemia

Tour Bois Le Pretre - Reprodução - Reprodução
Tour Bois Le Pretre
Imagem: Reprodução

A dupla aplicou esse princípio em 2011 ao Tour Bois Le Pretre, um conjunto de 100 unidades habitacionais construídas em Paris no início dos anos 1960.

Em colaboração com Frederic Druot, Lacaton e Vassal aumentaram a área de superfície e melhoraram o conforto dos apartamentos removendo a fachada de concreto original e adicionando extensões aquecidas, estufas e varandas bioclimáticas.

Diante de investidores imobiliários que buscam ganhar dinheiro com o aumento dos preços por metro quadrado, Lacaton diz que ela e Vassal estão tentando promover a ideia de que o espaço impacta a qualidade de vida e a coexistência pacífica entre familiares e vizinhos.

A pandemia de coronavírus fortaleceu sua posição, à medida que as pessoas passam mais tempo em casa.

"Vimos situações familiares extremamente tensas em prédios onde fizemos mudanças, porque o espaço em si era muito apertado", disse Lacaton à AFP.

"Quando a gente consegue afrouxar isso, para dar mais espaço a todos, as situações ficam mais relaxadas, as pessoas ficam mais criativas, mais abertas, convidam os vizinhos, convidam os amigos das crianças".

A dupla não aplica sua visão apenas a residências: a renovação do Palais de Tokyo, concluída em 2012, transformou o museu parisiense em um enorme espaço de arte contemporânea.

Palais de Tokyo - Reprodução - Reprodução
Palais de Tokyo
Imagem: Reprodução

Lacaton é a sexta mulher a ganhar o Pritzker em mais de 40 anos de história do prêmio.

A primeira a vencer foi a anglo-iraquiana Zaha Hadid, em 2004. No ano passado, as irlandesas Yvonne Farrell e Shelley McNamara foram a primeira dupla feminina a vencer o Pritzker.

Concedido desde 1979, o prêmio consiste em US$ 100.000.