Criticado certificado sanitário entra na vida diária dos franceses
Criticado nas ruas mas apoiado pelo Conselho Constitucional, o certificado sanitário entrou em vigor nesta segunda-feira (9) na vida diária dos franceses, para lutar contra a pandemia da covid-19, que não dá trégua.
Para entrar em bares, restaurantes, cinemas, teatros, hospitais, trens de longa distância, ou mesmo para tomar café na área externa de um estabelecimento, será necessário apresentar o certificado.
O governo estabeleceu uma semana de tolerância para que as pessoas responsáveis pelos controles na entrada dos estabelecimentos se acostumem com a nova ferramenta, que existe no formato de QR code.
Esta é "uma restrição a mais", admitiu o porta-voz do governo Gabriel Attal, indispensável no momento em que a situação sanitária permanece grave.
De acordo com dados oficiais, no sábado (7), o país tinha 1.510 pacientes em UTI, contra 1.099 na semana anterior. O número de hospitalizações passou de 8.368 na sexta-feira (6) para 8.425, um dia depois.
"O certificado e o avanço da vacinação devem evitar que tenhamos outros toques de recolher e confinamentos", explica o ministro da Saúde, Olivier Véran.
Vários decretos e ordens, publicados no domingo (8) no Diário Oficial, apresentam detalhes práticos sobre o certificado.
Para ser válido, o certificado, que já está em vigor em vários países europeus, deve apresentar o comprovante da vacinação completa, um documento de que a pessoa superou a doença com um teste positivo de entre 11 dias e seis meses, ou um teste negativo de menos de 72 horas.
"Magma de antivacinas"
Não será necessário apresentá-lo para visitar o médico da família, mas será necessário para entrar nos hospitais, "embora em nenhum caso deva representar um freio" para o atendimento de urgência, lembrou o ministro Véran.
Quando os cafés abriram as portas nesta segunda-feira foram observados os primeiros sinais de frustração entre os donos de estabelecimentos, que enfrentaram vários meses de fechamento.
"Eles não têm o certificado sanitário, e não há nada que eu possa fazer", disse Mirela Mihalca, ao apontar para dois clientes que entraram em um café do centro de Paris, mas aos quais ela se negou a servir.
"Alguns entendem rapidamente, outros não. Vai ser difícil, não somos a polícia", desabafou.
As novas regras entram em vigor, apesar dos protestos contra o certificado e contra a vacinação obrigatória para profissionais da saúde. No fim de semana, as manifestações reuniram em torno de 237.000 pessoas em todo país — 17.000 em Paris —, segundo o Ministério do Interior.
Muitos manifestantes são contrários à obrigatoriedade do certificado, que veem como uma "obrigatoriedade de vacinação disfarçada". Eles consideram a coerção desproporcional e temem que um empregador possa suspender o contrato de trabalho de um funcionário que não apresentar o documento.
O governo prefere destacar os vacinados.
"O rosto de uma França que luta é o de milhões de franceses que respeitaram os gestos de barreira, se preocupam com seus parentes, que foram vacinados. Deles, infelizmente, fala-se muito menos do que sobre o magma antivacina, anticiência, anti-Estado (...) Eu entendo o medo, você tem que fazer de tudo para tranquilizar. Mas chega um momento que basta", disse Véran.
Em um café do centro de Bordeaux, o gerente David Fourton descreve a nova regra como uma "confusão", que exigirá a contratação de mais uma pessoa para fazer os controles de clientes.
"E, se recusarmos os clientes, qual será a reação? Com certeza vai complicar as coisas, e corre o risco de provocar o caos no momento de maior movimento", completou.
No sábado, o país alcançou a marca de 44,6 milhões de pessoas com pelo menos uma dose (66,2% da população) e 37 milhões receberam as duas doses (55,1% da população).
O Executivo espera chegar a 50 milhões de vacinados com uma dose até o fim de agosto. Desde o discurso do presidente Emmanuel Macron em 12 de julho, mais de 6,8 milhões de pessoas agendaram a primeira dose, informou o gabinete do chefe de Estado.
Durante a semana, Macron publicou 12 vídeos nas redes sociais para responder as perguntas dos franceses e incentivar a vacinação. O material postado teve mais de 60 milhões de visualizações até o momento.
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